Delcídio do Amaral foi flagrado em gravações telefônicas reveladas no final do ano passado negociando um acordo para que Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobrás, não colaborasse com as investigações da Operação Lava Jato. Tal acordo envolveria uma propina e um plano de fuga de Cerveró para a Espanha. Em novembro do ano passado, Delcídio, então líder do governo no Senado, teve a prisão preventiva decretada por suposta obstrução da justiça. Logo em seguida, PPS e REDE entraram com processo pedindo a cassação de seu mandato no Conselho de Ética do Senado, por quebra de decoro parlamentar. Em fevereiro desse ano, Delcídio saiu da prisão e reassumiu o cargo de senador.

Desde então, o Conselho de Ética emitiu um parecer favorável à cassação. Visto que o pedido de cassação foi instalado antes do processo de impeachment, a votação do caso de Delcídio deveria acontecer antes da apreciação do caso da presidente Dilma, marcada para essa quarta-feira (11). O presidente do Senado, Renan Calheiros, apressou o trâmite, e a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) aprovou na noite da segunda-feira (9), parecer pela continuidade da cassação, agora ratificada pelo plenário.

A cassação de Delcídio é mais um ato do grande jogo político do golpe institucional. Se por um lado queremos a punição de todos os corruptos, por outro sabemos que tal fato não virá da Lava Jato e do poder judiciário, cheio de privilégios e sem nenhum controle dos trabalhadores sobre ele. Sendo assim, a punição a Delcídio foi mais uma articulação do golpe, limpando a cara do mesmo, visando transmitir a mensagem de que não é só a presidente que está sendo punida, mas também qualquer um que vier a obstruir as investigações, principalmente as concentradas sob as ordens de Sérgio Moro.

Além disso, a cassação de Delcídio, após sua prisão e expulsão do PT, retira um "bode" da sala do Congresso, pois a permanência de um senador que passou quase três meses preso significaria um desgaste para a imagem do Senado nesse momento de consumação do golpe.