"Qualquer um que tentar fazer isso se verá em rota de colisão com uma grande muralha de aço forjada por mais de 1,4 bilhão de chineses", disse Xi Jinping durante o evento que comemorou o 100º aniversário do Partido Comunista Chinês, pois “os chineses nunca permitirão intimidação, opressão ou subjugação estrangeira”. No caso, esse é um claro recado ao Ocidente, em especial aos EUA, para que não atrapalhem seus planos.

Essa data histórica e o gigantesco evento são parte da resposta política chinesa às recentes disputas geopolíticas. Biden intensificou o tom contra o gigante asiático e elegeu o país como a principal ameaça a sua hegemonia imperialista - como fez no documento de segurança nacional dos EUA em março. A retomada da OTAN e o alinhamento do G7 para endurecer a mão em relação à China são sintomáticos: a guerra comercial, a disputa tecnológica e geopolítica são a expressão de que, em uma época de crise da hegemonia estadunidense, a China não pode avançar.

Trata-se de um verdadeiro jogo de xadrez. Ainda que atualmente nem China, nem Estados Unidos pretendem entrar em um confronto militar aberto, é evidente que as tensões militares vêm aumentando. "Resolver a questão de Taiwan e realizar a reunificação completa da pátria são as tarefas históricas inabaláveis do Partido Comunista Chinês e a aspiração comum de todo o povo chinês" - disse Xi Jiping em seu discurso. Taiwan é um entreposto estratégico dos EUA, produtor de semicondutores, é fundamental para a China e sua supremacia na região - e não parece que o PCCh esteja disposto a voltar atrás nesse quesito. Da mesma forma, o domínio do Mar da China Meridional é fundamental em termos de defesa e interesses geopolíticos; Japão, Austrália, Índia e EUA já retomaram o Quad, aliança bélico-militar no Pacífico, ao passo que a Rússia estreita laços com os chineses. Há uma escalada armamentista e os revolucionários devem reconhecer isso com clareza.

A irredutibilidade em relação à assimilação de Hong Kong ao modus operanti político de Pequim e as disputas na indústria militar e de alta tecnologia também são de extrema relevância. Não à toa, as ações na Bolsa de Valores da China fecharam em alta nesta quarta-feira, com os principais índices de tecnologia do país registrando seus maiores ganhos trimestrais em um ano com o suporte de Pequim e fortes expectativas de balanços. É uma mostra de que o mercado financeiro chinês está junto de Pequim e do Partido Comunista. Os bilionários das gigantes multinacionais como Huawei, Xiaomi (ambas privadas), agradecem.

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De conjunto, essas tensões renovam e dão vida a caracterização de Lenin da época imperialista como de crises, guerras e revoluções. Para enfrentar o imperialismo e a miséria capitalista em todo o mundo, é preciso confiar apenas na força da classe operária para construir a revolução socialista. O PCCh faz 100 anos, mas ele não é o mesmo partido fundado pela classe trabalhadora chinesa em 1921 no calor da Revolução de Outubro. Com a stalinização da Internacional Comunista e após a histórica e vitoriosa Revolução Chinesa de 1949, o PCCh é o partido - mesmo diante de inúmeras contradições internas nesse complexo processo - é o partido que conduziu, às custas da classe trabalhadora e dos camponeses pobres, a restauração do capitalismo na China.

O PCCh passou para o lado oposto da barricada, é hoje um partido de conciliação de classe e burguês, que diante do horizonte da guerra mantém os 1,4 bilhões de chineses sob a linha de produção (essa também de aço) da exploração do trabalho e da morte. Para combater o imperialismo, apenas a classe operária organizada em um partido revolucionário internacional, imbuída da tática e estratégia soviética e leninista é que pode dar um horizonte à humanidade: socialismo ou barbárie! Torna-se tarefa número zero dos revolucionários colocar de pé um movimento internacional pela reconstrução da IV Internacional de Trotski, o único partido que combateu o fascismo, imperialismo “democrático” e o stalinismo confiando apenas nas forças da classe operária internacional.

Dossiê: 100 anos da fundação do Partido Comunista Chinês