Crédito da foto: Estelle Ruiz / Hans Lucas / Hans Lucas via AFP

Terça-feira, 16 de junho, termina a manifestação dos trabalhadores da saúde em Paris e, como o normal, a polícia joga uma chuva de gás lacrimogêneo na marcha, lança granadas de efeito moral e avança sobre os manifestantes. Farida C., enfermeira, "vê pessoas correndo por todos os lugares", e também é gaseada extensivamente. Ela “quebra”, em suas próprias palavras, mostra o dedo e lança algumas pedras na direção das forças em equipamentos anti-motim.

A resposta disso não demorou a chegar. Pouco depois, vários policiais a arrastaram pelos cabelos, pressionaram-na contra uma árvore antes de jogá-la no chão e prendê-la. Farida gritava que precisa de seu ventoline para asma, nada acontece. A prisão é filmada de vários ângulos, e a polícia reconhece: “sem violência, estamos sendo filmados!” um deles diz aos colegas. É preciso se perguntar qual é o nível de violência que eles têm quando não são filmados.

Imen Millaz, a filha de Farida C., falou ontem em frente à delegacia do 7º distrito, onde ficava sua mãe, em frente aos companheiros reunidos: “Vi minha mãe em desânimo como nunca havia visto, pois é uma pessoa muito, muito forte. É preciso muitas coisas para destruí-la ... Então eles não a destruíram, ela não se destrói assim, mas ainda assim eles deram um grande golpe, vários, como seu corpo testemunha. Sabemos do que lhe acusam, é literalmente de ter jogado três pedras e mostrado os dois dedos do meio".

Hoje é Farida C. que é questionada pela própria polícia por três pedras e os dedos do meio que não fizeram qualquer dano, pelos mesmos que a brutalizaram e se recusaram a deixá-la usar o remédio da asma.

Farida C. trabalhou jornadas de 10 a 14 horas por dia durante o pico, viu 20 de seus pacientes morrerem, pegou o coronavírus e quis expressar sua raiva. Então, onde está a violência? Do lado de uma enfermeira exausta, atingida por gás, mal paga, ou do lado de uma força policial ultra-repressiva? Está, por extensão, do lado de um Estado que deixou enfermeiras da linha de frente contra o coronavírus sem máscaras, sem equipamento, e que continua sem freio em sua política de desmanche do hospital público?

Este caso aparece em pleno momento de questionar o papel da polícia, em conexão com a escala crescente do movimento contra a violência policial, em face do qual o Estado está tentando a todo custo anular as acusações de violência policial e relegitimar a polícia e suas armas. Castaner (ministro do interior) está bem posicionado nessa ofensiva reacionária. Falando em poucas palavras sobre Farida C., o Ministro do Interior denunciou "aqueles que querem quebrar o pacto republicano atacando seus guardiões" e anunciou a criação de um grupo de trabalho para simplificar o procedimento em caso de desacato ou de violência contra policiais. Um chefe de acusações que já é conhecido pelo uso do desacato para criminalizar os manifestantes ou qualquer pessoa contrária diante de um abuso.

Farida foi convocada a comparecer ao tribunal em 25 de setembro por três crimes: violência contra pessoas que detinham autoridade pública, desacato e rebelião. Um julgamento muito político que seguiremos cuidadosamente, para apoiar Farida C. contra a repressão da qual ela é vítima, bem como todas as vítimas de violência policial.

Inès Rossi, da França via Revolution Permanente, parte da Rede Internacional La Izquierda Diario.