Foto: Guilherme Bittar/AFP

No sétimo dia da morte de Nego Beto, a rede de hipermercados Carrefour faz demagogia anunciando em comunicado veiculado ontem, quarta (25), que as lojas não abririam hoje pela manhã e que a unidade em que João Alberto Freitas foi espancado e assassinado por um segurança e um policial ficaria fechada durante todo o dia.

Nesse comunicado, o Carrefour também disse que o faturamento dos próximos dois dias, quinta e sexta, será somado ao resultado das vendas de 20 de Novembro e fará parte do irrisório fundo que intitula Fundo de Combate ao Racismo e Promoção da Diversidade. A arrecadação de R$25 milhões desse fundo escancara a demagogia da rede de hipermercados, porque, enquanto isso, a empresa distribui R$482 milhões a acionistas.

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A hipocrisia do Carrefour se demonstra pelo histórico de atrocidades desumanas que aconteceram em seus mercados, pela discrepância do fundo de suposto combate ao racismo e também pela sua sede de lucros.

No terceiro trimestre de 2020, alcançou lucros históricos, mesmo com aumento dos preços e pandemia, com as vendas do grupo no Brasil atingindo R$18,7 bilhões, um crescimento de 29,9% (26% no critério que exclui do cálculo unidades inauguradas em 2020, em relação ao mesmo período de 2019). Tiveram crescimento de 73,1% no lucro líquido, na comparação com o terceiro trimestre do ano anterior, registrando R$ 757 milhões.

No comunicado, o Carrefour diz reforçar a “conscientização antirracista e tolerância zero a qualquer discriminação”, no intuito de querer encobrir sua sede de lucro com uma máscara antirracista fora da realidade. O histórico do Carrefour é garantia de seus lucros em detrimento de vidas negras e trabalhadoras, como as de João Alberto, de Moisés Santos, trabalhador de 53 anos do Recife (PE), que sofreu um ataque cardíaco, foi a óbito, e o mercado escandalosamente deixou seu corpo em meio à loja. Quem paga os lucros do Carrefour são trabalhadoras e trabalhadores brasileiros, de maioria negra, com o aumento dos preços dos alimentos, que amarga o desemprego, privatização, ataques contra a saúde e a educação e a todos os serviços públicos, enquanto Bolsonaro diz: “Pergunta para o vírus”, ao ser questionado sobre a prorrogação do insuficiente auxílio emergencial.

No início da pandemia, Abílio Diniz, presidente da rede no Brasil e França, se preocupava com a crise que podia instaurar em seus lucros, e dizia que a economia no país não podia parar por conta da covid-19, mantendo muitos dos trabalhadores em exercício sem EPI.

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A luta por justiça por João Alberto, num país em que a juventude negra vive espremida entre as balas da polícia, a violência racista e o desemprego, só acontecerá de fato confiando em nossas próprias forças, contra esse sistema de exploração e opressão que é o capitalismo.

A demagogia do Carrefour serve para silenciar a fúria demonstrada nas ruas no dia 20, assim como na inspiração da força da luta negra dos EUA. Somente as forças dos trabalhadores, dos negros, mulheres e LGBTs para enfrentar Bolsonaro, Mourão, e todos os golpistas, que querem um Brasil onde sejam os trabalhadores, negros e mulheres que paguem as contas da crise, poderá impor que nenhuma vida valha menos do que o lucro dos capitalistas. Justiça por João Alberto e todas as vidas negras perdidas nas mãos da polícia e dos racistas!