Ao todo, os contratos precários representam agora mais de 19% de toda a força de trabalho gaúcha com carteira assinada, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Isso quer dizer que, na prática, um a cada cinco trabalhadores está com o vínculo empregatício precário e afetado pela MP 936. Em todo o Brasil, mais de 8,1 milhões de trabalhadores estão com a suspensão ou redução da jornada corroendo suas rendas por culpa da MP, que o governo Bolsonaro e os governadores apoiaram com o discurso de que serviria para "garantir empregos e salvar a economia", mas que na verdade não garante estabilidade nenhuma e ainda facilita para as empresas demitirem.

O governo tenta fazer demagogia na defesa do emprego dos setores mais precários da classe trabalhadora, mas os dados decorrentes de suas medidas políticas escancaram que a vida dos trabalhadores nunca foi algo que o governo se preocupou, ainda mais em tempos de crise do coronavírus. Um dos setores que mais adotou em peso a medida foi o setor da indústria calçadista. A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) estima que 70% das empresas do setor, boa parte delas com sedes gaúchas, recorreram à MP. Entretanto, apenas no Rio Grande do Sul, mais de 10 mil trabalhadores do setor calçadista foram demitidos e largados à própria sorte com suas famílias na miséria, em meio a pandemia, para que seus patrões pudessem manter o lucro. Nacionalmente, as demissões apenas nesse setor ultrapassam 26 mil. Com a MP da Morte, o desemprego veio assombrar a vida dos trabalhadores junto com o vírus: somente em abril, o mercado gaúcho fechou 74,7 mil postos de trabalho formais!

Isso só escancara que quando Bolsonaro diz sobre “salvar a economia” não está se referindo a salvar empregos, a garantir que as famílias tenham comida na mesa, mas pelo contrário, a economia a qual se refere é a dos bolsos dos milionários, protegendo o lucro e as riquezas dos patrões. Caso, de fato, estes estivessem preocupados com os trabalhadores, estariam usando tudo aquilo o que lucraram por anos, às custas do suor e sangue desses trabalhadores, para arcar com essa crise. Todos esses dados mostram a faceta mais cruel dos governos e patrões, que em meio a uma pandemia que já matou mais de 30 mil pessoas (segundo os dados oficiais, distorcidos pela subnotificação), joga a população para a contaminação e para a miséria, sem a garantia nem de empregos, nem de testes para a Covid-19, nem de investimentos na saúde pública. A enorme diminuição da renda das famílias deixa os trabalhadores para enfrentar em uma guerra em dois campos de batalha: o primeiro sobreviver contra a doença e o segundo sobreviver a fome e ao desabrigo.

Para que os trabalhadores parem de pagar pela crise com as suas vidas, é necessária a revogação da MP 936, por uma lei que defenda os trabalhadores e não os capitalistas e que proíba as demissões, suspensões ou reduções salariais. Assim como também é necessária a revogação da reforma trabalhista, da previdência, e da lei da terceirização irrestrita. Todos os trabalhadores que não são de setores essenciais devem ser liberados com pagamento integral dos salários e direitos, assim como todos os do grupo de risco. Além da garantia de uma renda mínima para todos de 2000 reais para sobreviver em meio a crise. É preciso que o Estado garanta testes massivos para toda a população, além da estatização de todo o sistema de saúde privado centralizado sob controle dos próprios trabalhadores da saúde, que são os que estão na linha de frente no combate a crise do coronavírus.