Fonte da imagem: Agência Brasil

Nessa sexta-feira (9 de outubro de 2020) foi lançado um documento pela Organização: Plataforma Haitiana de Desenvolvimento Alternativo que evidencia os impactos negativos da ocupação brasileira no Haiti. Diversas organizações sociais do país se reuniram através da plataforma para denunciar os mais de 3 mil casos de estupro (inclusive de crianças) que foram contabilizadas durante a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH) realizada entre 2004 a 2017, período marcado pelas administrações petistas no Brasil.

Além dos casos de estupro, também há a denúncia sobre a importação de casos de cólera através de soldados sul-americanos (incluindo o Brasil), cujo resultado implicou em mais de um milhão de infectados e mais de 10 mil mortes. Esses casos evidenciam o legado reacionário da política perpetrada pelo PT em consonância com o imperialismo e a hegemonia estadunidense. Desde o ano de 2004 o argumento utilizado para a missão no Haiti era de fomentar a estabilização no país.
Contudo, em termos mais objetivos, por trás dessa investida havia interesses geopolíticos mais amplos do lado brasileiro, que a frente da administração Lula, almejava um posto no conselho das Nações Unidas, dando em troca, apoio militar na ocupação do país.

De acordo com escrita para o Esquerda Diário, o Brasil almejava no cenário internacional, galgar um posto de potência regional, submissa à intervenção imperialista no Haiti. Frente a esse engodo reproduzido pelo PT é preciso uma visão concreta da situação concreta. As denúncias de estupros e os casos de Cólera por exemplo evidenciam que não houve nenhuma panacéia humanitária, muito pelo contrário, o que tivemos foi o derramamento de sangue do povo haitiano que lutava contra a fome e a miséria provocadas pela opressão da burguesia local em consonância com o imperialismo internacional.

Os casos de abusos sexuais são sintomáticos dessa “missão humanitária”, soldados se aproveitaram da fragilidade social do país para cometer crimes de pedofilia como retrata matéria da BBC, além de ações como o desvio de alimentos e a proibição de manifestações políticas no país.

No marco de um cenário internacional e dos interesses imperialistas no país, o Partido dos Trabalhadores possui responsabilidade clara nessa realidade. Ao procurar agir como potência regional submissa ao imperialismo, fez a manutenção de uma política opressora que nacionalmente conhecemos através das ocupações nas favelas e bolsões de pobre. Esse fenômeno, não podendo ser visto de forma distanciada do próprio Capitalismo, demonstra a conexão entre a opressão do povo negro e pobre dessas comunidades, e a forma como o Estado burguês administrado pelo PT agiu através dessas ocupações.

A militarização nas favelas brasileiras é um dado gritante quando passamos a refletir sobre essa realidade. A ação do braço repressor do Estado sobre à população, com o argumento de pacificação, semelhante ao que ocorreu no Haiti, apenas produz o derramamento de sangue da classe trabalhadora dessas localidades. Por se tratar de um problema estrutural, inerente ao próprio modo de produção capitalista na sua irracionalidade de acumulação, submete vastas camadas da sociedade a um regime de carências e violências, que o Estado burguês, de forma demagógica, procura “solucionar” com mais violência.

É preciso que esses fatos venham à tona, uma vez que o PT busca argumentar que foi o governo que mais favoreceu a “população negra” do país com as políticas assistenciais e de acesso ao ensino superior, que, ao serem construídas em cima da perspectiva da conciliação de classes, foram desestruturadas com o Golpe institucional aplicado sobre a ex-presidenta Dilma Rousseff.

Outro fato que merece destaque nessa observação é que, a camarilha militar do governo Bolsonaro possui origem na missão brasileira no Haiti, através do aparato militar. Em matéria publicada no Esquerda Diário, evidenciamos o fato de que ministros como Augusto Heleno, Carlos Santos Cruz e Floriano Peixoto estão ligados diretamente a missão das nações unidas no Haiti. Bolsonaro encontrou nesses militares o viés opressor e a bagagem reacionária que foi aplicada durante a política petista.

Nesse sentido, é inaceitável que um Partido que se diga à esquerda, realize políticas reacionárias desse porte. Na tradição marxista revolucionária e tomando como base internacionalismo, a opressão de um país sobre o outro implica em ataques à classe trabalhadora. Embora o PT argumente que agiu como “missão de paz” os dados e evidencias falam por si, e a realidade concreta é mais palpável que qualquer discurso. Assim como no Brasil, a tutela que o Partido deu as Unidades de Polícias Pacificadoras (UPPs) demonstra o nível de submissão à burguesia e a estratégia de conciliação de classes que praticou nesses mais de treze anos de administração do aparelho estatal em favor da burguesia reacionária.

Diante desses fatos concretos, é urgente refletir sobre a necessidade de superação dialética, tanto do PT quanto dos partidos que estão à esquerda do PT, como o caso do PSOL que nessas eleições municipais vem realizando junções espúrias e totalmente distantes dos interesses da classe trabalhadora. Apenas com independência de classe e tendo à frente os interesses da classe trabalhadora é que poderemos dar um passo adiante na construção de um mundo livre da exploração capitalista e da opressão país sobre país, tendo em vista que a classe trabalhadora, devidamente com suas particularidades, é uma classe internacional.