A aprovação de Bruna rendeu muitas notícias e comentários nas redes sociais, alguns parabenizando e colocando a importância dos negros adentrarem as portas das universidades públicas, outros usando o exemplo de Bruna para justificar argumentos meritocráticos, como se o esforço individual pudesse romper as barreiras sociais e raciais.

Em vários jornais, como o G1 e a Folha de S.Paulo, a história de Bruna é contada apenas como uma jovem que pelo seu esforço, passando por diversas necessidades materiais, conseguiu alcançar seu objetivo de cursar medicina. Mas a história de Bruna vai muito além. Segundo a redação do Pragmatismo Político, a jovem em entrevista ao portal Saúde Popular, rebateu os argumentos do “quem quer consegue”, dizendo que a meritocracia é uma mentira, e que vários jovens da periferia não conseguem entrar na universidade porque não tem nenhuma oportunidade para isso.

“A meritocracia é uma falácia. Eu consegui porque tive ajuda. Não dá para igualar as pessoas que não tiveram as mesmas oportunidades. Eu me esforcei muito, sim, mas não consegui só por causa disso, eu tive muito apoio. E é isso que a gente tem que dá para quem não tem oportunidade. A gente perde muitos gênios por aí, inclusive nas favelas porque não podem estudar. E eu fiquei com muito medo de que minha postagem servisse de argumento para a meritocracia. E eu vi comentários que se baseavam nisso. Mas eu sabia que ia acontecer. Eu quero frisar bem que a questão importante é a oportunidade. Eu consegui porque tive oportunidade. Eu tenho visto minha história como apoio à meritocracia e fico muito triste com isso.”

Só na Fuvest de 2017, foram mais de 136 mil inscritos para 8.854 vagas, ou seja, apenas 6,5% dos candidatos vão conseguir uma vaga para cursar o ensino superior público, e a grande maioria dos estudantes não serão negros e pobres como Bruna, mas a grande mídia ainda utiliza o exemplo e a história da jovem como regra e não como exceção, e quer justificar os argumentos meritocráticos e a falta de cotas étnico-raciais na USP.

Bruna foi mais uma jovem que conseguiu furar o filtro social e racial que é o vestibular, mas milhares ficam de fora todos os anos, mostrando que a universidade que é pública, paga com o dinheiro da população, na verdade não é para todos. E a reitoria da USP, assim como da Unicamp, junto com Alckmin insistem em não adotar o sistema de cotas étnico-raciais, porque querem a universidade cada vez mais branca e servindo aos interesses das empresas e não da população.

Nós da Faísca, defendemos a implementação imediata das cotas étnico-raciais proporcionais ao número de negros por Estado, e que a barreira que impede a juventude negra e pobre de entrar na universidade pública acabe. A educação deve ser pública, gratuita e de qualidade para todos, por isso defendemos o fim do vestibular e a estatização das universidades privadas.