Foto: Marcelo Odebrecht, presidente da Odebrecht, único empresário envolvido até agora preso.

Das 15 maiores empreiteiras do país, 9 delas estão envolvidas nos escândalos de corrupção. Nos últimos dois anos, muitas entraram em recuperação judicial e abandonaram obras. Em 2013, antes do início das operações de Sergio Moro, o faturamento das 15 maiores empreiteiras do país somavam mais de R$ 50 bilhões; ano passado o faturamento total caiu para cerca de R$ 30 bilhões. Tais informações podem ser vistas nessa matéria que recentemente saiu no Estadão.

Diante dessa crise, pequenas e médias empreiteiras estão surgindo com força. A Paulitec, por exemplo, subiu 17 posições no ranking de construtoras no ano passado. A gaúcha Tonielo Busnelo obtiveram aumento de 18% na receita do ano passado, alcançando um montante de R$ 720 milhões.

Respeitando a máxima burguesa de “a crise cria oportunidades”, essas empreiteiras aproveitam a crise iniciada pela Lava-Jato não para reconfigurar as relações entre os governos e as empresas da construção civil de maneira idônea ou qualquer outra fantasia similar, mas sim para ocupar o espaço que gigantes como Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e tantas outras ocupam.

As licitações no Brasil, fraudulentas e superfaturadas, são uma das maneiras mais tradicionais de se perpetuar a corrupção ativa. A própria Tonielo, por exemplo, já foi denunciada em Caxias do Sul pelo superfaturamento de uma obra na cidade.

Fenômenos como esses seguem o conselho do aristocrata francês do século XVII, La Rochefoucauld, que disse: “se há sangue nas ruas, compre propriedades”. Se há crise, faça licitações. Enquanto isso os trabalhadores da construção civil seguem sofrendo com as condições péssimas de trabalho, a população segue enganada com a continuação das licitações fraudulentas e superfaturadas e o “partido judiciário” vai mostrando suas contradições pela seletividade explícita.

De que vale substituir uma Odebrecht por uma Toniolo Busnello? O objetivo das construtoras é ampliarem incessantemente seus lucros, seja pela via legalizada ou ilegal. Aqui se opera uma lógica onde se retira um mal para dar lugar a outro mal, talvez menor, talvez não. A questão é que as movimentações do judiciário não visam o fim da corrupção.

Mas como já denunciamos inúmeras vezes no esquerda diário, a Lava-Jato é funcional para alguns donos do mundo. Como um dos elementos mais ativos do golpe institucional, a operação de Sergio Moro trás interesses volumosos do capital estrangeiro. Não à toa empreiteiras estrangeiras, como a gigante sueca Skanska, e a francesa Technip, mesmo com denúncias comprovadas, se mantêm ilesas.

Esclarecer os objetivos da Lava-Jato para todos é imprescindível. Isso não significa se ausentar do combate a corrupção. Pelo contrário, a única forma de levá-lo a frente até o final é a partir de júris populares, com a força dos trabalhadores e a da juventude nas ruas, para impor uma reconfiguração do sistema a partir de uma assembleia constituinte livre e soberana. Ligar a luta contra Temer, os ajustes e a corrupção só pode encontrar uma saída através de um caminho independente como esse.