Ele disse que o aplicativo já distribuiu mais de 1 milhão de EPIs e que investiu mais de R$ 33 milhões em fundos sociais e medidas de auxílio. Cita que o iFood oferece uma licença remunerada de 28 dias para o entregador que contrair Covid-19, e que eles pagam um valor mínimo superior a “média do salário mínimo”, ponto no qual ele faz ponderações sobre como este cálculo leva em conta a distância percorrida, o veículo utilizado e outros pontos. Obviamente, ele não explica como é feita esta conta.

Estas afirmações entram em choque com os relatos dos próprios entregadores, que reclamam da falta de EPIs e de casos de racismo. O cínico discurso de Hruby, de que apoia o direito de manifestação dos entregadores e de que busca trabalhar junto com eles para atender as reivindicações, contrasta com os desligamentos sem explicação que são frequentes no aplicativo, e que os entregadores só conseguem falar com um robô para tentar resolver a questão.

Saiba mais: Quem são os entregadores de Apps que estiveram na paralisação do 1J?

O discurso de que eles pagam valores acima de um salário mínimo para os entregadores esconde o outro lado da moeda, de que para chegar a estes valores os entregadores, principalmente aqueles que trabalham de bicicleta, tem que trabalhar por jornadas extremamente longas todos os dias da semana, chegando às vezes a 14 ou 16 horas em um só dia.

E é nisso que reside que a principal reivindicação dos entregadores, e que o iFood não chegou nem perto de atender, que são as taxas de entrega. Estas taxas hoje são muito baixas, o que leva os próprios entregadores a terem remunerações muito baixas e os obriga a fazer estas jornadas extenuantes para ter um salário minimamente razoável no final do mês. São estas jornadas extenuantes que garantem o lucro dos donos das empresas.

Este discurso que ele faz mostra o medo que o Breque dos Apps colocou nos donos dos aplicativos, que recorrem a mentiras ou meias-verdades para dizer que o trabalho por aplicativo é ótimo para o trabalhador.

Nós do Esquerda Diário defendemos que estes trabalhadores, que já trabalham muito mais do que as 8 horas diária que a CLT prevê, tenham seus direitos também garantidos, como férias remuneradas, descanso semanal, licença por doença e todos os direitos previdenciários, ainda que não precisem criar os vínculos burocráticos da CLT. Neste sentido, é fundamental o avanço da luta dos entregadores para que possam não só garantir suas demandas imediatas, mas também barrar o avanço da uberização do trabalho e da precarização.

Saiba mais: “Profissão perigo”: 51 % dos entregadores grevistas sofreu acidente no trabalho, revela pesquisa