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CONFLITO NA TAM | A luta dos aeroviários da TAM em Guarulhos: piquetes e paralisações por melhores condições

sexta-feira 3 de abril de 2015 | 00:01

R.M., trabalhador do Aeroporto de Guarulhos, a convite de Esquerda Diário

Desde que a presidência da TAM anunciou que este ano não haveria o pagamento de PPR (plano de participação nos resultados), não pararam de crescer os números de voos atrasados e cancelados como consequência da insatisfação geral dos aeroviários e aeronautas da empresa que recentemente se fundiu com a LAN formando o grupo internacional e milionário LATAM.

Justamente no contexto de crise econômica, onde a inflação e carestia abocanham grande parte da renda do trabalhador, ao mesmo tempo em que diversas patronais anunciam demissões, os trabalhadores começam a dar respostas e os aeroviários e aeronautas têm se apresentado nos últimos meses com ações combativas (como greves, paralisações e “operações-padrões”) apesar dos seguidos assédios e ameaças das chefias.

A luta atual pelo PPR se apresenta quase como uma continuidade da greve de janeiro deste ano, quando havia muita disposição de luta e unidade entre trabalhadores de terra e ar, mas que foi controlada pela burocracia cutista que aceitou a proposta de reajuste de 6,8% por ser “acima da inflação”, enquanto os trabalhadores queriam ir além e até já tinham um cronograma de uma semana de greves até alcançar no mínimo 8% de aumento salarial.

“Somente $40 milhões de dólares” de lucros e a insatisfação generalizada entre os trabalhadores mais explorados da TAM de Guarulhos:

A revolta se instaurou quase que generalizada exatamente nos setores mais explorados da empresa que sofrem com as piores condições de trabalhos e com os salários mais baixos: agentes de bagagem, de limpeza de aeronaves e operadores de equipamentos que sobrevivem com média salarial de R$750,00 e com escalas e jornadas de trabalhos desumanas, mas também contou com a simpatia e apoio de quase toda os setores de Operações, Atendimento e de Tripulação. O estopim foi aceso pela própria patronal quando alegou que a meta de lucros da TAM não teria sido atingida e que os números seriam de “apenas $40 milhões de dólares” de lucro.

No mesmo dia do anúncio, os trabalhadores, que cada vez mais sentem os efeitos da crise e da perda de renda e não entendem como a cifra $40 milhões de dólares e a palavra “apenas” podem compor a mesma frase, reagiram de forma espontânea pelos corredores do aeroporto de Guarulhos com pequenas paralisações e reuniões para decidirem aplicar espécies de “operação-tartaruga” com intuito deliberado de gerar atrasos e cancelamentos.

Durante três dias, foram dezenas de atrasos e cancelamentos por conta do movimento que foi avançando no processo de auto-organização, partindo de um sentimento legítimo de desconfiança no sindicato, decidiram por eles mesmos que no dia 1 de abril aplicariam uma greve do atendimento em pista, organizada a partir de um piquete na entrada principal. Como resultado da “insolência” dos trabalhadores terem se auto-organizado sem o aval do sindicato, os burocratas dirigentes da CUT agiram para desmobilizar, declarando de forma criminosa o mesmo discurso da patronal de que a participação nos lucros é optativa e que os trabalhadores teriam que aceitar tal situação e por isso não poderiam “oficializar” uma greve organizada desde assembleia sindical, ou até mesmo enviar representantes para negociação com a empresa. Isso gerou ações de repúdio de trabalhadores em frente à sede do sindicato e até agressões justificadas contra os burocratas pelegos.

Somente na manhã da paralisação, quando o piquete se mostrou contundente, contando com a presença de centenas de trabalhadores e trabalhadoras, os sindicalistas, para não serem atropelados – e agredidos novamente – e não perderem os últimos resquícios de referencia que ainda possuem se propuseram como interlocutores da empresa com o chamado “pequeno grupo radical” de trabalhadores que lutavam para manter o piquete. E finalmente, empresa e sindicato se renderam, e uma reunião de negociação foi agendada para semana que vem.

Coincidentemente, no mesmo dia houve a paralisação geral na Argentina (inclusive forte entre aeroviários e aeronautas) e todos os voos foram cancelados para o país: dois para Aeroparque, dois para Ezeiza, um para Córdoba e Rosário) e isso apesar de inesperado, acabou ajudando na mobilização em Guarulhos já que a maioria desses voos cancelados operam-se no turno da manhã e as equipes praticamente se sentiram livres a aderir ao piquete.

Para evitar o sucesso ainda maior da paralisação e do piquete, a empresa conseguiu amenizar os atrasos dos voos disparando assédio moral através das chefias contra os trabalhadores da madrugada, constantemente intimidados para não aderirem ao movimento, sendo obrigados a dobrar a jornada para cobrir o turno e as posições deixadas pelos trabalhadores que estavam no piquete.

A auto-organização dos trabalhadores aponta o caminho. E que os ricos paguem pela crise!

As últimas lutas dos trabalhadores da aviação demonstram que há disposição para ir além do imobilismo proposto pelos burocratas e que o choque dos interesses dos trabalhadores contra os interesses dos patrões passa pelo enfrentamento contra a burocracia sindical.

As ações independentes dos trabalhadores que já não suportam mais as condições desumanas das escalas, das jornadas de trabalho e o peso da inflação, apontam uma tendência progressiva que deveria ser usada como exemplo para demais categorias de que não é preciso aceitar o “clima” derrotista, de conformidade e passividade que pregam os velhos sindicalistas. Afinal, a crise nos obriga a exigir melhores condições mesmo que a empresa e sindicatos coincidam na visão de que a participação nos resultados e nos lucros exorbitantes das empresas se restringe aos capitalistas, e quando lhes convém, descarregam sobre nós seus prejuízos, seja em forma de demissão ou no peso da carestia de vida do trabalhador.

Por isso, mesmo onde ainda não tenhamos força para tomarmos os sindicatos e transforma-los em ferramentas democráticas e combativas, é possível caminhar na organização dos interesses da maioria dos trabalhadores construindo as lutas sem dar trégua ou a reboque do sindicalismo pelego.




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