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Greves RN | Veja os depoimentos dos trabalhadores da saúde e do DETRAN em greve no RN

No Rio Grande do Norte acontecem hoje duas importantes greves em defesa dos salários e condições de trabalho contra o governo Fátima Bezerra (PT). Os trabalhadores do DETRAN reivindicam principalmente a realização de um concurso público, que já foi acordado em greves anteriores e até agora não se cumpre, enquanto aumenta a terceirização na categoria. E os trabalhadores da saúde, sobretudo a enfermagem, luta pela recomposição de perdas salariais em 21,87%, melhorias nas condições de trabalho e outras demandas.

terça-feira 25 de julho de 2023 | Edição do dia

Durante as ações de greve que o Esquerda Diário esteve, conversamos com alguns trabalhadores que quiseram deixar seu depoimento anônimo sobre a luta, como parte de dar voz aos lutadores e chamar toda a solidariedade ativa da população a essas lutas.

Na sexta-feira, 21, ocorreu uma ação comum entre as greves do DETRAN e da saúde, onde perguntamos aos trabalhadores do DETRAN sobre a unidade nessa luta, confira:

Trabalhador do DETRAN 1: “A gente achou interessante a adesão da categoria [da saúde] porque a gente vê um maior volume, dá um impacto visual e a gente se sente acolhido e se sente pertencente dos mesmos problemas. Acho importante essa união.”

Trabalhador do DETRAN 2: “Quando a gente ta em greve a gente se sente muito frustrado no sentido de que a gente tem aquelas demandas que a gente entende que são legítimas, porque a gente vem do caminhar de outras greves que tem demandas que não são atendidas no passar de uma pra outra. Então cada greve é um desgaste cada vez maior que a gente encontra porque a greve atual é pra pleitear coisas que a gente tinha conseguido na greve anterior. Concurso público, a lei que foi aprovada no ano anterior. E nada foi cumprido. Então a greve aparece pra sociedade como se a gente tivesse fazendo greve por brincadeira, todo ano fazendo... sendo que as demandas são as mesmas que não foram atendidas da última greve. Mas quando a gente vê outra categoria grande que vem juntar, somar com a gente, que tem um número maior, que trás força, trás visibilidade, a gente se sente mais acolhido, mais visto, tanto pela sociedade, quanto pelos pares do pessoal do serviço público. Então o sentimento é esse.”

Nessa segunda-feira, 24, estivemos no ato da saúde em frente ao Hospital Regional Deoclécio Marques de Lucena (HDML), em Parnamirim, grande Natal, onde conversamos com uma enfermeira:

ED: Como que está a greve, a quanto tempo vocês estão parados?

Enf: É o terceiro dia de greve [do HDML]. Uma luta muito nobre, uma causa que a gente corre atrás há mais de 20 anos sem reajuste salarial, uma categoria que se doou muito na época da pandemia. Inclusive a gente teve muitos profissionais perdidos por essa doença. Eu acho que é mais que justo a gente ter esse tipo de valorização profissional, salarial também. É uma questão de dignidade financeira pra gente que trabalha, e pra categoria da saúde, inclusive a enfermagem é quem movimenta realmente o hospital inteiro. Por que a enfermagem é a força essencial de trabalho no hospital, primordial eu diria. É a gente que está a beira leito 24h a disposição do paciente, dando todos os cuidados. Então essa greve é muito importante pra gente e a gente espera ter esse retorno dos entes federativos, reconhecimento, e tudo mais. A gente ta lutando todo dia, nas greves, nas ruas, no dialogo com os governos, dentro dos hospitais, e tamo só a espera pra que dê certo, pra que venha esse reconhecimento.

ED: A adesão aqui no hospital ta forte?

Enf:Tá forte, tá forte. Tá todo mundo se reunindo, unindo forças pra que chegue a acontecer de fato né.

ED: A gente recebe no Esquerda Diário bastante denúncia desse hospital de Parnamirim, tanto das condições de trabalho quanto da estrutura do prédio.

Enf: Isso, a estrutura do prédio ta um pouco melhor né. Eu to aqui há 5 anos, entrei num prédio acabado. O trabalho em si já oferece uma situação insalubre, de risco, mas como a gente chega aqui como eu cheguei, era um lugar bastante defasado, acabado, não oferecia condições de trabalho. Não oferecia local de trabalho adequado, nosso repouso era cheio de mofo. A gente dormia em um lugar que era 2 metros, 2x2, cabia uma única cama, uma beliche, pra revezar. Era pequeno e abafado, eles não disponibilizavam ar-condicionado. A gente teve que fazer uma rifinha pra comprar ar-condicionado, do nosso bolso. Esse ano veio algumas comprar de ar-condicionado mas tão tudo aí parado no corredor.

ED: Em relação a greve vocês estão exigindo as reposições salariais de Fátima né? Como você vê essa relação com o governo?

Enf: O governo de Fátima vem deixando muito a desejar nos últimos tempos. Eu votei a favor do governo dela 4 anos atrás, mas é algo que não to aprovando, vem atrasando nossos salários, já atrasou dos eventuais, a gente tem uma produtividade aqui no Deoclécio que é muito inferior a nossa produção mensal aqui né. Por que aqui é hospital de cirurgia, de trauma geral. E o número de cirurgias aqui diárias é muito grande. Eu trabalho na clínica cirúrgica, são 20 pacientes, chegamos a ter 25 pacientes contando com as macas que ficam no corredor, às vezes com 4 técnicos do setor. Então quando vem a produtividade que chega a ser R$160-R$180, o mínimo mensal. Um absurdo. Teve um erro inclusive do governo Fátima que teve gente que recebeu R$0 de salário, gente que recebeu R$100, outros R$400, R$800, pra depois receber o resto. Já tem algumas vezes que isso aconteceu e eles tão dizendo que deu problema na folha, ou do banco e ele só faz repassar dessa forma, quebrado. A gente recebeu um valor bem inferior, e os eventuais eles falaram que era os descontos do Imposto de Renda. Só que teve pessoas que já tiveram desconto do Imposto de Renda e veio de novo o valor inferior.
ED: A enfermagem também está em luta nacional né, pelo piso, atacado pelo governo Bolsonaro

Enf: E agora Lula né, dos ministros...

ED: E é do Barroso, do STF também né.

Enf: Exatamente. A gente tá esperando esse reconhecimento salarial por parte do governo. A princípio era R$3300 a nossa base. Eles acharam muito alto pra gente pra trabalhar 40, 30h. Justificaram que pra ganhar um valor como esse 30h era muito pouco, teria que aumentar pra 44h por semana pra receber esse salário. Hoje a proposta deles é 30h receber R$2200 mensais. Que ta ainda tentando reverter, tamo escuro ainda.

ED: A gente ta muito do lado de vocês nessa luta. Vocês cumprem dupla, tripla função aqui no hospital?

Enf: Às vezes sim, mas é por conta própria. Porque a gente quer tanto adiantar o paciente pra não fazer ele esperar que a gente não espera o outro, a gente vai mete o pé e faz. Aí é desvio em prol do paciente né. A gente acaba fazendo.

ED: Mas isso é resultado da falta de funcionários também?

Enf: Também. A gente chega a ficar com 47 pacientes, com 5 técnicos. Pelo COREM (Conselho Regional de Enfermagem) no máximo a gente tem que ficar com no máximo 6 pacientes pra cada técnico, sendo que desses 6 tiver um muito crítico, muito dependente, cai pra 2. Se um é muito dependente da gente, acamado, banho no leito, esse número cai pra 4, já não posso ficar com 6. E aqui não funciona dessa forma, é 8 pacientes pra 1 técnico. Falta muita mão de obra

É fundamental cercar de solidariedade essas greves no RN, que são exemplo de como enfrentar o legado de precarização da vida e do trabalho deixado pelo golpismo e pelo governo Bolsonaro, e que o governo Lula-Alckmin sustenta mantendo cada uma das reformas anti-operárias. E que a conquista dos seus direitos reivindicados pelas greves é fundamental passo para ganhar confiança na força dos trabalhadores na sua própria luta, e para barrar os ataques do atual governo como o Arcabouço Fiscal, que aumenta a terceirização nos serviços públicos e destina verbas da saúde e educação para pagar a dívida pública.

São lutas que podem fazer frente a essa política de conciliação com os capitalistas do governo Lula, mas também de Fátima com as oligarquias, que levou à aprovação da reforma da previdência de Bolsonaro no RN. E que agora significa Fátima atacando o direito de greve, judicializando novamente a greve do DETRAN, que luta nada mais por aquilo que já foi conquistado em outras greves, mas Fátima não cumpre. No começo do ano a governadora do PT já tomou uma medida autoritária como essa contra enfermeiras em greve, ameaçando multar diretamente esses trabalhadores.

A força das enfermeiras nacionalmente são exemplo de luta, como na batalha pelo piso da enfermagem, que impôs o Congresso essa medida, apesar da decisão absurda do STF, sob a caneta de Barroso, que negou o piso salarial, mostrando como não da pra confiar no judiciário golpista e inimigo dos trabalhadores. Barroso que foi convidado para a abertura do Congresso Nacional dos Estudantes da UNE pelas juventudes ligadas ao PT e PCdoB, em nome da "unidade contra a extrema-direita e em defesa da democracia", com um dos atores que foi protagonista do golpe institucional de 2016 para acelerar as reformas contra os trabalhadores, e abriu caminho pro Bolsonaro. Nós da juventude Faísca estivemos à frente do rechaço a sua presença e em defesa da luta da enfermagem, conforme repercutiu na imprensa de todo o país.

Portanto a luta independente dos trabalhadores, aliada aos estudantes e movimentos sociais, precisa tomar a dianteira. Desde o RN a unidade entre as categorias que se expressou na última sexta-feira é um importante exemplo do que se generalizar pode conquistar cada demanda das greves, barrando a perseguição judicial de Fátima, mas também ser parte de uma mobilização contra o Arcabouço Fiscal e todo o legado de reformas.

Exigimos que os sindicatos controlados pela CUT e CTB, dirigidos pelo PT e PCdoB, devem organizar os trabalhadores em apoio a essa luta, unificando por exemplo dos rodoviários pelo reajuste salarial, em uma só luta contra os ataques.

Mas também o DCE da UFRN, dirigido pela UJS (PCdoB), Levante e Juventudes do PT, ou seja, um DCE do Barroso e da Frente Ampla, que vai contra a aliança da juventude com os trabalhadores, tem que organizar os estudantes ao lado da greve da enfermagem urgentemente! Chamamos os centros acadêmicos e entidades dirigidos pela Correnteza, UJC e Juntos que componham esse ato em apoio a luta da saúde.




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