Atravessando uma profunda crise orçamentária, a reitoria da universidade faz de tudo para jogar a responsabilidade e os custos sobre as costas de trabalhadores e estudantes. Suas contas são um mistério para todos, apesar de sabermos de alguns detalhes sórdidos como os supersalários de burocratas que ultrapassam o teto legal, ou os milhões gastos em prédios alugados pela cidade com a única finalidade de afastar os centros administrativos dos protestos de estudantes e trabalhadores.

Demissões e desmonte

Mesmo assim, a reitoria hoje insistiu que o problema do orçamento da universidade é o excesso de trabalhadores, passando por cima do fato de que hoje a USP conta com dois mil funcionários a menos do que em 1989, sendo que o número de cursos e estudantes é aproximadamente o dobro. A dotação orçamentária de 9,5% do ICMS, que custeia USP, Unesp e Unicamp, nunca foi aumentada, a despeito de diversas greves e lutas que exigiam essas verbas para poder expandir a universidade e manter sua qualidade. Mesmo essa porcentagem, como já divulgamos, não é cumprida pelo governo.

E, sob esse argumento, o antidemocrático CO aprovou um novo Plano de Incentivo à Demissão Voluntária (PIDV), com o objetivo de reduzir o quadro de funcionários. Não foi discutido o fato de que o último PIDV levou ao fechamento de leitos e ambulatórios no Hospital Universitário (HU), como o Pronto Socorro infantil no período noturno, bem como de todas as vagas nas creches, de serviços da prefeitura, à terceirização de bandejões, deixaram de ser dadas aulas obrigatórias na Escola de Aplicação, entre inúmeros outros problemas em diversas unidades.

O reitor disse que isso não representa nenhum desmonte da universidade, argumentando que essas não são as “atividades fim”, ou seja, aquelas que a reitoria considera o propósito da universidade, como ensino e pesquisa, e disse que os cursos continuam funcionando. A verdade é que em diversos deles faltam professores e estudantes não conseguem se formar. Além disso, estudantes que não têm acesso à permanência estudantil, como as vagas nas creches que foram fechadas, muitas vezes são levados a desistir de seus cursos por falta de condições para se manter.

Outro ataque contra os trabalhadores foi a aprovação da redução da jornada de salário com redução dos salários, o que é uma imensa precarização tanto ao regime de trabalho quanto à estrutura da USP.

E, finalmente, o reitor confirmou que está negociando com o governo do estado a transferência do HU, desvinculando-o da universidade, o que não apenas irá afetar o atendimento médico de toda a população local, mas também o ensino e a pesquisa de todos os cursos da área de saúde. Essa medida não ocorreu ainda porque a greve de 2014 conseguiu impedir que a reitoria conretizasse seus planos; mas desde então o desmonte do HU avançou a passos largos.

O racismo do CO contra as cotas

Ignorando totalmente uma das principais pautas da greve, o CO se recusou a votar a implementação de cotas étnico raciais para negros e indígenas. Ao invés disso, manteve seu cinismo aprovando a destinação de ínfimos 5% das vagas para o SISU, que contemplará a suposta inclusão de negros, indígenas e estudantes de escolas públicas, ficando a porcentagem a cargo das direções de cada unidade de ensino. Apenas a população de negros do estado de São Paulo chega a cerca de 37%. A pocentagem do ano passado era 3%, e sua insuficiência levou a que estudantes e trabalhadores incluíssem as cotas como pauta de sua greve; o aumento de 2% é uma verdadeira provocação. A quantidade de vagas destinada ao SISU é tão irrisória que nesse ano a inclusão a partir dele foi mais concorrida que o próprio vestibular via FUVEST! São cerca de 100 mil inscritos que todos os anos são excluídos da universidade, cerca de 90% de todos os que tentam ingressar na USP.

Ingerência na organização dos estudantes

Como se não bastassem esses ataques à universidade, o CO decidiu votar um ataque à organização política dos estudantes. A eleição dos pouquíssimos representates discentes no CO e nos Colegiados centrais hoje é feita conjuntamente com a eleição de DCE, sendo que as chapas concorrentes elegem representantes discentes proporcionalmente ao número de votos que receberam para compor a diretoria do DCE. Agora, a reitoria, sem absolutamente nenhum tipo de diálogo com os estudantes, aprovou que a representação destes será feita mediante uma votação eletrônica controlada pela própria reitoria. Um completo absurdo!

O argumento utilizado pela reitoria para a aprovação dessa medida foi que a proposta teria partido “dos estudantes”, já que foi feita pelos representantes discentes da chapa USP Inova. Estes, que fizeram essa proposta sem levar à aprovação de nenhum fórum deliberativo dos estudantes, são a chapa estudantil que representa os interesses da reitoria: são contra as cotas, a favor da privatização cada vez maior da USP e da terceirização, e são abertamente contrários a todas as formas democráticas de organização e luta dos estudantes. Já se sentaram mais de uma vez para “tomas chá” com a reitoria e discutir formas de se organizar contra o movimento estudantil, aquele que se alia aos trabalhadores para defender a universidade. Não é nada espantoso, portanto, que a reitoria queira se apoiar nesse setor minoritário e rechaçado pelo movimento para tentar tomar em suas mãos nossa organização política e destruí-la.

A crise é o CO! Unificar e fortalecer a luta para combater os ataques!

O que essa reunião demonstra, uma vez mais, é que enquanto persistir uma universidade governada por burocratas privilegiados, donos de fundações e empresas privadas, os ataques contra o caráter público da USP persistirão, e avançará o elitismo e o racismo dessa universidade.

Não podemos permitir que esses ataques votados hoje passem. Por isso, é fundamental fortalecer a greve, comparecendo à assembleia geral dos estudantes que ocorrerá nessa quarta-feira, 13, às 18h, na vivência ocupada do DCE. A partir de lá poderemos debater como estreitar nossa aliança com os trabalhadores, e partir para a organização das assembleias em cada curso, informando cada estudante sobre os novos ataques e preparando uma resistência decidida contra eles.

Veja informe da Juventude Faísca sobre a reunião: