Marisol FN
@MariposaConejo

O recente caso de Zunduri, uma jovem sequestrada durante dois anos para trabalhar em uma lavanderia, coloca em pauta não só o desprezo pela vida de uma mulher trabalhadora, mas também a que ponto os patrões e empresários estão dispostos a chegar para seguir mantendo seus níveis de lucro, à custa da exploração brutal de seus trabalhadores.

Mulher, jovem e escrava

Durante dois anos Zunduri foi acorrentada, torturada e explorada dentro da lavanderia “Planchaduría Express”, localizada ao sul da Cidade do México. Obrigada a ficar acordada dia e noite para seguir trabalhando, os donos da lavanderia chegaram a mantê-la sem comida e nem água por até cinco dias. A jovem declarou que ao tentar escapar ou pedir ajuda, recebia como castigo severos golpes e torturas.

Zunduri fugiu de sua casa há alguns anos. Foi quando a dona da lavanderia – e mãe de uma de suas companheiras de escola – lhe ofereceu um lugar para viver e comer, em troca de passar roupa por 300 pesos semanais (moeda mexicana, equivale aproximadamente a 60,00 reais semanais). A situação mudou quando Zunduri deixou o trabalho para viver com seu parceiro e, quando terminou a relação, voltou à lavanderia, mas agora com mais carga de trabalho e menos comida.

A partir de então, começou seu inferno. As duras jornadas de até 14 horas de trabalho contínuo, somadas às brutais agressões e múltiplos atos de tortura cometidos contra a jovem, deixaram danos severos e cicatrizes no seu corpo, que aparentava uma menina de 14 anos, mas que por dentro, é o corpo de uma pessoa de 81 anos.

Graças a um descuido de seus patrões, Zunduri conseguiu escapar da lavanderia e agora tenta reconstruir sua vida e punir seus sequestradores. Ela é uma das milhares de mulheres vítimas de exploração do trabalho no México, cujas vidas e trabalho geram lucros milionários para as pessoas envolvidas.

Não é um caso isolado

Enquanto isso, as autoridades da capital afirmam que não se trata de exploração. No entanto, diariamente milhares de trabalhadoras e trabalhadores em todo o país tem que enfrentar terríveis condições de trabalho para poder sobreviver com suas famílias.

No México, a exploração e precarização do trabalho, assim como a pobreza e migração, tem rosto de mulher. A necessidade de uma renda para milhares de mulheres e suas famílias, as empurrou a suportar as piores condições de trabalho, assim como a sofrer abusos e violações por parte dos patrões, autoridades e a burocracia sindical.

Enquanto isso, o governo de Enrique Peña Nieto¹ se esforçou para vender ao mundo a imagem de um país pacífico e ideal para o investimento estrangeiro. Milhares de mulheres são violentadas diariamente em seus locais de trabalho e nos bairros pobres. As trabalhadoras não só tem que carregar duras jornadas de trabalho e salários de miséria, mas também, enfrentam todo um aparato estatal e cultural que permite e fomenta a violência contra as mulheres.

Mulheres contra a exploração

São as mulheres da classe trabalhadora as que carregam sob suas costas não só as duras jornadas de trabalho, mas também a obrigação de atender e seguir reproduzindo a força de trabalho. Frente a esta situação, é que no último período tem estourado importantes lutas operárias, com as mulheres trabalhadoras na linha de frente.

A luta das trabalhadoras agrícolas de San Quintin² contra a super exploração e o abuso dos empresários estadounidenses, as trabalhadoras da Pemex, Mazda e do Sindicato de Trabalhadores da Caixa de Poupança dos Telefonistas³ (SNTCAT é a sigla em espanhol), que vem enfrentando as demissões e o assédio sexual, assim como as frentistas4, dos postos do empresário Cohen Cababie e as operárias da Delphi5 em Zacatecas – para mencionar alguns casos - , são uma mostra do grande potencial do proletariado mexicano e principalmente, expressam o papel que cumpre o setor feminino duplamente oprimido e explorado quando decide levantar a voz.
Hoje mais do que nunca é necessária a coordenação e articulação de todas as lutas, assim como a apropriação das lições que a classe operária deixou nas suas lutas contra a exploração.

As novas lutas que emergem no México e no mundo são também um aviso para os governos e empresários, de quem já não está disposto a seguir suportando as miseráveis condições de vida e trabalho e começam a fazer uma experiência de luta.

Notas e links em espanhol:

¹ Enrique Peña Nieto é presidente do México, ex-governador, membro do PRI (Partido Revolucionário Institucional), um dos principais partidos da ordem no país.

²http://www.laizquierdadiario.com.mx...

³http://www.laizquierdadiario.com/Mi...

http://www.laizquierdadiario.com/Tr...

http://www.laizquierdadiario.com/SN...

4 http://www.laizquierdadiario.com/Tr...

5 http://www.laizquierdadiario.com/Pa...

Tradução: Tassia Arcenio