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TECNOLOGIA | O que está por trás da internet ser ’gratuita’?

sexta-feira 29 de janeiro de 2016 | 10:29

Na semana passada, apresentei os princípios básicos de funcionamento da Internet. Esse rede na qual vivemos conectados possui uma gigantesca infraestrutura que atravessa os oceanos. Como falado no texto passado, se pudéssemos dizer um lugar onde a Internet mora, sem dúvidas diríamos escolheríamos os Data Centers. Esses prédios enormes com milhares de computadores são responsáveis por armazenar e processar toda a informação requerida pela rede.

Em 2013, os data centers norte-americanos consumiram 91 bilhões de KWh[1], para você ter uma ideia uma família comum brasileira consome em média 1500 kWh por ano. Ou seja, o consumo dos data centers em 2013, somente nos Estados Unidos, seria o suficiente para abastecer 61 milhões de famílias brasileiras. Isso leva a um debate sobre os efeitos ambientais de tal gasto de energia e pressiona aos grandes data centers a exibirem políticas do uso de energia renovável[2]. Porém os dados não são claros e dificilmente as empresas mostram os valores gastos de fato. E a pergunta que não quer calar é: quem paga essa conta de luz?

Pequenos e médios sites ou pequenas e médias empresas pagam pelo aluguel de seus servidores em Data Center. Sendo assim, utilizam parte de sua receita para que possam manter sua página no ar. O Esquerda Diário, por exemplo, é resultado da contribuição coletiva de seus militantes e apoiadores para que possa manter está página e este texto que você está lendo agora. Em geral, empresas que alugam seus data centers cobram a hospedagem baseado no volume de dados trafegado e armazenado.

Grandes empresas como Google, Facebook e Microsoft, possuem seus próprios data centers, já que a partir de um volume de dados trafegados o aluguel torna-se muito caro. Atualmente o Google possui 14 data centers espalhados pelo mundo [3] porém é superado em tráfego de dados pelo Facebook com datacenters mais centralizados, concentra 9% do tráfego de dados em todo mundo [4].

Com todos esses gastos com infraestrutura como essas empresas conseguem oferecer serviços de gratuito de email, localização, vídeos, rede social, armazenamento de arquivos online e entre outros? Como nós a todo momento pagamos, sem perceber por estes serviços?

Vendendo privacidade

Toda vez que requisitamos um serviço na Internet assinamos um Termo de Uso. Aquele texto enorme, em letras pequenas, com um botão gigantesco de Aceito no final é o início do nosso pagamento por esses serviços. Aparentemente gratuitos já que não nos exige pagamento em dinheiro que na verdade estamos dando a essas empresas são toneladas de informação sobre nossos hábitos, gostos, pessoas com as quais nos relacionamos, lugares que frequentamos, preferências políticas, musicais, gastronômicas, etc. Sendo assim, empresas como o Google vendem essas informações a preço de ouro para o que de fato sustenta a Internet: a publicidade.

Você já deve ter reparado que logo depois que busca por determinado produto no Google parecem brotar em todos os sites que entra, propagandas sobre exatamente o que estava buscando. O nome dessa ferramenta chama-se AdWords e é responsável por 96% da receita do Google enquanto empresa[5]. Em 2011, 37,9 bilhões de dólares foram arrecadados através desse serviço. Este funciona a partir de propaganda direcionada, nos quais anunciantes podem pagar por cliques em seus banners ou por quantas vezes foram publicados. Os sites, por sua vez, negociam com o Google espaços para propaganda em suas páginas. Assim, a empresa faz o intermédio entre os anunciantes e os sites que viram verdadeiros “outdoors”digitais.

Para se livrar dos tantos processos judiciais de quebra de privacidade, o Google se defende dizendo que não lê nossos e-mails diretamente [6], mas que se por exemplo você recebe um e-mail que contenha o termo Disney, imediatamente aparece no banner de propaganda passagens para Orlando.

Já no Facebook, grandes marcas pagam para que suas páginas apareçam mais frequentemente nas linha do tempo dos usuários e podem até mesmo pagar pelo número de curtidas em sua página, tendo em vista que estudos provam que isso pode aumentar sua credibilidade no mercado [7]. Desta forma, basicamente, cedemos informação para que o marketing e propaganda das empresas possam ser cada vez mais certeiros e que no fim consumamos mais.

O lucro da Internet é baseado na expectativa de consumo de nós usuários que pagamos sendo bombardeados por centenas de propagandas diariamente. Além disso essas informações são cedidas para uso de pesquisas comportamentais que visam determinar perfis de consumo, tendências políticas e outros [8].

Em artigo publicado na Nature (uma das mais renomadas revistas científicas) [9], cientistas mostram como o Facebook pode influenciar nas eleições mostrando que 340 mil pessoas foram votar após receberem notificações que seus amigos haviam votado. A pesquisa envolveu 61 milhões de participantes, mostrando que o mundo online pode de fato influenciar massivamente no mundo real.

Atualmente temos liberdade de publicar o que queremos nas redes sociais, utilizar o email para os mais variados fins, publicar vídeos e usar todo o aparato da Internet para as diferentes causas. Esse espaço aparentemente democrático e gratuito tem que ser utilizado criticamente. Toda essa liberdade tem por trás grandes empresas e muito dinheiro envolvido. No fim, nós pagamos cada centavo dessa conta expondo nossas vidas e correndo risco de sofrer manipulações (pense se o Facebook apoiasse um determinado candidato nas eleições?), porque no capitalismo nada é de graça.

[1] http://www.nrdc.org/energy/data-center-efficiency-assessment.asp

[2]https://uptimeinstitute.com/uptime_assets/2ac9a6746aca543af8dff39894cfe8173afba21eb01c6fae33d52947222855ef-000.pdf

[3] https://www.google.com/about/datacenters/inside/locations/index.html

[4] http://www.datacenterknowledge.com/the-facebook-data-center-faq/

[5] http://www.webanalyticsworld.net/2012/01/how-does-google-make-money-2011-revenue-infographic.html

[6] http://www.theguardian.com/technology/2013/aug/14/google-gmail-users-privacy-email-lawsuit

[7] http://www.adweek.com/socialtimes/understanding-the-difference-between-facebook-sponsored-stories-page-post-ads-promoted-posts-and-marketplace-ads/288968

[8] http://www.forbes.com/sites/kashmirhill/2013/06/21/46-things-weve-learned-from-facebook-studies/#4d15c9881ee5
[9] http://www.nature.com/news/facebook-experiment-boosts-us-voter-turnout-1.11401




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