Com enorme e absurda parcela de membros com origem nas Forças Armadas, os oficiais da reserva já ocupam 35% do primeiro escalão, até agora com 20 nomes anunciados.

Entre os ministros do governo Bolsonaro, têm carreira no exército o General Augusto Heleno (GSI), Fernando Azevedo e Silva (Defesa), Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria do Governo), Wagner Rosário (CGU), capitão de reserva, e Tarcísio Freitas, engenheiro na corporação por 16 anos. O representante da Marinha no governo é Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior (Minas e Energia), enquanto o tenente-coronel Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) é oriundo da Aeronáutica. Durante campanha eleitoral, Bolsonaro afirmou que metade de seus ministérios seriam ocupados por militares.

Com base em informações do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC-FGV), desde a redemocratização o governo com mais militares nos ministérios havia sido o de José Sarney, que assumiu sua gestão em 1985, com 7. Sua equipe, no entanto, era maior do que a de Bolsonaro. Em termos percentuais, a maior participação de militares havia sido com Fernando Collor, governo no qual eles assumiram um terço das pastas (4 de 12). Até mesmo Médici e Geisel tiveram quatro militares nos ministérios, o que é menos que Bolsonaro. Esse fato porque até o governo de Fernando Henrique o número de oficiais era ampliado pelo fato do Exército, Marinha e Aeronáutica serem considerados ministérios na época.

Os chefes do Estado Maior das Forças Armadas e do Gabinete Militar também eram ministros. Até o governo Sarney, o Serviço Nacional de Informações (SNI), que deu suporte à perseguição de pessoas que questionavam a ditadura militar, também tinha status de ministério. Apenas em 1999 o atual modelo institucional do governo federal foi implementado, com a criação do Ministério da Defesa (que reúne as Forças Armadas). Apenas no segundo governo de FHC que a Casa Militar foi transformada no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência. Desde então o GSI passou a ser o único órgão de primeiro escalão ocupado por militares.

Bolsonaro é herdeiro da ditadura militar e diversas vezes já colocou a repressão, tradição dos militares, como algo prioritário. Afirmando que o problema da ditadura foi ter torturado e não matado e que quem discordar do seu governo tem dois destinos: cadeia ou aeroporto, ele deixa muito explícito que seu objetivo é passar uma série de ataques que são continuidade do golpe institucional, como a reforma da previdência, para descarregar a crise nas costas dos trabalhadores com base na força. O espaço que os militares vão ter nos ministérios de Bolsonaro, que é o maior desde os governos da ditadura, é um absurdo e vem para reprimir mais ainda os trabalhadores e o povo pobre.

Os trabalhadores precisam mostrar sua força contra todos os ataques e contra as ameaças dos militares. Para isso, é extremamente necessário que a CUT e a CTB, maiores centrais sindicais da América Latina, dirigidas pelo PT e PCdob, rompam seu imobilismo e organizem um sério plano de lutas com um programa abertamente anticapitalista. Só assim será possível uma luta para impor que sejam os capitalistas que paguem pela crise.