Em recente notícia publicada na Folha sobre o avanço da robótica na indústria têxtil, onde curiosamente é ainda um ramo que não consegue ser totalmente automatizado e onde se gerou a primeira revolução industrial, se comenta como novas inovações podem retirar o emprego precário de milhares de trabalhadores.

Com investimentos de grandes grupos empresariais como o Walmart e marcas de roupas famosas, o projeto visa “eliminar” o trabalho humano empregado no processo de confecção de roupas. Se por um lado poderíamos pensar que deixaria o serviço mais fácil, reduzindo jornadas de trabalho e aumentando o salário proporcionalmente à produtividade, no capitalismo pode se transformar no terror de países como Índia e China, com desempregos crescentes. Por outro lado, não poderíamos defender também a continuidade do trabalho precário e em situações de semi-escravidão que acontecem nesses países.

Um olhar marxista sobre o tema

No livro I de O Capital Marx nos dá algumas definições sobre a relação do homem/natureza: “O processo de trabalho, tal como o apresentamos em seus movimentos simples e abstratos, é atividade orientada para a produção de valores de uso, apropriação do natural para os carecimentos humanos, condição geral do intercâmbio material entre homem e natureza, eterna condição natu¬ral da vida humana e portanto independente de todas as suas formas sociais”.

O trabalho sempre foi algo inerente ao homem e à sua sobrevivência enquanto espécie. Contudo, nunca antes na história da humanidade chegamos à um nível tão grande do uso da natureza e suas variações na produção. A grande produção submete, antes de tudo e em larga escala, as forças da natureza, como o vento, a eletricidade, a água, o vapor, ao processo produtivo direto, transformando-as em agentes sociais.

Na grande produção, a utilização das forças da natureza viram agentes sociais a partir do momento em que se emprega trabalho na transformação da natureza para se adaptar ao processo produtivo, o que não acontecia em sociedades pré-capitalistas que se utilizavam da agricultura e estava ao sabor das variações de clima e temperatura.

Esse emprego de fatores da natureza, enquanto agente social que prescinde de trabalho. É acompanhado do desenvolvimento da ciência enquanto algo “autônomo” da produção em um primeiro momento. O capital não cria a ciência, mas antes se apropria dela para a produção de mercadoria e para a sua reprodução social e ideológica enquanto modo de produção. Não à toa vemos nas universidades um grande interesse de empresas privadas, tanto no sentido de guiar o conhecimento e a ciência voltadas ao mercado, quanto para dela fazer enquanto uma instituição que sirva ao capitalismo.

A tecnologia e o Trabalho

Um economista burguês, John Maynerd Keynes, em um artigo denominado “As possibilidades econômicas para nossos netos” de 1930 escreveu que em 100 anos estaríamos trabalhando 3 horas por dia, num total de 15 horas por semana graças ao progresso técnico trago pelo capitalismo.

Em que se pese não é de se acreditar que em 13 anos jornadas de trabalho de 10 ou 8 horas por dia caiam até 3. Na verdade, o que se vê com o avanço da política neoliberal pelo mundo é a possibilidade do aumento da jornada de trabalho, aumentando a mais valia absoluta nos conceitos de Marx e uma maior precarização do trabalho, que aliado ao emprego de uma maior tecnologia como a robótica afetariam na mais valia relativa.

O conceito de mais valia absoluta e relativa em Marx são conceitos bastantes amplos, mas que, de forma grosseira, a absoluta significaria um maior excedente produzido pelo trabalhador a partir do aumento de sua jornada de trabalho, enquanto que na relativa esse excedente aumentaria a partir do aumento da produtividade advindo de progresso técnico.

Quase 100 anos depois da profecia de Keynes, o progresso técnico avançou em termos nunca antes vistos. Com a robótica e a inteligência artificial, podendo causar uma revolução tecnológica nos mesmos níveis ou maiores que as que a antecederam.

Contudo, isso não se reverte em uma diminuição na jornada de trabalho ou em aumentos salariais diretos e proporcionais ao aumento da produtividade. A medida que se diminui o tempo necessário socialmente para a produção de mercadoria, o que se vê por um lado é um aumento da jornada de trabalho ou em processos de demissão em massa, que visam reduzir os custos de produção.

A lógica do capitalismo em última instância não é a do progresso técnico para a melhoria da vida humana, mas a do aumento e valorização do capital. Contudo, é verdade que a maquinaria, a internet, os computadores e todo o avanço técnico dos últimos séculos no capitalismo transformaram a vida da população global, mas não é verdade dizer que era isso que se buscava com o progresso técnico e o avanço da ciência em si.

Tanto é que hoje, a relação do capitalismo com a natureza chega em níveis tão alarmantes que por um lado bloqueia e guia a ciência que poderia ser boa para o progresso humano, como curas de doenças entre outros, e ao mesmo tempo chega em um nível de devastação que pode explodir o planeta.

Apenas com o fim do capitalismo, e toda a lógica que esse modo de produção acarreta, podemos ter uma ciência e tecnologia que pense e sirva em última instância para os interesses sociais. E que de fato possa nos tirar da escravidão assalariada, aproveitando o aumento de produtividade para jornadas menores de trabalho, onde a produção de mercadorias seja pensado a partir de nossas necessidades e não na do lucro.