Idealizada pela psicopedagoga Nathalia de Mesquita e financiada por seu marido, a escola oferece um curso de três meses a meninas de 4 a 15 anos que ensina “valores” de uma princesa - humildade, solidariedade e bondade - , regras de etiqueta, sobre como se portar à mesa, por exemplo, maquiagem e cabelo, organização, que inclui arrumar a cama e fazer mala, e culinária.

Em reportagem do Estadão, uma mãe de participante do curso explica a que serve a experiência com tom elogioso: “desde criança, [sua filha] entender que existem papéis que cabem a ela, com o toque feminino”. A própria Nathalia questiona: “Quais as situações do dia-a-dia que ela teria de enfrentar e os desafios que teria de encarar e superar? Diante dessas questões, fomos montando nosso planejamento [do curso].”

Entretanto, quem pode ser princesa?

No fundo, a maioria de nós sabe que o sonho de princesa é restrito às mulheres dos castelos, às filhas dos reis e rainhas, isto é, às mulheres da elite. Para muitas de nós, pensar as situações e os desafios com os quais temos de lidar todos os dias não passa por fora dos empregos precários, da violência doméstica, do transporte público lotado, do assédio cotidiano, das duplas/triplas jornadas, da falta de vaga na creche.

Pensando bem, é bastante conveniente para a elite e os golpistas que as meninas pensem que seu lugar na sociedade é seguindo regras de etiqueta e arrumando o cabelo. Isso porque os setores oprimidos da classe trabalhadora são os que, em tempos de crise, mais sentem os ataques e para quem o sonho de princesa é e sempre será somente um sonho. Entretanto, a realidade tem sido cada vez mais de resistência.

Neste momento em que os secundaristas voltam a ocupar suas escolas, na linha de frente contra os ataques do golpista Temer estão meninas, a maioria negras. As mulheres que bradaram seu não contra a PEC reacionária de Cunha que proibiria a pílula do dia seguinte também foram milhares pelas ruas do país pelo Fora Temer.

A mídia golpista pode sapatear tentando, mas está cada dia mais difícil engolir que devemos ser belas, recatadas e do lar.