Em uma situação onde impera a desinformação, onde o próprio presidente da república, Jair Bolsonaro, relativiza até mesmo a existência do vírus e alenta de forma irresponsável que seus apoiadores – grande maioria idosos, grupo onde a letalidade do vírus chega a 14,8% – compareçam a aglomerações públicas pelo país, o Metrô de São Paulo anuncia como uma de suas medidas a antecipação da campanha de vacinação contra a gripe e custeio de 100% do valor para seus funcionários efetivos. Poderia parecer como uma medida de responsabilidade, se não deixasse de fora as centenas de trabalhadores terceirizados que estão expostos ao contágio tanto quanto ou ainda mais que os demais trabalhadores efetivos.

A Pandemia da Covid-19 está deixando em descoberto a carnificina provocada pelo capitalismo na classe trabalhadora na sua estratégia de dividi-la entre efetivos/terceirizados. Por mais que as condições dos trabalhadores efetivos seja também de grande exposição e as orientações propostas pela empresa incluem ações como "manter distância dos passageiros" ou "não manusear bilhetes e documentos", o que qualquer trabalhador sabe que é impossível com a grande aglomeração que há nos transportes públicos, sabemos que os mais afetados serão aqueles que não podem se dar ao luxo de perder uma jornada de trabalho sob o risco de demissão, os que pela natureza de seu trabalho não podem fazer "home office" ou evitar as aglomerações do transporte público. São os mesmos que não terão opção de deixar os filhos sob cuidado de sei lá quem com o fechamento das escolas e creches, e que como todos não poderão deixar com os avós, pelo temor de levar o vírus para a população de maior risco que são os idosos.

Neste cenário, o transporte público tem um papel fundamental: sem ele, uma cidade como São Paulo estaria paralisada e os setores mais necessitados não poderiam circular pela cidade, ao mesmo tempo de ser um local de fácil propagação do vírus pela aglomeração que provoca. Por mais que os capitalistas e governos de turno se esforçam por dividir a classe trabalhadora, nós temos que ter claro que os transportes giram não somente pelos operadores de trens, atendentes nas catracas e postos operacionais, mas também graças aos trabalhadores da limpeza. O Metrô de São Paulo coloca como uma de suas orientações a limpeza mais sistemática das estações e trens, mas quando ensaia uma resposta de prevenção à saúde dos trabalhadores, esquece que os trabalhadores da limpeza também trabalham para o Metrô, além de não tocarem no tema de mais contratações, uma das demandas que os trabalhadores metroviários estão levantando neste momento devido ao constante déficit de quadro no operacional e que também se estende aos setores de limpeza, ainda mais neste momento.

Os trabalhadores metroviários do MRT e Movimento Nossa Classe, sempre batalhamos contra a divisão entre efetivos e terceirizados, defendendo a efetivação imediata sem necessidade de concurso público para estes trabalhadores. Assim como o Metrô propõe adiantar a campanha de vacinação e cobertura integral da vacina antigripal para os efetivos, defendemos que se estenda a todos os terceirizados da limpeza, bilheteria e jardinagem. O Metrô de São Paulo deve se responsabilizar pela saúde de cada trabalhador que atua na empresa.

O governo de Bolsonaro e Doria não tem nenhum interesse em proteger a classe trabalhadora para além de seus projetos eleitorais e sabemos que nenhuma medida efetiva será tomada sem que se derrube imediatamente o teto dos gastos públicos e se coloque abaixo o pagamento da ilegítima e fraudulenta dívida pública, que escoa o dinheiro que poderia ser voltado para investimentos na saúde, educação e geração de empregos para o benefício de um punhado de especuladores, os grandes parasitas do sistema capitalista

Neste sentido, propomos que desde nosso sindicato, levantemos as seguintes consignas de proteção a estes trabalhadores:

Doria tenta lavar a cara das portas pra fora com orientações de prevenção, quando na realidade segue promovendo uma verdadeira máquina de exploração que se faz ainda mais potente nos setores de transportes. Neste momento já não se trata apenas de negociações salariais e benefícios, estamos falando da vida das pessoas. Estas são algumas medidas que podemos propor no caminho por abrir com todos os trabalhadores e trabalhadoras – efetivos e terceirizados – uma discussão profunda da necessidade de nos organizarmos desde nosso sindicato para varrer as reformas antioperárias impostas por estes governos e impor uma saída que atenda as necessidades da classe trabalhadora e do povo pobre e oprimido, colocando com muita força que nossa vida vale mais do que o lucro deles.