Esses dados são da pesquisa feita pelo Instituto Datafolha com 3.625 pessoas em 217 cidades de todo o País entre 1 e 5 de agosto, que traz ainda outros dados alarmantes: 65% da população diz sentir medo de ser vítima de violência sexual, número que é de 90% entre as mulheres do Nordeste. O receio é maior entre os mais jovens, onde o porcentual médio é de 75%, decrescendo conforme aumenta a faixa etária. Isso no país onde a cada 11 minutos uma mulher é estuprada e há acredita-se que apenas 10% dos casos de agressão sexual são denunciados.

A mesma pesquisa aborda também a avaliação das polícias e a dificuldade de atendimento: 50% discordam da afirmação de que policiais militares são bem preparados para atender vítimas de violência sexual, e 42% dizem não encontrar acolhimento nas delegacias.

Os dados aparecem, as responsabilidades se escondem

Essa pesquisa recém-divulgada expressa como a cultura do estupro está enraizada na sociedade. Mas quem são os responsáveis pela perpetuação dessa grotesca cultura? A violência contra a mulher é formada por uma longa teia de diversas opressões e o estupro, seguido do feminicídio, são o último elo dessa cadeia. São a expressão da invasão do corpo feminino, que converte as mulheres em propriedades privadas com as quais se acredita poder fazer o que bem entender e ainda julgá-las "merecedoras" da violência.

Essa violência começa com os assédios em casa, na rua, na escola, trabalho, mas é também a mesma que tira da mulher o direito de decidir o que fazer com seu próprio corpo, o que se expressa também nas milhares de mulheres mostras devido a ilegalidade do aborto. Mas opressão não paira no ar, ela tem agentes. A mídia é um desses, com sua ganância capitalista e suas propagandas que objetificam os corpos femininos e criam padrões de beleza que servem para criar mulheres infelizes e dispostas comprar os milhares de produtos propagandeados na TV, revistas e outdoors. Isso além de sempre mostrar as mulheres ocupando os lugares mais subordinados, e até mesmo reforçando sempre o esteriótipo de mulher "correta" como sendo a "bela, recatada e do lar".

Os jornais também possuem sua responsabilidade, quando não apenas colocam em dúvida as denúncias das mulheres, apresentado-as como "supostas" violências, como também invisibilizam os movimentos de luta das mulheres, negando mostrar em suas páginas que as mulheres estão tomando as ruas contra a violência e por seus direitos.

Entre as instituições responsáveis pela perpetuação da violência, justiça burguesa também tem sua responsabilidade. A própria pesquisa mostra que metade da população acredita que a polícia não é capaz de responder a casos de violência. Mais que isso, a justiça cumpre sempre o cruel papel de revitimizar a vítima, fazendo-a retomar por diversas vezes a violência vivida, questionando os fatos, constrangendo e coagindo a vítima, e mantendo tantos agressores impunes. As Igrejas, instituições que lucram sobre a fé de milhões de pessoas, também buscam impor sua crença sobre a vida das mulheres, impedindo que elas possam decidir sobre suas vidas. Em nome da “vida”, milhares de mulheres morrem por abortos clandestinos, e a Igreja condena mais o aborto do que as mortes. Tudo isso mostra que a cultura do estupro está a serviço também de perpetuar esta ordem capitalista de exploração e opressão.

Os governos também são responsáveis. Essa pesquisa feita há quase dois meses e divulgada agora acontece exatamente em meio ao processo de consolidação do golpe institucional, que oficializa um governo formado quase totalmente por homens, que tem em sua base aliada o fascista Jair Bolsonaro - réu por incitação ao estupro - e que é composto por ministros que recebem estupradores como Alexandre Frota para opinar sobre a educação. Avançam projetos como o "Escola Sem Partido", que quer impedir a discussão de gênero em sala de aula, debate esse que serve justamente para educar as crianças sobre a necessidade de se respeitar as mulheres e seus corpos, assim como acabar com a perpetuação da cultura do estupro. Mas mesmo antes do golpe, os 13 anos de PT pouco avançaram nas políticas para as mulheres: a lei Maria da Penha completou 10 anos mês passado, mas os números de mulheres violentadas segue aumentada e o aborto segue ilegal, levando milhares de mulheres à morte.

Basta de estupros, a culpa nunca é da vítima!

O fim da opressão às mulheres não virá deste Estado burguês, com confiança no governo, no congresso e na justiça. Para acabar com a violência às mulheres é preciso lutar pra que essa bandeira seja tomada também pelos homens e pelo conjunto da população que se coloca contra essa barbárie, defendendo fortemente que a culpa nunca é da vítima. É preciso lutar por um plano de emergência para assistir as vítimas de violência, que deve começar por subsídios garantidos pelo estado (com licenças do trabalho), todo acesso à saúde pública e de qualidade, e a criação de casas abrigo transitórias para as mulheres em situação da violência com planos de obras públicas, tudo baseado na criação de impostos progressivos à grandes fortunas.

As mulheres, trabalhadoras e trabalhadores, a juventude, precisam se organizar para lutar contra cada forma brutal de opressão e por cada direito mais elementar que nos é negado. Contra a cultura do estupro, contra o governo golpista e machista e todas as formas de opressão, devemos direcionar nossa luta contra nossos verdadeiros inimigos: o estado capitalista.