“Exigimos a liberdade daqueles que estão presos pelos seus ideais”. “Frente ao golpe de Estado que estamos vivendo, agora mais do que nunca precisamos romper com essa falsa normalidade: paremos o país de forma iminente. Fazemos um chamado para participar das diversas mobilizações descentralizadas a partir da própria segunda-feira na primeira hora da manhã. A partir de quarta-feira devemos dar um passo a frente: bloqueemos a economia, ainda que o Estado espanhol tente impedir o exercício do nosso direito de greve”.

Assim termina o comunicado realizado no último sábado, 4 de novembro, no IV Encontro de coordenação dos Comitês de Defesa da República de toda Catalinha no qual participaram representantes de 172 comitês de toda a Catalunha, quase o dobro que no primeiro encontro em outubro.

No mesmo propõe “Aturem la falsa normalitat, surt al carrer, busca el teu CDR i participa” (Paremos a falsa normalidade, saia às ruas e procure seu CDR e participe).

O primeiro desafio é se reorganizar pela liberdade dos presos políticos, enfrentar o 155 e as medidas repressivas do Regime de 78 e “defender a República”. Para isso propuseram ações que ajudem a motorizar a greve convocada para a próxima quarta-feira, 8 de novembro, coordenando-se com as entidades soberanistas, ANC e OMNIUM, assim como com os sindicatos “comprometidos” com a greve. Estas ações começaram na segunda-feira pela manhã com fechamentos de ruas e rodovias.

Qual greve precisamos?

Muitos são os debates ocorrendo nas assembleias: Qual tio de greve fazer? Como conquistar apoio massivo? Há um grande acordo em que a greve deve “bloquear a economia” e não fazer uma paralisação civil como propuseram as entidades e partidos soberanistas no último 3-O. Junto à CCOO e UGT. Contrariamente, a jornada de greve e mobilização do 3-O superou esta proposta, parando setores chave como o transporte, assim como numerosas empresas contra a patronal, ainda que sem o apoio das direções da CCOO e UGT.

Ainda que os obstáculos para levá-la adiante sejam vários, os CDR se propuseram a realizá-la da mesma forma frente ao clamor de milhares de pessoas por “Vaga general ja” (Greve geral já) nas manifestações pela liberdade dos presos políticos, apoiado pelas entidades soberanistas como Ómnium e a ANC.

Um dos problemas é que está convocada por somente um sindicato, a intersindical CSC, que é parte da esquerda sindical catalã independentista que no último 3 de outubro convocou uma greve geral para repudiar a repressão do 1-O.

Frente à possível criminalização, a CSC declarou que as greves por motivos políticos “estão proibidas”, mas destacaram que a convocatória é completamente legal, destacando que a mesma está relacionada com “a regressão nos direitos trabalhistas, a precariedade, a falácia da saída para a crise”, entre outras razões.

A CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores) da Catalunha, de ideologia anarcosindicalista, não convocou para a greve, alegando motivos legais ou alta de tempo em um primeiro comunicado no qual chamam “o conjunto dos filiados e filiadas, a todas as seções sindicais e sindicatos da CGT na Catalunha a refletir sobre a gravidade desta situação e a valorizar libremente, atuando com consciência, sua participação na greve geral do próximo 8 de novembro”. É assim que se começaram a somar à convocatória federações e seções sindicais como educadores, metalúrgicos, entre outros. Uma posição titubeante que tira força da convocatória dentro da CGT Catalunha.

Tampouco convocam a IAC (Intersindical Alternativa de Catalunya), a COS (Coordinadora Obrera Sindical), ainda que tenham comunicado que apoiariam a greve e chamado à participar. A CNT (Confederación Nacional del Trabajo) e Co.bas ainda não se pronunciou.

Diferentemente da greve do 3-O, a esquerda sindical se preparou poucp e tarde frente à grave situação e o ataque do Regime. Isso é um obstáculo para garantir uma greve que paralise toda a Catalunha, porque será bem difícil que se convocem assembleias nos locais de trabalho para debater democraticamente como e porquê fazer greve; coisa que por si só as direções da CCOO e UGT já deixaram de fazer há décadas, ligado a que novamente nem chamam, nem apoiam a greve.

Inclusive se rechaçou convocar a greve geral na Taula per la Democracia para “não prejudicar a economia”. no perjudicar a la economía”. A propósito, o dirigente da Catalunha em Comú, Xavier Domènech, também desmarca argumentando que não será nem “massiva”, nem “inclusiva”.

O grande desafio da esquerda sindical era, frente tamanho ataque do Regime, garantir a greve do 8N e ajudar na massificação, extensão e coordenação dos Comitês de Defesa da República em bairros, locais de trabalho e estudo, promovendo assembleias nos locais de trabalho para debater como preparar um plano de luta operária e popular. A única maneira efetiva de derrotar o golpe institucional do PP e da coroa, apoiado pelo PSOE e Cs e exigir a liberdade dos presos políticos.

Quais reivindicações?

Outro dos debater em curso é como fazer com que a classe trabalhadora se transforme no principal protagonista da luta democrática do povo catalão, começando com participar massivamente da greve. É importante considerar que setores importantes são indepedentistas e não confiam em uma República dirigida pelo Junts pel Sí, ou seja, pelos mesmos partidos que organizaram brutais cortes e privatizações que estão sendo pagas pela maioria dos trabalhadores e dos setores populares.

A respeito disso, em alguns CDR onde os militantes da CTR estiveram presentes, junto a outros ativistas defendemos a necessidade de incorporar as demandas sociais à demanda central de lutar pela liberdade das presas e presos políticos e enfrentar a repressão. A única maneira de que a classe trabalhadora abrace a causa democrática do pobo catação, contra as medidas do 155 do Regime de 78 e que além disso os CDRs sejam organizados nos seus locais de trabalho.

Um exemplo disso é que o CDR de Nou Barris que já incorporava as demandas sociais às democráticas com o lema por um “Sim de classe”. Ou o de Horta-Guinardó, onde se votaram para a greve do 8N demandas como:

Construamos uma República da classe trabalhadora

Pela anulação da Reforma trabalhista do PP (2012)

Pelo aumento do salário mínimo interprofissional

Basta de precarização do trabalho e terceirizações

Basta de privatização dos serviços públicos

Defendemos as instituições democraticamente eleitas

Exigimos a liberdade dos presos políticos

Denunciamos o Estado fascista e repressor

Apesar de não compartilharmos do projeto de formar um novo Estado independente, ainda menos o Estado capitalista proposto pelo Junts pel Sí, consideramos imprescindível defender o direito a que se cumpra a vontade majoritária expressa pelo povo catação, por isso defendemos que se constitua uma república independente.

Ainda assim, não acreditamos que sob a hegemonia política dos representantes históricos das grandes empresas e famílias da burguesia catalã possa ser levada adiante, porque para isso é necessária a mobilização da única classe que pode fazer tremer a burguesia e seu tão “amarrado e bem amarrado” Regime de 78: a classe trabalhadora.

Por isso é indispensável decidir como resolveremos as grandes demandas sociais e democráticas pendentes, desde a luta contra o modelo de “democracia para ricos” da qual os convergentes tem sido parte, até acabar com o desemprego dividindo as horas de trabalho, conseguir serviços públicos e gratuitos financiados com impostos aos ricos ou a nacionalização dos bancos e das grandes empresas.

Para que a luta em curso possa abrir caminho para um verdadeiro processo constituinte, onde toda esta agenda possa ser debatida, é importante aprofundar a autoorganização operária e popular, independente dos partidos capitalistas, para combater a repressão e que a partir dele se determine qual deve ser a agenda completa pela qual lutar. Este é um grande desafio para os CDR, para qual é necessária uma filme aliança com a classe trabalhadora.

Qual República?

São muitas as vozes que, ainda que defendam ativamente o direito de decidir da Catalunha e lutem pela liberdade dos presos políticos e as medidas repressivas do 155, não esperam nada da República catalã dos partidos capitalistas.

Isso leva a um debate sobre qual direção o movimento democrático atual precisa. Para nós é necessário construir uma direção a partir da classe trabalhadora e dos setores populares que seja alternativa à direção sua burguesa. E assim abrir o caminho para conquistar uma República catalã socialista, da classe trabalhadora frente ao que oferece a direção do processo.

Algo que somente se pode realizar em total independência e combate contra a própria burguesia catalã e em uma luta comum com o resto dos trabalhadores e setores populares do Estado contra o Regime de 78 e os capitalistas. Um mesmo combate que poderia colocar as bases para uma livre federação de repúblicas que não seriam do IBEX35 [nome dado à bolsa de Madri] ou do Círculo de Economia, mas sim das e dos trabalhadores.