Hoje, na USP, como é de praxe, entre os estudantes os que mais sofrem são os que mais necessitam do apoio universitário, ou seja, as mulheres, os negros e os filhos da classe trabalhadora. As vagas das creches foram cortadas, a permanência está cada vez mais precarizada e o acesso à universidade continua restrito pelo filtro social do vestibular, onde nem mesmo cotas raciais existem na USP.

O Reitor busca intimidar os trabalhadores através de um ataque violento que é o mandato de retirada do SINTUSP (Sindicatos de Trabalhadores da USP) de sua sede histórica no campus Butantã. Isso se insere na lógica de Zago, o Reitor da USP, quando declarou que era preciso “acabar com o sindicalismo na universidade”, buscando então atacar os direitos trabalhistas sem que haja nenhuma resistência sindical, se inspirando na universidade de Bolonha onde a maioria dos funcionários são terceirizados.

Além disso, os trabalhadores sofrem com uma profunda precarização de seus serviços, pela falta de contração que multiplica a carga de trabalho nos diversos postos da universidade. Com os professores não é diferente, e a contração está congelada, deixando vazias as vagas de diversos professores que se aposentam.

Para que os estudantes vençam e conquistem suas demandas, é fundamental a aliança com os trabalhadores da universidade, pois os ataques à ambos têm o mesmo horizonte privatista, e os trabalhadores universitários possuem em suas mãos as ferramentas fundamentais para derrotar a reitoria e seu projeto de ataques.

A resposta é a greve! Unificar com os secundaristas e as universidades!

Diante dessa situação, a greve surge como ferramenta de reivindicação e ação política, em busca de conquistar as cotas, a permanência e a abertura de contração de funcionários e professores.

Porém, infelizmente, nossa greve começa com uma cara corporativista que não poderá nos levar a vitória. A política levada à frente pelos membros da atual gestão do DCE nos separa dos secundaristas e do restante do país. Isso porque nossa greve se iniciou, por política conciliatória do DCE, sem se posicionar contra os cortes na educação. Essa demanda elementar é de fundamental importância para nos colocar ao lado dos secundaristas, o grande exemplo de nossa conjuntura, que derrotou o governo Alckmin e permanece em uma profunda luta pela educação pública. Não se posicionar contra os cortes na educação, tanto no estado de São Paulo, como em todo o país, é uma posição que só reforça a “bolha da USP”, que nos distancia da sociedade e dos secundaristas em luta. O corporativismo deve ser nosso principal inimigo nessa greve, pois nossas principais forças estão fora da universidade, sendo elas: os estudantes e professores da rede pública de ensino, além dos estudantes e trabalhadores da Unesp, Unicamp e universidades federais.

Por outro lado, os membros da atual gestão do DCE também se opuseram a sequer debater a posição dos estudantes da USP diante da conjuntura nacional. Justamente no dia em que o país sofreu um golpe institucional, que impõe um governo reacionário em busca de mais cortes sobre os trabalhadores e juventude. Esta postura abstencionista significa uma negação, por parte da entidade representativa dos estudantes, ao chamado que a história lhe faz: a partir desta greve, iniciada no mesmo dia do golpe, podíamos voltar a ter uma entidade que faz diferença na luta de classes do país, como já fizeram os estudantes da USP em outros momentos da história, por exemplo, na resistência à ditadura militar.

É preciso ficar claro que a repressão contra os secundaristas, ocorrida no dia seguinte da assembleia, só foi possível pela viragem de conjuntura que o golpe trouxe, que aprofunda características repressoras já existentes anteriormente, mas que através do aliado sanguinário de Alckmin, Alexandre de Morais, como ministro da Justiça, consolidam ainda mais a repressão como resposta aos movimentos sociais. Cada dia que passa, é mais urgente nossa unificação com os secundaristas e outros setores da educação em luta.

O caminho que pode nos levar à vitória, porém, foi apontado pelos estudantes do curso de Letras. Sua greve foi decretada contra os cortes na educação, e além da pauta ser de unificação com os secundaristas, o método também visa essa unificação, quando ocuparam o próprio prédio em busca da contratação de professores.

Este é o único caminho que pode servir como primeiro passo para uma greve geral da educação, aliando a greve na USP com a greve na Unicamp e sua ocupação de Reitoria, o Rio de Janeiro em luta, as Unesps e os secundaristas. Essa força entre os estudantes e os trabalhadores da educação pode deflagrar uma das maiores greves na educação da história recente, e colocar os governos ajustadores e golpista contra a parede para que a crise não seja paga pelos trabalhadores e a juventude.