Estão procurando criar esse problema racial, mas não conseguem. Aqui todos todos nos damos bem. Aqui no Brasil todos vivem bem”. O seminário em que o herdeiro do imperador propagou essa alucinação, foi promovida por ninguém mais ninguém menos do que pelo Ministério das Relações Exteriores, comandado pelo olavista de carteirinha Ernesto Araújo.

Orleans e Bragança fez afirmações que sustentam a velha ideia da democracia racial brasileira, baseada na miscigenação - onde falta apenas citar a brutal repressão dos portugueses aos indígenas e escravos negros em terras brasileiras. Ele diz: “Todo brasileiro tem um pouco de sangue branco, um pouco de sangue negro e um pouco de sangue índio. Isso deu um blend (mistura) absolutamente extraordinário, porque nós temos o povo brasileiro que é um povo fabuloso. É um povo que tem um calor humano que nenhum outro povo tem isso”

A declaração do herdeiro parece um medo, que pode ter sido herdada de família, da sua história escravagista, da revolta do povo negro contra a violência policial e estatal. A revolta negra nos EUA já deu seus sinais de influência no Brasil, e bom, o medo da “realeza” brasileira dessa revolta aparentemente nunca morreu.

O medo do herdeiro Orleans e Bragança é o da revolta por João Pedro, Miguel e tantos outros da juventude negra no Brasil, que não veem a realidade com os olhares distorcidos que os herdeiros da realeza brasileira tentam transmitir.

Seu discurso, que lembra o tom de discursos da democracia racial, da miscigenação brasileira onde todos vivem em paz, busca apenas conter a raiva daqueles que se levantam contra o racismo estrutural do capitalismo, e mostra o medo das consequências da revolta negra nos EUA, que tem mais do que poucos ingredientes para se gestar cada vez mais no Brasil, com a população mais pobre e a classe trabalhadora sofrendo na pele as consequências da pandemia.