Loki? é o primeiro álbum-solo de Arnaldo Baptista, ex-integrante do grupo paulista Os Mutantes que nos anos 1967-1968 participou da aventura tropicalista junto com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé, Torquato Neto e Rogério Duprat. Lançado em 1974 pela gravadora Philips, com produção de Roberto Menescal e arranjos do maestro Rogério Duprat, Loki?, hoje considerado um clássico da música popular brasileira saiu sem marketing, divulgação e show de lançamento.
São dez faixas de uma bad trip pós AI-5 que derrubou não só este artista mas toda uma geração estrangulada pela repressão e pela censura. Arnaldo Baptista, fora dos Mutantes, afundado nas drogas, chamado de louco, temeroso, isolado num sítio na zona norte de São Paulo, viu a barra pesar num auto-exílio lisérgico no começo dos anos 1970.

1 faixa - Será Que Eu Vou Virar Bolor?
Em 1974 assume a presidência o general Ernesto Geisel que prometeu a redemocratização lenta, gradual e segura para os patrões. São dez anos de Ditadura, seis de AI-5, fim do milagre econômico, crise do petróleo e recessão mundial. A barra continua pesada e Arnaldo Baptista pergunta se agora só lhe resta o tédio de uma vida medíocre. Será que o ex-Mutante vai morrer de dor? Ele que não gosta de Alice Cooper e sonha com amores antigos vai embolorar no sítio da Cantareira? Vai comprar sei lá o que, engolir o choro e aceitar o pesadelo? O que é isso meu amor? Onde é que está meu rock n roll?

2 faixa - Uma Pessoa Só.
Nesta singela canção Arnaldo Baptista aponta para um projeto de vida coletivo cujo lema é totalmente diferente do cada um por si vendido em massa pelas classes dominantes. Uma Pessoa Só expressa o espírito coletivo que embalou os loucos anos 1960 e estimulou toda uma geração a acreditar e viver novas e radicais experiências de vida. Uma forma de viver e pensar que ousou questionar os valores tradicionais da tradição, da família e da propriedade privada.

3 faixa - Não Estou Nem Aí.
Aqui Arnaldo Baptista apresenta e problematiza os projetos individualistas vendidos no começo dos anos 1970 como a única e sofrível saída de emergência. O poeta desesperado pergunta se é difícil fugir e esquecer os males que o atormentam.

4 faixa - Vou Me Afundar Na Lingerie.
Coletividade desbaratinada e nenhuma esperança numa vida normal. Arnaldo Baptista aposta no hedonismo sexual, no desregramento dos sentidos que beira à exasperação suicida. Uma espécie de Don Juan valvulado que pretende se perder na relatividade das pequenas aspirações. Não vai mais tomar remédio para a dor de cabeça porque já não tem mais cabeça, perdeu o juízo, não acredita em projetos coletivos sufocados em sangue pelos patrões e militares. Em 1974 é a hora de fugir num Ford Fairlaine 500 impecável.

5 faixa - Honky Tonky
Patrulha do Espaço. Sintetizadores e galáxias.

6 faixa - Cê Tá Pensando Que Eu Sou Loki?
Bicho, aos 26 anos, Arnaldo Baptista é velho mas gosta de viajar por aí. Não virou o mocinho das rádios e emissoras de TV, não aceitou o papel de rebelde a favor A barra pesou e muito para ele mas preferiu continuar o incêndio a sua maneira, diferente de outros artistas que após o AI-5 se transformaram em obedientes bombeiros.

7 faixa - Desculpe.
Balada pesada. Um pedido de desculpa sincero e profundo. O poeta apaixonado quer sentir o pulso e o barato de todos os tempos mas até quando ele não sabe. Nesta belíssima canção não existe as promessas de amor que no fundo são apenas mentiras violentas e egoístas que no futuro se transformam em cadeias.

8 faixa - Navegar de Novo.
Há muito tempo agora que a humanidade chora de vontade de sair. Todos sabem que está muito caro o modelo do carro que já está fora de moda. Todos sabem que a vida é dura e difícil na cidade de São Paulo. Pouco verde, pouco espaço, pouca confiança. Mas ainda há esperança ou uma fuga? Navegar de novo acima da velocidade da luz pois não existem barreiras.

9 faixa - Te Amo Podes Crer.
Já faz muito tempo que o amor existe e não há saída. O adeus vem e não há o que fazer. Apenas a saudade. Mas é necessário esperar mesmo que demore mil anos.

10 faixa - É Fácil.
O jovem compositor perdido em loucuras e medo diz que é fácil se amar e amar. Um oásis em meio ao tudo certo como dois e dois são cinco do deserto nada imaginário do pós-AI-5.