No anexo ao edital para concurso, “masculinidade” está descrito como “capacidade de o indivíduo em não se impressionar com cenas violentas, suportar vulgaridades, não emocionar-se facilmente, tampouco demonstrar interesse em histórias românticas e de amor”, devendo, como critério, ser apresentada como grau maior ou igual a regular.

Além disso, em nota, a PM respondeu à repercussão do edital contra uma dita interpretação equivocada ao critério “masculinidade”, já que o objetivo seria “avaliar a estabilidade emocional e a capacidade de enfrentamento, aspectos extremamente necessários para o dia a dia da atividade policial militar”. Também os critérios de “prudência” e “amabilidade”, requeridos em nível baixo, chamaram a atenção.

Nesses marcos, o que é caracterizado como pertencente ao comportamento masculino, ligado à racionalidade e à capacidade de tomar decisões com agilidade, reforça o senso comum machista que coloca as mulheres no campo da emoção e da irracionalidade, além de associá-la ao “romântico”, enquanto aos homens, como figura patriarcais, cabe a frieza e a capacidade de se afastar dos sentimentos.

Essa caracterização sexista não à toa faz eco em uma instituição inerentemente misógina como é a Polícia, que não apenas não protege as mulheres, como está a serviço da violência patriarcal, porque existe para defender os interesses daqueles que se beneficiam com esse sistema que oprime as mulheres. Uma instituição que, a serviço do Estado, causa o sofrimento diário de centenas de mulheres que perdem seus filhos assassinados pela polícia nunca protegerá as mulheres.