1 - Tortura e assassinato dos lutadores pela independência do Quênia

Após a Segunda Guerra Mundial, o continente africano insurgiu-se em inúmeras lutas anti-coloniais e de libertação. Uma dessas emblemáticas lutas foi a Revolta de Mau Mau (1952) no Quênia, uma guerrilha deflagrada por uma etnia oprimida, os kikuyus. Elizabeth II havia recém tomado posse da Coroa, no mesmo ano.

O que se viu foi uma repressão sem tamanho, com algumas fontes afirmando que as forças militares do Império britânico deixaram cerca de 100 mil mortos entre os povos quenianos e 320 mil prisioneiros, tendo vários sido executados nos campos de concentração e muitos torturados. Exemplo dessa barbárie colonial foi o caso de Muthoni Mathenge, uma das lutadoras pela independência do Quênia torturada a golpes de machado.

2- O Domingo Sangrento na Irlanda do Norte

No ano e 1972, em Derry na Irlanda do Norte, milhares de manifestantes tomaram as ruas contra as privações aos direitos humanos promovido pela governo do Reino Unido, como o banimento de manifestações de rua e pela independência do Ulster, como é chamado o país. Para além do que ficou marcado como disputas religiosas, as reivindicações dos trabalhadores e da juventude se moviam na onda da luta de classes aberta no ano de 1968, questionando profundamente o imperialismo britânico, a penúria das condições de vida e o direito à auto-determinação.

Mas a resposta do exército britânico foi contundente: um massacre. Os soldados atiraram a queima roupa contra 26 civis desarmados, matando 14 deles, sendo que outras dezenas saíram feridas. A truculência e o nível da repressão inflamou ainda mais os movimentos nacionalistas. Até hoje, a Irlanda do Norte é parte do Reino Unido; junto do País de Gales e Escócia, tem sua independência tolhida pela Inglaterra. A canção “Sunday, Bloody Sunday” do U2 foi feita em homenagem aos mortos do conflito.

3 - Golpe de Estado em Gana

Gana, na costa oeste da África Subsaariana, foi o primeiro país do continente a conquistar sua independência política do jugo colonial em março de 1957. Era parte fundamental da “costa do ouro britânica”, como era chamada a região.

Não contente, o imperialismo britânico financiou um golpe militar contra o governo nacionalista de Kwame Nkrumah. Desde então, o país passou por idas e vindas de regimes militares, sendo que, desde 1993, Gana é uma república burguesa presidencial subordinada à Commonwealth. Ainda que formalmente independente, a subordinação econômica e política ao imperialismo britânico é uma constante, explorando e oprimindo os trabalhadores e as massas populares. Elizabeth nunca disse nada sobre as milhões de toneladas de ouro roubadas de Gana; esse ainda é o grande pilar da economia do país, mantendo uma matriz econômica subordinada e enriquecendo os bolsos de meia-dúzia de parasitas capitalistas, com apoio das distintas alas de sua burguesia “nacional”. A política de conciliação com a Coroa e a disputa da autonomia nos marcos do capitalismo de Kwame Nkrumah se provou impotente frente à sanha colonialista.

Nkrumah reunido com o primer ministro da Índia e aa Rainha Elizabeth II (1960)

4 - A Guerra das Malvinas

As ilhas Malvinas, Geórgia do Sul e Sandwich do Sul são três arquipélagos situados na costa argentina sob domínio britânico desde 1883. A região é estratégica no cruzamento marítimo da porção austral do Oceano Atlântico, além de importantes reservas de petróleo.

No começo da década de 80, o desgaste do governo militar argentino diante da crise econômica internacional, desemprego e miséria, a classe operária começava a enfrentar a ditadura de forma mais aberta. Nesse contexto, em meados de 1982 os militares empreenderam o reclamo dessas ilhas, se apoiando em uma demanda anticolonial para reestabelecer a legitimidade do regime genocida. Quando iniciada a guerra, o imperialismo promoveu um verdadeiro massacre, com milhares de argentinos mortos.

Se tratava de uma guerra que, apesar de empreendida também pela Junta Militar ultrarreacionária argentina, colocava em jogo a defesa nacional de um país semicolonial frente à agressão de uma potência imperialista. A derrota da Inglaterra poderia dar um impulso renovado ao movimento operário inglês derrotar a reação burguesa, que se consolidava com a ascensão da neoliberal Margaret Thatcher em 1983, da mesma forma que poderia impulsionar a queda revolucionária da ditadura argentina. Era preciso impor uma política independente dos trabalhadores para derrotar verdadeiramente os imperialistas. Elizabeth deu aval explícito, anos depois, à essa empreitada imperialista, elogiando a bravura dos soldados britânicos e a luta pela “liberdade” junto de Ronald Reagan. Nada mais cínico.

Margareth Thatcher tira foto com soldados ingleses

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Esses são apenas alguns exemplos. Elizabeth II, assim como o conjunto da Coroa, representam o que há de mais racista e contrarrevolucionário do imperialismo britânico. São os herdeiros do saque, da pilhagem e escravidão de séculos, da colonização, dos golpes de Estado e do assassinato de milhões de trabalhadoras e trabalhadores na África, Ásia, América Latina e Oceania. No dia 5 de setembro, assumiu a nova primeira-ministra Liz Truss, em um país imerso nas contradições sociais e econômicas da guerra na Ucrânia, com a queda de Boris Johnson, emergindo inúmeras greves operárias que não eram vistas à décadas, fazendo parar 40 mil ferroviários, e os portuários do maior porto do Reino Unido, entre outros.

Como dizia William Shakespeare: "Cavalheiros, a vida é muito curta...Se vivemos, vivemos para andar sobre as cabeças dos reis". A rainha morreu, mas sem pagar por seus crimes diante das massas oprimidas do mundo. Uma instituição medieval e arcaica continua. As greves operárias do Reino Unido, os levantes no Sri Lanka, as greves e revoltas camponesas na Índia, as revoltas na África do Sul e no Caribe mostram o caminho. Para varrer a espoliação colonial e capitalista para a lata do lixo da história é preciso a unidade das e dos trabalhadores britânicos, irlandeses, africanos, asiáticos e de todos os povos oprimidos do mundo na luta de classes contra o imperialismo parasita.

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