Entre 2015 e 2016, de acordo com especialistas de agências como a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), OMS (Organização Mundial de Saúde) e Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), o número de famintos aumentou em 38 milhões de pessoas. A última vez que um crescimento havia sido registrado foi em 2002. A fome ainda afeta 155 milhões de crianças que, diante da falta de alimentos, são mais baixas e menos desenvolvidas para sua idade. Esse é o primeiro informe mundial sobre a fome depois que a ONU adotou como meta erradicar a fome até 2030 no planeta. O aumento do problema, porém, revela que o desafio pode ser maior que o previsto.

Parte da explicação também está na explosão de conflitos regionais pelo mundo. De acordo com as entidades, o maior número de vítimas da fome está nessas regiões de conflito armado. Sudão do Sul, Nigéria, Somália, Iêmen e Síria estão entre os principais focos da fome. Dos 815 milhões de famintos no mundo, 489 milhões deles, mais da metade, vivem em zonas de conflitos.

Existe também o fator das mudanças climáticas para o aumento da fome. "Mesmo em regiões mais pacíficas, secas e enchentes ligadas ao fenômeno do El Niño, assim como a desaceleração econômica mundial, também tiveram um impacto na segurança alimentar", apontam os especialistas.

Crescimento da fome atinge América Latina

A fome é um dos elementos onde se vemos como os capitalistas querem fazer com que os trabalhadores e o povo pobre paguem pela crise, em sua forma mais literal e cruel, pagando com a própria vida. Na América Latina, que não registrava aumento da fome há mais de uma década, um dos principais fatores que levou ao aumento da fome foi a crise econômica.

"Existem sinais de que a situação pode estar se deteriorando, principalmente na América do Sul", aponta o informe das entidades internacionais. Em 2013, 4,7% da população da região era considerada como desnutrida, em 2015, a taxa já tinha subido para 5% e, em 2016, o total chegou a 5,6%. Mesmo estando distante da taxa de 12,2% em 2000, a situação preocupa.

O aumento mais significativo da fome foi registrado na Venezuela. A taxa da população que sofre com a desnutrição passou de 10,5% para 13%, entre 2005 e 2014. Isso significou um salto de 2,8 milhões para 4,1 milhões de pessoas afetadas. Esses números não incluem a situação de 2017, que deve ter piorado com a crise política e econômica profundas pelas quais passa o país.

No total, a América Latina conta com 42 milhões de pessoas que passam fome, contra 520 milhões na Ásia e 243 milhões na África. Em termos porcentuais, a América Latina registra 6,6% de sua população com algum grau de insegurança alimentar. Na África, a taxa é de 20%.

No que se refere à má nutrição severa, o problema passou a atingir 38 milhões de latino-americanos em 2016, contra 27 milhões em 2014. Somando o critério de "insegurança alimentar" de uma forma mais geral, o informe também destacou que o problema passou a atingir 6,4% da população latino-americana, contra 4,7% em 2013.

José Graziano, diretor da FAO e ex-ministro do governo Lula (PT) considera que a "desaceleração do crescimento, o desemprego, a queda do salário mínimo e a deterioração das proteções sociais" levaram ao aumento da fome no continente latino-americano. Sem citar textualmente o nome do Brasil, Graziano criticou "governos sul-americanos" pelo desmantelamento de programa sociais. "Talvez vejamos a volta da fome de locais onde estava erradicada", alertou. Segundo ele, enquanto houve crescimento econômico, países montaram redes sociais. "Com a crise, elas foram retiradas. Era para ter feito o contrário. Mas alegaram que não tinham condições econômicas para fazer isso", criticou.

No caso do Brasil, as entidades apontam no informe que a fome atingia 4,5% da população em 2004-2006, cerca de 8 milhões de pessoas. Em 2014-2016, ela seria de menos de 2,5%. Mas um documento enviado para a ONU há cerca de um mês e preparado por 20 entidades nacionais e internacionais alertou que existe um risco de que, para 2017, o País volte a fazer parte do Mapa da Fome.

"A América Latina foi afetada pela queda nos preços de commodities, arrecadação e crescimento. É sintomático que o panorama mostre aumento de fome na América do Sul, que era a região que ia mais adiante no combate", insistiu Graziano.

Desnutrição nos países pobres, obesidade no imperialismo

Enquanto a desnutrição é um problema principalmente nos países mais pobres da África, Ásia e América Latina, a obesidade cresce na Europa e na América do Norte. Hoje, são 641 milhões de adultos numa situação de obesidade em todo o mundo, o equivalente a 13% da população com mais de 18 anos. Outras 41 milhões de crianças com menos de 5 anos também são consideradas obesas.

Os dados mostram que a taxa de obesidade no mundo mais do que dobrou entre 1980 e 2014, atingindo em especial a América do Norte e a Europa. Nessas regiões, 28% dos adultos são considerados obesos, o equivalente a cerca de 370 milhões de pessoas, ou seja, aproximadamente 58% do total. Na América Latina fome e obesidade se combinam, e os números também são altos: 25% da população é considerada obesa. Na África os números apontam 11% de obesidade e na Ásia 7%.