Percorrendo os argumentos díspares para chegar na agenda comum

Enquanto a Folha centra seus argumentos na reforma política em “Salto no Escuro”, na necessidade de avançar mais na reforma da previdência com seu “Regalias na Caserna”, o Estadão concentra ataques à juventude e funcionalismo em furioso “universidade dividida”, seu editorial principal “a política pode ser diferente” discute o fisiologismo e as falhas de Temer em implementar uma agenda de ajustes, por fim fecha sua tríada editorial “ideias perigosas” um editorial que mostra o projeto de Lei reacionário que dá poderes de Big Brother a nossas assassinas polícias militares. O jornal carioca O Globo traz um ataque ao funcionalismo público com seu “Direito de greve de servidores precisa ser regulamentado” e no editorial principal argumenta a favor da energia nuclear.
Nesta miríade de argumentos podemos, se os percorrermos, ver a real preocupação do partido midiático.

A Folha, utilizando o mesmo argumento de Gilmar Mendes diz que a reforma política aprovada no ano passado consistiu em um “salto no escuro”, e tal como ele e os tucanos advoga pela cláusula de barreira e critica a proibição de financiamento empresarial. São elogiosos das restrições democráticas como a diminuição do tempo de campanha, o que favorece aos políticos conhecidos, endinheirados e artistas, e prejudica os trabalhadores. E querem mais: excluir a esquerda via clausula de barreira.

Seu outro editorial, tomando como alvo os militares e seus privilégios tem como objetivo não o ataque a este setor do Estado brasileiro, que, como sempre é tratado a pão de ló, mas trazer maior coerência ao ataque a todos trabalhadores.

O Globo consegue a proeza de escrever um editorial que utiliza a greve dos professores do Rio, para seus fins, sequer mencionar que tiveram cortes de salário. É tipo assim, esqueçamos a crise brutal naquele Estado e em nome de representar os interesses dos pobres alunos de escolas públicas, que de resto a família Marinho pouco se importa, critiquemos o abuso dos grevistas. Seu editorial advoga pela aprovação de lei para maior regulamentação de greves no funcionalismo estipulando uma quase proibição a que ocorram. Proibição a que professores deem aula sem salário, bem isso pouco importa a esse jornal.

O Editorial principal do Estado traz como introdução em sua edição eletrônica a seguinte passagem “a defenestração do PT, portanto deveria sinalizar a reversão desse processo de desmoralização da democracia, reestabelecendo o princípio das alianças em torno de projetos, e não de verbas, sinecuras ou coisas pior”. O problema é do fisiologismo lulista, como se fosse uma criação da mente perversa de Lula e Dirceu, e não expressão e continuação petista da mesma política capitalista também praticada pelo PMDB, PSDB e outros.

Feita esta crítica ao PT, todo argumento do jornal da família Mesquita é de criticar os parlamentares que “esses políticos não fazem outra coisa senão pensar na eleição seguinte, é o caso de perguntar se em algum momento o governo poderá contar com eles para aprovar medidas relevantes para o país”. Por trás da demagogia de preocupação com a democracia o jornal expressa sua real preocupação: 55 parlamentares da base de Temer não votaram a favor do ataque ao funcionalismo estadual e em especial o Solidariedade do arqui-pelego Paulinho da Força.

O que se mostra neste conjunto de argumentos diferentes que o partido midiático nos brinda neste domingo é uma preocupação em como avançar em ataques aos trabalhadores e para isso avançar em restrições na nossa já restrita democracia do suborno. Essa preocupação vem à tona na mesma semana que criticaram Temer por demorar na implementação da agenda e os tucanos no Senado também ergueram sua voz. Do plano à execução há dificuldades. E parecem não querer ver isso.

Como é de se prever com suas mentalidades embebecidas por penas ébrias de caros e raros Romanée-Conti e seus vícios de classe, os jornais todos ficam prostrados diante de algo que lhes escapa o controle e a compreensão: a correlação de forças. Querem brutais ataques. Temer está disposto a fazê-lo. Os parlamentares são representantes das elites. Estão em sua amplíssima maioria com Temer e por que, se espantam nossos editorialistas da classe adversária porque não aprovam as coisas? Por que 55 vacilam? Por que a arqui-pelega Força Sindical nascida do bolso e cérebro patronal vacila e chega até o desproposito de convocar uma burocrática e falida jornada de lutas nesse dia 16?

Não compreendem e não querem compreender que os parlamentares por mais orgânicos e convictos representantes dos empresários que sejam, por mais conciliadora e pró-patronal que seja a Força Sindical todas essas pessoas não passam é de mediações políticas e sindicais, e como tais precisam expressar algo de seus eleitores e suas bases sindicais. Uma coisa é defender a reforma da Previdência no seus editorais, outra é levar isso como uma vitória de “nosso deputado” para a porta de uma fábrica. O mesmo vale para o ataque ao funcionalismo.

Distorcidamente essas vacilações na frente golpista mostram a correlação de forças. O enigma para a burguesia brasileira. A vitória do impeachment ainda está longe de significar uma vitória da aceitação da agenda da FIESP em um pleito eleitoral e mais ainda em um pleito sindical.

A correlação de forças permite resistência a estes ataques planejados diariamente e rotineiramente defendido nos editoriais dos grandes jornais. Não será da burocrática e pouco construída manifestação do dia 16, encampada, no papel, por todas centrais sindicais do país, que virá uma força decidida nessa resistência.

A fotografia da maioria parlamentar discrepa com a correlação de forças nos locais de trabalho. Isso não durará para sempre. E a agenda de ataques para avançar neste sentido está posta. A elite não entende a correlação de forças, olha embasbacada a essa esfinge. Ao PT pouco lhe importa isso também. Seus cálculos se resumem a 2018 e não se defendemos a Petrobras e nossas aposentadorias, direito de greve e vários outros direitos em xeque primeiro por seus ataques e agora das mãos de Temer.

A situação política e seu descompasso entre a verdadeira correlação de forças e a inação dos sindicatos do país, seguindo seus interesses burocráticos e aceitação do golpe por parte da cúpula lulista, abre espaço e necessidade para surgir uma esquerda que tenha influência nas massas e supere a conciliação de classes do PT, e a este desafio que orientamos o Esquerda Diário para contribuir. O não desenvolvimento de uma força como essa abrirá espaço para alternativas patronais sejam elas verde-oliva como Bolsonaro, verde-dólar como Marina ou velhos representantes patronais tucanos, travestidos de mudanças.