Mais de dez mil pessoas, segundo estimativas da imprensa, se mobilizaram na Praça Syntagma de Atenas, onde se localiza o parlamento grego. A população foi convocada pelo governo do Syriza para respaldo ao referendo do próximo dia 5 de julho.

"Este país não está a venda e nem pode ser chantageado”, “ Resistência humana contra o terrorismo financeiro”, “ Votamos não a austeridade e aos memorandos” ou “ Não Passarão”, são alguns dos slogans que foram vistos em cartazes durante o protesto, acompanhado de gritos de “Oxi” ( “Não”, em grego) para a austeridade e os cortes.

O primeiro ministro Alexis Tsipras anunciou una última sexta-feira a convocação de um referendo para o próximo domingo, no qual os cidadãos gregos estão chamados a decidirem se seu governo deve aceitar ou não o último plano de ajuste proposto pelo Eurogrupo e o FMI, cujas negociações se romperam na segunda.

Mesmo que a delegação grega fizesse uma última proposta de que aceitaria a maior parte das exigências da Troika, o FMI, virou a mesa exigindo no entanto, maiores reduções nas pensões, aumento de impostos (IVA) , novos cortes e eliminação de impostos para grades empresas.

“A Grécia deve aceitar um acordo que foi entregue pela Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o FMI no Eurogrupo do dia 26 de junho de 2015 e que era composto por duas partes e que constitui sua proposta unificada?”, é a pergunta que deverão responder os gregos no referendo do próximo domingo e pelo qual o governo de Alexis Tsipras defenderá o “Não”.

Mesmo que o referendo seja explícito em estabelecer a opção ao rechaço ao ultimato da Troika – o “Não” aparece primeiro no bilhete de votação - , esconde que a alternativa do governo Tsipras, expressa em sua última proposta apresentada no final de semana passado, implica na aceitação de quase 90% das exigências dos credores.

Mesmo que Tsipras chame a apoiar o “Não”, seu objetivo é propiciar um recomeço das negociações nas quais possa se acordar um plano de ajuste mais moderado que os objetivos da Europa e o FMI, mas ao final, um plano de ajuste.

Por isso, há setores que veem com desconfiança a convocatória do referendo. O rechaço à política antioperária e da humilhação imperialista ao povo grego encabeçada pela Troika, está presente não somente em quem vê no referendo uma via de rechaço – como são os milhares que se mobilizaram na Praça Syntagma nesta segunda-feira - , mas também aqueles que desconfiam de seus resultados. A luta de classes é a única alternativa para terminar com a miséria e a submissão do povo grego aos ditames dos banqueiros e dos capitalistas.

Tsipras convocará novas eleições se não ganhar a consulta de domingo

O primeiro ministro grego, Alexis Tsipras, afirmou nesta segunda que respeitará a vontade do povo no referendo de domingo, e assegurou que não se reivindica continuar como primeiro ministro a todo custo.

“Não serei primeiro ministro por todos os tempos”, disse Tsipras em uma entrevista para a televisão pública ERT, deixando prever que poderia se demitir se o povo não respaldar a posição “Não” no referendo.

“ Vamos sobreviver e vamos eleger o nosso futuro”, disse Tsipras na entrevista, e acrescentou que: “passada uma manhã de sol sairemos disto e a gente seguirá “tendo oxigênio” , pois “ os gregos sobreviverão sem programa (de resgate)”.

Tsipras deixou prever também que a Grécia não pagará ao FMI a quantia de 1,6 bilhão de euros de empréstimo que vencerá hoje (terça-feira 30 de junho). “Pagaremos se até então tivermos um acordo sustentável”, disse Tsipras, expressando sua confiança em que se possa abri uma última rodada de negociações para chegada de um acordo.

Esta segunda-feira de manifestação também foi o primeiro dia do “corralito” (denominação dos argentinos para controle de capitais N.T.) imposto pelo Governo grego, uma medida de controle de capitais na qual os bancos do país permanecerão fechados até o dia seguinte ao referendo. Isto ocorre indistintivamente, seja um trabalhador , ou um pequeno poupador ou empresario, os cidadãos gregos só podem retirar dos caixas eletrônicos 60 euros por pessoa e por dia como máximo, exceto os turistas.

O clima que se gerará durante os próximos cinco dias de “corralito”, que estará atiçado pele campanha reacionária dos representantes da Europa e do capital e pela oposição de direita e social liberal grega, a favor do “Sim”; será decisivo para se medir o ânimo do povo grego e, consequentemente, o resultado do referendo.

O corralito bancário, uma medida defendida pelo governo de Tsipras para evitar a fuga de capitais, prejudica fundamentalmente aos assalariados e pequenos poupadores, posto que os grandes capitalistas gregos e estrangeiros, há semanas, estão retirando dinheiro dos bancos.

Para derrotar a ofensiva imperialista do Eurogrupo e do FMI, o povo grego deverá canalizar seu ódio em direção à Troika por meio da mobilização, confiando em suas próprias forças. Somente desse modo, será possível impor verdadeiras medidas de defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo (como por exemplo, a nacionalização dos bancos e o controle dos bens dos grandes grupos capitalistas), no caminho de recuperar tudo o que foi perdido e acabar com a fome e a miséria. Um caminho de luta, no qual o povo grego deverá contar com a mais ampla solidariedade internacional.