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8 DE MARÇO | CUT e CTB se negam a organizar a paralisação internacional das mulheres no Brasil

As centrais sindicais estão impedindo que a luta das mulheres brasileiras se conectem com os grandes fenômenos de luta internacional das mulheres na paralisação do dia 8 de março.

Diana AssunçãoSão Paulo | @dianaassuncaoED

sexta-feira 24 de fevereiro de 2017 | 22:10

Faltam menos de duas semanas para o 8 de março, dia internacional de luta das mulheres. Neste ano há uma intensa mobilização mundo afora com chamados a organizar não apenas atos, mas também uma paralisação internacional das mulheres, colocando ênfase na luta da mulher trabalhadora. Dos Estados Unidos Angela Davis, Nancy Fraser e outras ativistas chamam a uma paralisação de um feminismo para as 99% da população, contra o "feminismo neoliberal". Na Argentina, os grandes movimentos Nem Uma a Menos também chamam a mobilizar, e a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores, com o PTS e o grupo de mulheres Pan y Rosas à frente já começam a exigir das centrais sindicais uma paralisação real de toda a classe trabalhadora neste 8 de março.

Vivemos um momento de duros ataques por parte do governo golpista de Michel Temer, com a reforma trabalhista, a reforma da previdência e todos os cortes de orçamento no país, que também se expressa na crise dos estados, por exemplo com a privatização da CEDAE no Rio de Janeiro. Nem falar a situação real das mulheres em nosso país, com os altíssimos indíces de assassinatos e estupros, os altos números de mulheres mortas por abortos clandestinos, a diferenciação de salários entre mulheres e homens e principalmente entre mulheres negras e homens negros, o trabalho precário, a dupla jornada de trabalho, a falta de creches, os efeitos da reforma da previdência na vida das mulheres e a enorme opressão que vivem as mulheres negras em nosso país.

Diante de tudo isso as principais centrais sindicais como CUT e CTB se negam a incorporar esse chamado internacional. Estão impedindo que este enorme fenômeno da luta das mulheres que se expressa em vários países possa se fortalecer em nosso país com verdadeiras paralisações organizadas pelos sindicatos em todos os locais de trabalho.

Ambas centrais sequer fizeram um chamado a paralisar e estão batalhando para que as manifestações tradicionais do 8 de março não expressem essa conexão com as lutas internacionais das mulheres.

Já sabemos que a CUT e a CTB, apesar de agora estarem na "oposição" ao governo golpista de Temer, nada fazem para organizar seriamente a luta das trabalhadoras e dos trabalhadores. Estão em uma verdadeira trégua com o governo Temer, prometendo uma paralisação para o próximo dia 15 mas sem assembleias reais na base e separando a luta pelos direitos das mulheres da luta pelos direitos de toda a classe trabalhadora. É sintomático que a APEOESP, o maior sindicato da CUT, esteja organizando uma assembléia justamente no próximo dia 8 de março e simplesmente não fale sobre a luta das mulheres. Nossas companheiras professoras, como a diretora da APEOESP pela Oposição Alternativa Maíra Machado estão batalhando em todas as escolas para defender que neste dia 8 haja uma paralisação real ligando a luta dos professores e pela educação com a luta das mulheres, que são a esmagadora maioria na categoria de professores.

Entre os metroviários de São Paulo, CUT e CTB, além de defender com unhas e dentes um concurso machista de rainha de carnaval no sindicato, defenderam na assembleia que fazer uma paralisação no dia 08 de março atrapalharia a luta das mulheres. Foram até mesmo contra, assim como a maioria da Diretoria do Sindicato na aprovação de um colete roxo para ser usado pela categoria no dia 8, batalha essa dada na assembleia pela nossa companheira cipista Daphnae Helena. No Rio de Janeiro, nossa companheira Carolina Cacau lançou um chamado aos setores do PSOL e a todos os sindicatos e entidades a organizar a luta verdadeiramente na base, com reuniões amplas onde possa ser debatido um plano de luta dando batalhas com as companheiras do Pão e Rosas Rio de Janeiro também nas reuniões unitárias de construção do 8 de março pra que este plano de luta inclua também a organização do 8 de março e a expressão das lutas mais avançadas nacionalmente, como é hoje a luta da CEDAE. A partir do Sindicato dos Trabalhadores da USP e sua Secretaria de Mulheres será organizado um importante corte de rua com trabalhadoras, professoras e estudantes envolvendo várias entidades.

Em Minas Gerais haverá a paralisação das atividades da rede estadual de educação e das redes municipais de Contagem e Belo Horizonte e a unificação no ato do 8 de março. Porém, na rede estadual a assembléia não está sendo chamada partindo de unificar com as demandas das mulheres nesse dia de paralisação internacional. Essa unificação faz-se necessária também com base na força de mobilização dos trabalhadores da educação, exigindo da CUT e a CTB estender o chamado da paralisação e da luta pelas demandas das mulheres para outras categorias importantes como metalúrgicos, bancários e petroleiros, assim como passar a preparar pela base uma verdadeira greve da educação a partir do dia 15.

Nos outros estados, são ínfimas as propostas de organização real de uma paralisação, mostrando que

enquanto as centrais sindicais e os sindicatos não tomarem seriamente a luta das mulheres vão manter esta divisão que é de interesse dos patrões, dos capitalistas e dos governos, dividindo assim a classe trabalhadora, já que os impactos de todo o plano de ajustes se dá de forma muito mais intensa sobre os setores mais oprimidos da classe trabalhadora como as mulheres, os negros e os setores LGBT.

É mais escandaloso ainda o enorme abandono a que se vêem os milhares de trabalhadores terceirizados, em sua grande maioria mulheres e negros, que são ignorados pelos sindicatos oficiais que não defendem uma política de unidade das fileiras operárias - e mais escandaloso ainda que tenha sido justamente no governo do PT em que esse número atingiu o recorde de 13 milhões de terceirizados em todo o país.

Diante desta situação,

defendemos no próximo 8 de março uma paralisação ativa da classe trabalhadora, por isso exigimos que as centrais sindicais rompam com a trégua ao governo golpista de Temer e também que deixem de lado a agenda petista que só pensa na reeleição de Lula em 2018, e organizem seriamente a luta das mulheres na base.

Defendemos uma paralisação de toda a classe trabalhadora, com protagonismo das mulheres, porque consideramos que os trabalhadores homens também precisam levantar as nossas bandeiras, já que temos um inimigo em comum que é essa sociedade capitalista. Ao mesmo tempo, enquanto vemos um boicote das centrais sindicais, é fundamental que os sindicatos da esquerda organizem todo o tipo de ação que for possível neste 8 de março: paralisações, piquetes, cortes de rua, paralisações parciais. Vamos colocar a força das mulheres trabalhadoras conectadas com as lutas internacionais que questionam os governos mundo afora, como Donald Trump a cara mais racista e xenófoba do imperialismo, mas também com um feminismo que diga claramente que o capitalismo não dá mais.

No dia 8 de março, o grupo de mulheres Pão e Rosas vai participar dos atos unificados em todo o país em enfrentamento com o governo golpista de Temer mas com uma clara política independente da Marcha Mundial de Mulheres, composta pelas militantes do PT, que querem controlar nossa manifestação e querem fazer parecer que os ataques que vivemos começaram apenas agora, ignorando o anterior governo petista. O enorme levante das mulheres mundo afora já nos mostram que a nossa luta não pode ser instrumentalizada para manter a sociedade como está. Os 14 anos de governo do PT deveriam ter sido suficientes para mostrar que a estratégia de conciliação de classes abafa e sufoca a luta das mulheres, e foi por esta estratégia que se vendeu nosso direito ao aborto. Nossa estratégia é outra, também em contraposição com a estratégia reformista de separar a luta por mais direitos da luta anticapitalista.

Somos um grupo de mulheres socialistas e revolucionárias, lutamos na primeira fileira por cada um de nossos direitos, contra cada forma de opressão, mas o fazemos com a perspectiva de destruir este sistema capitalista.

Venha construir o 8 de março junto com o grupo de mulheres Pão e Rosas, batalhando no seu local de trabalho e estudo para ser parte da paralisação internacional das mulheres, exigindo conosco das centrais sindicais uma paralisação ativa no 8 de março como parte de um plano de lutas contra ao governo Temer e todas as suas reformistas trabalhista e da previdência. Vamos lutar por Nem Uma a Menos, pelo nosso direito ao aborto legal seguro e gratuito e pra enfrentar com toda nossa força o trabalho precário, que em nosso país tem rosto de mulher negra. E vamos luta contra esta sociedade capitalista, porque nós lutamos pelo direito ao pão, mas também às rosas!




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