Foto: José Cruz/Arquivo/Agência Brasil

Nesta segunda-feira, 26, os professores da rede pública estadual de São Paulo retornaram ao trabalho, depois do final de ano letivo de 2020, com uma semana de planejamento pedagógico e também para terem contato com o plano de retorno às aulas presenciais que está sendo imposto pelo Estado. Ao invés de abrir para a comunidade escolar junto às entidades de saúde, que estão diariamente nas escolas e atendendo demandas dos estudantes, para pensar o retorno, o Estado organizou um plano, que impõe aulas presenciais, de forma a atender aos seus interesses e aos interesses dos empresários da educação, e não respeitando a saúde e a vida dos professores, estudantes, trabalhadores da educação e todas as pessoas que a partir daí estarão indiretamente expostas ao risco de se contaminar pela COVID-19.

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Durante o primeiro dia de planejamento, que está acontecendo de forma virtual, o Secretário da Educação do governador João Doria (PSDB), fez um discurso defendendo a necessidade de as aulas retomarem, independente da fase em que a cidade/estado se encontrar, alegando que a contaminação pelo vírus não acontece nas escolas ou trabalho, e sim em casa.

Doria e Rossieli tentam se mostrar como bons representantes da população, se diferenciando do negacionismo de Bolsonaro, no entanto é em momentos como esse que escancaram sua política criminosa ao colocar toda a comunidade escolar em risco com o retorno sem condições básicas de segurança.

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Rossieli disse aos professores, que as escolas foram equipadas e adaptadas, para que todos os protocolos de segurança possam ser seguidos, ele só esqueceu que todos os que estavam ouvindo tem conhecimento da precária realidade escolar, que compromete o funcionamento da mesma inclusive anteriormente à pandemia: falta de água, sabonete, papel higiênico, infraestrutura insuficiente de internet e equipamentos de computador, por vezes ausência de energia elétrica são situações bastante recorrentes no dia-a-dia escolar. Diante de tudo isso, porque a comunidade escolar deve acreditar que a escola funcionará de forma segura em meio a uma pandemia que já matou mais de 215 mil pessoas no país?

Enquanto o pronunciamento do secretário era transmitido, diversos comentários e manifestações eram enviadas no chat do aplicativo por professores que apresentavam revolta com a situação atual e muito desacordo com o retorno presencial. Comentários exigindo vacinação para toda a população, questionando a estrutura da escola e dizendo que da forma como o retorno está sendo colocado, muitos professores, estudantes e funcionários irão se contaminar e até morrer.

Um professor se posicionou com uma mensagem dizendo que Rossieli não devia pisar no chão da escola pública há muito tempo para se esquecer das condições estruturais e dizer demagogicamente que todos os protocolos serão cumpridos, sendo que as escolas não têm sequer profissionais em número suficiente, quem dirá EPI´s em quantidade e qualidade para os trabalhadores e estudantes. O secretário respondeu a esta manifestação com uma ameaça velada de perseguição ao professor, dizendo com tom de afronta que iria até a escola desse professor. Logo em seguida tentou disfarçar a ameaça, reivindicando que é importante que cada professor volte para a escola, para assim verificar as mudanças que foram feitas e reclamar caso ainda tenham coisas a melhorar. Ele diz isso como se historicamente a categoria docente não travasse diversas lutas por melhorias nas condições de trabalho, das escolas e da educação; lutas essas que sempre foram reprimidas e as reivindicações ignoradas.

Desde o início da pandemia a batalha dos professores tem sido para que quem decida como e quando as aulas presenciais devem retornar seja a comunidade escolar em conjunto com os trabalhadores da saúde, e agora que o Brasil atravessa mais um grande pico da pandemia, com milhares de mortes, sistema de saúde colapsando e sem poder vislumbrar imunização para toda a população, os governos federal e estaduais impõe plano de retorno irresponsável, que ainda vai comprometer muitas vidas. Não podemos aceitar. É fundamental que o governo garanta a vacinação de toda a população e a realização de todos os protocolos de segurança para que, dessa forma, o retorno aconteça com segurança à comunidade escolar e à população de conjunto.

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