A expectativa é que nessa quarta-feira haja centenas de voos atrasados e cancelados nos maiores aeroportos do país, como Congonhas, Guarulhos, Santos Dumont, Galeão, Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, Brasília, Salvador, Recife e Fortaleza, caso as empresas continuem negando a proposta de 11% de aumento salarial – com retroativo à data-base de 01 dezembro.

Apesar da crise, mercado da aviação continua crescendo

Contra a proposta dos sindicatos,que pedem não mais que a média da inflação arredondada para 11%, as hiper-lucrativas TAM, Gol, Azul e Avianca chegaram ao absurdo de oferecerem 0% de aumento, mas com a “promessa”de estabilidade dos empregos por 1 ano. Após as primeiras movimentações dos trabalhadores, admitiram chegar a valores próximos do reivindicado, porém parcelados,e nesse caso retirariam a ‘nobre’ promessa de não demitirem.

Estas ameaças, que têm o claro objetivo de intimidar os trabalhadores que vão à luta, são “justificadas” pelo conjunto das empresas como “reflexo da crise que diversos setores da economia atravessam, e que no mercado da aviação não seria diferente”.

Sabemos que não é bem assim. Qualquer trabalhador mais atento já acompanhou notícias sobre a demanda de passageiros, que nos últimos anos vinha de um crescimento espantoso que chegou ao pico de mais de 20% ao ano e que o grande problema das empresas aéreas era onde e como atender tal demanda crescente. Basta lembrarmos da superlotação dos aeroportos, muitos deles foram reformados, além da pressão para construção acelerada de novos aeroportos pelo governo federal – outro “problema”seria em qual bolso patronal guardar maior fatia das cifras milionárias, pois como relatamos na ultima luta pela PLR na TAM, certamente não foi dividindo com seus trabalhadores.

Mas como os próprios economistas burgueses analisam, o setor continua crescendo, ainda que em menor escala se comparado a anos anteriores,ao ponto dos capitalistas maquiarem o crescimento como “retração”, para que os trabalhadores continuem pagando a conta e tendo sua renda cada vez mais abocanhada pela inflação, e é claro, os passageiros também continuariam arcando – um exemplo de escracho dos capitalistas do setor: o petróleo que sempre foi considerado o vilão para os altos custos da aviação, nos últimos anos chegou a 60% de desvalorização e aos passageiros só restaram as promessas de que “um dia” essa queda seria convertida em passagens mais baratas.

Mesmo a data-base de sendo dia 1º de dezembro, muitos trabalhadores se perguntam porque os sindicatos dos aeroviários e aeronautas ligados a Fentac-CUT resolveram se mexer só agora, perdendo a tradicional “carta na manga” da categoria, que são as paralisações nas vésperas das festas de Natal e Ano Novo, períodos nos quais há um aumento significativo de passageiros e,por isso, é maior também o poder de negociação.

Além disso, estão prestes a cometer um erro que pode custar milhares de empregos ao não fixarem na pauta a questão das demissões, já que o discurso das empresas aponta exatamente para essa direção.

A luta pelo aumento salarial e contra as demissões deve ser uma só!

Os ricos se aproveitam do espectro das demissões “lá fora” para empurrar as piores condições de trabalho e salários mais baixos: bem sabem disso os agentes de bagagem, de limpeza de aeronaves e operadores de equipamentos que sobrevivem com média salarial de R$750,00 e atémesmo os aeronautas que em outros tempos eram mais valorizados, e hoje sofrem com escalas e jornadas de trabalhos desumanas sobre forte pressão psicológica e de stress.

Neste momento é necessário generalizar a revolta com essas condições para além das conversas nos corredores, vestiários e despachos dos aeroportos, cruzando os braços com intuito deliberado de gerar atrasos e cancelamentos até que as empresas cedam!

Onde houver piquete, os aeroviários e aeronautas não podem se deixar intimidar lembrando sempre que greve é uma manifestação legitima da classe trabalhadora.

As empresas tentarão a todo custo amenizar os atrasos dos voos disparando assédio moral através das chefias contra os trabalhadores da madrugada e dos turnos a serem rendidos, constantemente intimidando os trabalhadores para não aderirem ao movimento e até obrigando-os a dobrar a jornada para cobrir o turno e as posições deixadas pelos trabalhadores que aderirem à greve.

Por isso,a questão da garantia e estabilidade do emprego tem que ser colocada como ponto principal da pauta de negociações, assim como o aumento com retroativo. Não nos deixemos enganar: se a greve for vitoriosa e as empresas cederem, a próxima ação sem escrúpulos da patronal vai ser “justificar” as demissões exatamente em decorrência do aumento cedido!

O recado dessa greve deve ser: queremos aumento salarial digno e nenhuma demissão!