Imagem: Fernando Frazão/Agência Brasil

O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) teve seu segundo dia de provas digitais neste domingo (7), sendo parte do projeto-piloto do governo para substituir a versão impressa nos próximos anos. Apesar de ser digital, a aplicação das provas é presencial, porém em laboratórios de informática espalhados pelas escolas do país.

A abstenção no primeiro dia do ENEM digital já havia sido grande, quando 68,1% dos inscritos não compareceram. Mas a abstenção do segundo dia conseguiu superar essa marca: 71,3% dos estudantes não fizeram a prova. Ao todo, 26.709 estudantes realizaram a prova, enquanto 66.370 não compareceram. As aplicações do ENEM impresso em janeiro também tiveram recorde de abstenção, com mais de 50% de faltas nos dois dias de prova.

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Mesmo com esses números alarmantes, o presidente do Inep, Alexandre Lopes, diz se sentir satisfeito com a aplicação do ENEM digital. “Como era nossa primeira aplicação, estamos satisfeitos com o resultado, porque conseguimos entregar o que propusemos, a participação no impresso, e digitação é opção do participante.”, disse ele.

O Ministro da Educação Milton Ribeiro já havia se pronunciado, colocando a aplicação da prova como “um sucesso”.

Essa visão de Milton Ribeiro e de Alexandre Lopes certamente não condiz com a situação dos milhares de jovens das escolas públicas que precisaram prestar o exame após um ano inteiro de defasagem no ensino, com a maioria dos estudantes, e mesmo os professores, sem condições de acompanhar aulas online e sem suporte real do governo para isso. Além disso, o medo da contaminação em meio ao recrudescimento da pandemia também é uma realidade.

Os altos índices de abstenção das provas do ENEM 2020, aplicado mesmo com movimento dos estudantes pelo #AdiaENEM, são a comprovação do completo descaso com a educação pública por parte do governo de Bolsonaro e Mourão e também de todo Congresso e STF que, juntos, permitiram a aplicação das provas em meio ao aumento dos casos e, mais do que isso, são parte do sucateamento histórico do ensino público. O vestibular, que já é por si um filtro social, se torna assim ainda mais excludente, impedindo que os estudantes, principalmente os de escolas públicas, possam acessar a universidade.