Nesta sexta-feira (19), estudantes de psicologia, pedagogia, Ciências Sociais, História, Geografia e diversos cursos do prédio da Faculdade de Filosofia e Letras se reuniram para debater uma perspectiva revolucionária de combate as opressões.

Com abertura de Vanessa Oliveira, estudante e bolsista da CNPQ sobre "O Estudo da História da África e dos negros no Brasil" foi apresentado ao público uma reflexão sobre a prática dos professores no ensino básico, do despreparo dos profissionais apesar de haver uma lei ineficaz que garanta o ensino da história, da cultura e dos costumes da África e dos negros. Com relatos da experiências com a pesquisa, a estudante demonstrou como o racismo estrutural brasileiro é construído desde a infância a partir das escolas, como aparelho ideológico de transmissão da ideologia burguesa, da família, e as grandes mídias. Apontou, no entanto, que a luta para que todos se apropriem e conheçam a história de luta e de resistência é o primeiro passo para combater as opressões, dizer para as crianças contra a ideologia racista anti-negro que ser negro é ser lindo e que há referências negras que a história tradicional capitalista quis esconder. Também apontou a importância dos brancos se reconhecerem como brancos – ou seja, não camuflar as diferenças, mas partir delas - para poderem lutar contra o racismo ao lado dos negros e negras que não aceitarão mais sua opressão.

Lucy, estudante não-binária secundarista da EE Andronico, contou com muita emoção como o processo das ocupações das escolas transformou sua vida. A partir da sua vivência como LGBT desde os 15 anos, se deparou com uma triste realidade ainda muito comum entre nós, de desentendimento familiar, perseguição nas escolas e constantes ameaças. Contou sobre a campanha #EsquerdaArco-Iris à partir de sua dança no Acampamento de Secundaristas Anticapitalista organizado pela Juventude ÀS RUAS e de como foi receber comentários como "queimem esse menino", "viado tem que morrer", entre outros bizarros discursos homofóbicos e transfóbicos. Conclui contando a experiência de apoiar a luta dos operários da GM e de como se preparam agora com a volta as aulas para organizar um grêmio da ocupação combativo para que as escolas estejam a serviço do combate as opressões.

Marília Rocha, metroviária demitida política na greve de 2014 e militante do grupo de mulheres Pão e Rosas comentou sobre o surgimento da "Primavera das mulheres", com o despertar a partir das manifestações de Junho de 2013. Contribuiu para o debate apresentando a perspectiva que o grupo Pão e Rosas defende que não é a mesma de setores do feminismo que lutam contra os homens, mas pelo contrário, ao partir de uma luta contra o capitalismo, buscar tornar a luta das mulheres uma luta do conjunto da classe trabalhadora, de homens e mulheres explorados contra seus patrões, os governos e o Estado capitalista. Contou emocionantes experiências do elo entre oprimidos e trabalhadores, como a campanha que impulsionaram no Metrô de São Paulo contra a homofobia a partir de um caso de agressão de umhomossexual e a experiência de uma fábrica na Argentina chamada MadyGraft (antiga Donneley) hoje ocupada pelos operários e com a produção sob seu controle, onde os trabalhadores em meio a sua mobilização defenderam o direito de uma trabalhadora trans ter seu uniforme de acordo com seu gênero, o nome social e o uso do banheiro feminino, entendendo que a patronal usava desta opressão para dividir o conjunto dos trabalhadores.

Virgínia Guitzel, travesti e parte do Faísca Revolucionária e da Juventude do MRT, contou sobre os dilemas de ser transexual no Brasil. No país recorde de LGBTfobia, com 57 mulheres trans e travestis assassinadas em 26 dias de Janeiro de 2016, o capitalismo reserva apenas humilhações e sofrimento para esta população. Relatou o processo de mudança de nome e do problema da patologização que o Estado faz questão de reafirmar, mesmo contra o próprio laudo atestado pela sua psicóloga. Contra os políticos reacionários como Bolsonaro, Feliciano e Cunha, a travesti disse que é mais do que necessário construir uma nova juventude anticapitalista e revolucionária para impedir que a crise do PT abra espaço para estes políticos que só querem enriquecer. Ao lado dos milhares que tomaram as ruas em Junho de 2013 e dos secundaristas que ocuparão as escolas fez um chamado aos estudantes da Fundação Santo André a quebrarem a cabeça para pensar como colocar de pé uma juventude com bastante força na universidade e nas escolas de Santo André – e que seja um impulso para pensar no conjunto do país,que não aceite que os LGBT sigam tratados como doentes, que as mulheres sigam sendo assediadas, que os negros e negras ocupem os piores postos de trabalho e sigam na mira da polícia.

Depois da abertura, o debate ganhou cada vez mais vida com cada jovem que se levantava para contar seus casos de opressão, mostrando que aquele espaço não proporcionava apenas um debate político, mas também um espaço seguro e confortável para se discutir a vida e organizar a revolta e o medo cotidiano contra essa sociedade que nos faz sentir medo. Com mais de 15 intervenções, de jovens que participaram de grêmios nas suas escolas, secundaristas que viviam dentro das escolas casos de LGBThomofobia e racismo e mulheres que questionavam a hipersexualização das mulheres negras, entre muitos outros temas, comprovou-se a urgência de construir uma nova juventude revolucionária em todo o país hoje.

O Faísca Revolucionária fez o convite a todos os presentes à na próxima terça-feira, no prédio da FAFIL, reencontrarmos para debater o que tem que ser esta juventude e quais seus primeiros passos, a partir da campanha de solidariedade aos operários da Mabe, fábrica em Campinas e Hortolândia, ocupada pelos trabalhadores.