A vitoria de Castro, que votou contra o impeachment, além de aumentar o racha na base aliada do presidente golpista Michel Temer, evidencia o descontentamento de parte do próprio partido com a sua gestão. A decisão foi definida ontem pelo PMDB.
De acordo com o Castro, a legenda sai mais unida da votação. ‘’O PMDB tem vivido nos últimos tempos momentos de divisões e contradições e isso é uma pagina virada da nossa historia. O PMDB está unido para trabalhar pra conseguir o melhor para o nosso povo e para o Brasil. Começamos uma nova etapa, pois essa é uma campanha que vai além do partido’’ declarou o deputado peemedebista do Piauí.

Além de conseguir apoio entre os parlamentares insatisfeitos com o Temer, Castro foi escolhido pela possibilidade de trazer os votos do PT, segunda maior bancada da Casa, e de outras siglas menores da oposição, como o PCdoB. Na disputa com Castro, nesta segunda feira estavam Carlos Marun do Mato Grosso do Sul e Osmar Serraglio do Paraná.

No segundo turno, Castro disputou com Serraglio e recebeu vinte oito dos quarenta seis votos. Já o paranaense teve 18 votos. No primeiro turno, Castro tinha recebido 17 votos, enquanto Marun e Serraglio empataram em 11 votos e outros 7 se abstiveram. O critério de desempate foi por idade. Apesar de Marun e Serraglio terem concordado em não lançar suas candidaturas, o deputado Fabio Ramalho deve manter candidatura avulsa ainda pelo o PMDB.

Quando foi questionado se irá pedir o apoio do PT, Castro respondeu que irá "pedir o apoio dos 512 deputados", mas que poderá contar com o apoio da oposição. "Não existe nenhum acordo com ninguém, eu tenho telefonado para todos indistintamente. É evidente que quem quer ser candidato tem que se articular porque são 28 partidos. Por isso pedi que todos trabalharem incansavelmente".

O líder do PMDB na Câmera, Baleia Rossi (SP) admitiu que o ideal ter um candidato da base, mas que o grande de candidatos entre os aliados de Temer faz ‘’crescer a vontade de o PMDB ter candidato’’. De acordo com ele, a escolha foi uma maneira de marcar posição. A bancada do PMDB acredita na vitoria e a única possibilidade de uma desistência de Castro seria caso houvesse uma candidatura única da base.
Esta movimentação do PMDB para as eleições de presidente da Câmara é uma das conseqüências da crise política e econômica que vive o país. Para explicar esta crise política dentro do PMDB, temos de um lado um governo ilegítimo que está desagradando parte da burguesia por não conseguir aplicar os ajustes e um PMDB desgastado com as investidas da Lava Jato e do partido judiciário.

Mas sabemos também que o PMDB sendo como atual maior partido burguês do Brasil é uma concha de retalhos, onde existem diversas frações burguesas que por vezes conflitam entre si. Num momento de crise econômica, existe uma disputa entre a burguesia de quem vai ganhar mais com os ataques contra a classe trabalhadora. Além mais, os escândalos de corrupção em que Temer e seus homens estão envolvidos fazem com que vários parlamentares do próprio partido tentam descolar do atual governo golpista e corrupto.

Como saída a este impasse, o PMDB está procurando fazer um grande acordo em que consigam contemplar a maioria dos partidos que estão na Câmara dos deputados. Por trás dos discursos que "todos trabalham pelo bem do país", os mesmos tentam buscar uma maior unidade entre eles para poder aplicar os ataques contra os trabalhadores e o povo pobre e com isso evitar maiores tensões que atrapalhem a votação dos ajustes.

Como foi citado anteriormente, o PMDB vai buscar os votos dos deputados do PT e o PCdoB para as eleições da Câmera dos deputados. Castro já anunciou que vai seguir dialogando com todos, seja com os deputados golpistas que votaram pelo impeachment, mas também com aqueles que defendiam um governo anterior. Como o PT, mesmo após o golpe, segue alinhado com a direita então existe a grande possibilidade de sua bancada votar no candidato do PMDB para presidente da Câmara dos deputados.

Qualquer um que for eleito para substituir Eduardo Cunha na Câmara dos deputados, terá o papel de coordenar os ataques que vão ser votados. É nítido que nem os apoiadores diretos de Eduardo Cunha, muito menos a ala descontente do PMDB pode representar uma saída para os trabalhadores perante a crise. A única saída que pode representar os trabalhadores é uma assembléia constituinte livre e soberana imposta pela luta dos trabalhadores e dos setores populares da sociedade, pois só assim podemos questionar este regime podre de conjunto.