Todas as capitais tiveram atos significativos, mostrando a manutenção de uma vanguarda estendida nacionalmente que segue disposta a se mobilizar e ir para rua contra Bolsonaro, seu governo e o conjunto dos ataques. No entanto, apesar dessa disposição, cada vez mais se faz notar que a política de “ampliação” das organizações participantes do atos, isto é, da entrada como organizadores de partidos burgueses ou da direita liberal tradicional, longe de ampliarem a força das manifestações - como afirmavam PT, PCdoB, incluindo setores do PSOL e até mesmo o PSTU - na verdade não produziu o aumento das pessoas nas ruas, ao mesmo tempo que deu palanque para que aqueles que sempre nos atacaram pudessem fazer demagogia como supostos democratas que agora estariam preocupados com Bolsonaro.

A verdade é que desde que as direções majoritárias das manifestações resolveram colocar ênfase na participação da direita nos atos, eles vem diminuindo e não aumentando. Isso ocorre não somente porque esta direita não tem capacidade de mobilização nenhuma nas ruas, como mostrou o dia 12, mas também porque essa política de conciliação e atos espaçados no tempo que não são parte de um plano de luta efetivo desmobiliza os setores de vanguarda mais combativos e militantes.

Foram 14 partidos burgueses ou da direita que confirmaram participação na manifestação de São Paulo, são eles: Cidadania, DEM, MDB, PDT, PL, Podemos, Solidariedade, PSD, PSB, PSDB, PSL, PV, Rede e Novo. Todos eles participantes e impulsionadores do conjunto das reformas, ataques e privatizações que impulsionaram um país de milhões de desempregados, onde mais da metade da população vive em insegurança alimentar, onde a ultra exploração do trabalho se expandiu de forma absurda. Para acomodar e satisfazer os interesses desse setor da direita liberal, até promessa de ato ecumênico, a reprodução do Hino Nacional, e o uso das cores verde amarela, tão características das manifestações bolsonaristas, foram feitas pelas direções das manifestações.

Figuras grotescas como Paulinho da Força, do Solidariedade e da Força Sindical, falaram na Av. Paulista, e foram fortemente vaiados. O mafioso do sindicato patronal, e que foi parte daqueles que apoiaram o golpe institucional de 2016, foi um dos convocantes do ato de hoje.

No ato de São Paulo foi onde se concentram as principais figuras políticas dos partidos e organizações. Gleisi, Haddad pelo PT, Orlando Silva e Manuela D’Ávila pelo PCdoB, Boulos pelo PSOL e Freixo pelo PSB estiveram presentes. A presidenta do PT disse "precisamos pressionar o Lira. Temos muitas divergências, mas temos uma unidade. Não queremos mais Bolsonaro governando este país." Essa política defendida pelo PT, e acompanhada por diversas organizações como o PSOL, é aquela que coloca o impeachment em primeiro plano, e que submete a luta dos trabalhadores e popular a exercer uma pressão sobre Lira e esse Congresso reacionário, em uma política que conservaria o reacionário general Mourão no poder, ao invés de lutar pela derrubada do conjunto desse governo de ultradireita. E que essas mesmas organizações caracterizam que sequer é realizável no momento. Não dão a mínima para os ataques antioperários que estão passando no Congresso e no STF. Que o mundo pereça, desde que se agite de palavra o impeachment, e se prepare a eleição de Lula.

Diferente disso, Marcelo Pablito do MRT declarou no carro de som do bloco da CSP-Conlutas que "a unidade que precisamos é da esquerda nas lutas para enfrentar o Bolsonaro, o Mourão e todo o regime". É por isso, que viemos chamando o conjunto da esquerda para conformar blocos classistas e de independência de classe nesse dia 02, rechaçando a presença dessa direita liberal que é responsável pela chegada de Bolsonaro ao poder, e não pode representar nada progressivo para as mobilizações. O conjunto dos governadores, STF e partidos como MDB, PSDB, DEM, entre outros também são culpados e responsáveis pela atual situação do país.

Por isso, ao contrário de buscar se aliar com nossos inimigos, consideramos urgente a construção de um polo que possa coordenar e potencializar a resistência e luta diante de todos os ataques do governo Bolsonaro-Mourão, dos governos estaduais, municipais e dos capitalistas. E que, ao mesmo tempo, possa ser um polo ativo para a intervenção concreta na luta de classes cobrindo de solidariedade qualquer luta operária, popular e de juventude.

A política, daqueles que defendem a chamada “Frente Ampla”, serve apenas para apagar e diminuir as bandeiras e o programa que podem responder aos graves problemas sociais e econômicos do país, como a revogação de todas as reformas, privatizações, reajuste salarial de acordo com a inflação e emprego com direitos para todos, afinal de contas, essa mesma direita foi responsável pela aprovação de vários desses ataques.

Por isso nós do MRT viemos defendendo, e estivemos presentes conformando blocos com esse de conteúdo, nas principais capitais do país, a mais ampla unidade da classe trabalhadora e de todos os oprimidos, nos apoiando em importante expressões de lutas como foi a dos indígenas em Brasília, dos trabalhadores da MRV em Campinas, da SAE Towers em Minas Gerais, e agora os trabalhadores da ProGuaru em Guarulhos que fazem uma dura greve contra a demissão de 4,7 mil trabalhadores e a privatização. Apoiaremos e encamparemos todas as medidas que apontem nesse mesmo sentido, pois consideramos que esse é um eixo fundamental que pode unificar a esquerda para atuar concretamente na realidade. Ao mesmo, seguiremos debatendo nossas divergências, e defendendo nossa saída política para o país, através de uma Assembleia Constituinte, livre e soberana, que se proponha discutir e debater o conjunto dos problemas do país, e enfrentar esse regime político apodrecido, que só poderá significar uma vida de miséria para amplas camadas da população trabalhadora e pobre.