A noite era de gala, com pessoas vestidas com ternos e usando broches do brasão da monarquia. Havia um grupo de jovens católicos aguardava ansiosamente o começo da palestra segurando a bandeira da monarquia brasileira.

O Encontro contou com a presença do líder do movimento que pede a volta da monarquia no Brasil, o herdeiro do trono real Dom Bertrand Maria José de Orleans e Bragança. O príncipe de 78 anos, é advogado e autor do livro “Psicose Ambientalista”, que faz duras críticas aos defensores do meio ambiente e que foi utilizado como argumento por Bolsonaro ao criticar países europeus que pressionaram o Brasil na defesa da Amazônia.

O público, é claro, era base eleitoral de Bolsonaro. Segundo a Carta Capital, a opinião de quem participou foi assistir o evento era bastante peculiar: “Acho que Bolsonaro segue mais a linha progressista inglesa. Sou contra. Lá a ideologia de gênero é mais aceita, precisamos barrar isso aqui”. E que a emissora de televisão Globo transmite, através de suas novelas, a ideologia de esquerda. Isso, segundo ele, era um plano para doutrinar a população e abrir caminho para que algum partido político conseguisse colocar o comunismo em prática no Brasil. “Eu leio muito. Essa teoria da Globo é de Flávio Gordon”, justificou.

Com insanidades, desinformação e reacionarismo: pró-monarquistas passam muita vergonha

O primeiro a subir ao palco foi ‘Doutor Willian Lago’, o advogado fez seu discurso em torno de 20 minutos falando sobre a importância do evento no berço do sindicalismo e a necessidade da sociedade recuperar valores que a esquerda fez os brasileiros perderem, como a valorização da família, o direito à propriedade, entre outros.

Depois, Dan Berg, um senhor de meia idade debateu o tema ‘Cristo era, é e sempre será monárquico’. Ele insiste em dizer que tudo que Deus criou foi em forma de monarquia, como a natureza, o sistema solar, entre outros.

“Deus é o rei, Cristo era o príncipe e o Espírito Santo o herdeiro. Jesus é monárquico”, argumentou. “Se perguntarem para as donzelas aqui presentes se ao beijarem um sapo preferem que vire um príncipe ou um presidente, o que elas vão escolher?”, disse ele em tom de piada ao defender a volta da monarquia no Brasil.

Para continuar o show do horrores, Paulo Cruz começou seu discurso dizendo que

‘quando jovem acreditava na teoria do racismo e que tinha a polícia como inimiga’. “Comecei a andar menos de madrugada e fui menos parado pela polícia. A periferia e a criminalidade ainda são ocupadas por negros. Para resolver isso, os negros precisam deixar a criminalidade, isso não é culpa da polícia”

, disse ele olhando para os policiais presentes no teatro.

Cruz considera o fim da escravidão uma vitória de Dom Pedro II e da princesa Isabel. “Dado o contexto da época, não poderia ser feito de forma rápida. Havia uma intenção de não desestabilizar o País. A república foi colocada em prática de forma rápida e olha no que deu”, argumentou.

Depois o atrapalhado Principe finalmente discursou. Bertrand começou fazendo uma pergunta: “O Brasil está preparado para a monarquia?”, ninguém responde e fica um silêncio na plateia. Em seguida, para a surpresa de todos, o monárquico responde: “Não”.

Mais uma vez o silêncio toma conta do teatro. Ninguém estava entendendo mais nada, até que o príncipe se corrige. “Não, me confundi. Sim, o Brasil está preparado para a monarquia, não está preparado para a República”, justifica.

Entre as loucuras e insanidades, o príncipe criticou a revolução francesa, culpou Napoleão pela loucura de Maria Antonieta e justificou a fuga da família real para o Brasil como uma estratégia para vencer Napoleão, que em 1808 liderava a revolução pelo fim da monarquia na Europa.

Ainda disse que a Constituição de 1824, a primeira do País assinada por Dom Pedro I, foi a melhor que tivemos até hoje. “Ela é diferente da nossa atual Constituição, a qual muitos artigos nem foram discutidos. A Constituição de hoje é um desastre. Uma Constituição de parlamentarismo no presidencialismo”, disse.

Como parte do apoio crítico ao Bolsonarismo, atacou o PT num exagero deselegante sobre o papel à esquerda que teria cumprido este partido: “Com o pretexto dos direitos humanos, Lula criou conselhos municipais, estaduais e federais que eram comandados por soviéticos. Tudo isso era uma tentativa de espionar as instituições e os militares, a fim de transformar a América Latina em uma união soviética”, disse ele, em tom de denúncia apontando para os militares presentes na plateia.

“Temos uma intuição coletiva de que a divina providência tem planos extraordinários para o Brasil. E esse Brasil será monárquico. E um país que reconheça o reinado do nosso senhor Jesus Cristo. Uma nação que respeita os 10 mandamentos do reino de Deus, que problema teríamos? Nenhum. Deus é brasileiro e vai nos ajudar com a volta da monarquia”, concluiu o príncipe.

O deputado terminou o discurso agradecendo aos presentes, o príncipe e soltou o atual jargão bradado pelos conservadores: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.

Ainda não se sabe se o evento foi uma cômica piada mal entendida ou uma trágica expressão da decadência reacionária que vivemos num capitalismo tardio.