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III CONGRESSO DA ANEL | O Congresso da ANEL termina com muita sede de luta, mas que precisa ser orientada

Nesse domingo terminou o 3º congresso da ANEL, a plenária final votou como principais orientações para o movimento estudantil a construção da greve geral da educação para responder os ataques do governo Dilma, votando um plano de luta com chamado a um dia de mobilização em 17 e junho e à participação do ato e da Plenária Nacional com o ANDES, FASUBRA e SINASEFE, nos dias 19 e 20 de junho.

Isabel Inês São Paulo

terça-feira 9 de junho de 2015 | 01:03

Nesse domingo terminou o 3º congresso da ANEL, a plenária final votou como principais orientações para o movimento estudantil a construção da greve geral da educação para responder os ataques do governo Dilma, votando um plano de luta com chamado a um dia de mobilização em 17 e junho e à participação do ato e da Plenária Nacional com o ANDES, FASUBRA e SINASEFE, nos dias 19 e 20 de junho.

Os debates fundamentais que permearam o congresso foram sobre a crise dos cortes na educação e a questão da terceirização, votando a incorporação de todos os terceirizados sem concurso publico. Um claro avanço para a juventude levar um programa consequente que defenda os postos de trabalho das terceirizadas e condições dignas de emprego.

Um programa que unifique a juventude contra os cortes

Para construir uma greve geral da educação a Juventude às Ruas (MRT e independentes) defendeu eixos claros de mobilização que unificam e orientam a juventude de todo o Brasil para direcionar a luta. Como centro, a luta por permanência estudantil, que, além de organizar os estudantes para impedir os cortes, também avança para não manter como está - já precário - mas sim garantir o direito de toda a juventude ao ensino e com condições de permanecer na universidade.

Ligado à estatização das vagas do FIES e PROUNI, como parte de organizar a juventude para lutar contra os lucros dos monopólios do ensino, e assim unificar os estudantes das universidades privadas e públicas em um programa concreto que defende que a universidade seja pública, para todos e a serviço da população.

A política levada pela majoritária composta pelo PSTU era de greve geral contra os cortes e “nenhum direito a menos”, ambas abstratas ao não dialogar com os problemas concretos dos estudantes, como o desmonte das universidades, afetando principalmente as políticas de permanência e as trabalhadoras terceirizadas, assim como a crise dos cortes no FIES e de milhares de estudantes endividados, enquanto o governo garante o lucro de cerca de 70% dos grandes monopólio a partir de repasses via FIES e PROUNI.

Mais uma vez o PSTU votou contra a política de estatização, mostrando que o seu programa não é capaz de responder a realidade, na medida que o governo já paga por essas vagas; também não vê que, sem combater as universidades privadas, a juventude mais pobre ainda vai ficar refém das altas mensalidades, o ensino público se manterá elitizado, além de manter empresas lucrando com um direito que deveria ser universal. Iniciar o combate pela estatização das vagas coloca a necessidade de estatizar todo o ensino, usando a estrutura que já existe do ensino pago para garantir que todo jovem tenha sua vaga garantida, tornando o vestibular inútil e chegando ao fim.

Em junho de 2013 já se provou que é preciso lutar pela estatização dos ônibus para dar uma resposta pela raiz à precariedade do transporte, agora, após essa experiência, o PSTU continua engessado sem conseguir responder aos estudantes das Universidades privadas. Lutamos para que a ANEL levante a estatização unificando a juventude do ensino publico e privado, para assim construir uma greve realmente geral da educação, que não só dialoga com os problemas dos jovens que já estudam, mas também com aqueles que estão fora, a juventude pobre e negra que não consegue arcar com uma mensalidade, nem passar nos vestibulares que filtram socialmente os que ao ou não entrar.

Como construir uma greve geral da educação sem articular os processos que já existem?

Uma semana antes do congresso, os noticiários marcaram a brutal repressão que ocorreu na UERJ contra os estudantes que foram apoiar os moradores da favela Metrô Mangueira, que estavam sendo despejados. A UFRJ e a UFF estão em greve, a UFNS também; uma das alunas relatou nos grupos de discussão da ANEL que assistem aulas em contêineres, as bolsas de auxilio estudantil foram cortadas para apenas 150 reais. Também as universidades federais e estaduais da Bahia estão em greve, a UFBA esta devendo 28 milhões por conta dos cortes. Esses exemplos se espalham pelo pais, e os cerca de mil estudantes que foram para o congresso esperavam sair de lá com um plano e política concretas para as suas Universidades.

Lutas já estão em curso, e têm no Rio de Janeiro o eixo mais dinâmico; fortalecer esse processo para fazer suas experiências emanarem pelo Brasil, e a partir daí construir um comando de greve nacional, é parte de construir um encontro de base no Rio de Janeiro com delegações do Brasil. A Juventude às Ruas defendeu essa como a principal tarefa da ANEL; a plenária do dia 19 e 20 com os funcionários e professores deveria ser parte de fortalecer e construir o encontro no Rio de Janeiro. Contudo, os estudantes tiveram que voltar para suas Universidades com muitas falas de esquerda, mas pouca proposta concreta.

A direção composta pelo PSTU defendeu contra realizar o encontro de base, alegrando já existir o do dia 19 e 20 em Brasília, criando uma falsa polêmica entre “querer construir só no Rio ou no Brasil todo”. Por trás dessa defesa existe, na verdade, uma concepção clara: o PSTU orienta a ANEL para uma política que prioriza acordos entre direções e entidades, e não uma política para fazer com que cada estudantes seja sujeito da própria luta, fomentando os comando de greves, e que oriente a entidade a ser um instrumento dinâmico que gira de acordo com a realidade.

Frente à crise no Rio, defendemos que a ANEL devia colocar todas suas forças para defender esses estudantes que já correm o risco da criminalização, mas também de fortalecer as lutas mais avançadas para que ela triunfe e sirva de exemplo.

Uma vitória no Rio de Janeiro poderia mudar completamente a conjuntura das greves no pais todo, infelizmente o PSTU votou contra o encontro, e deixou não só estudantes do Rio desarmados, mas também de todo o pais, na medida que não tiveram nenhum espaço para debaterem os rumos de cada mobilização, sequer uma reunião de comandos de greve teve no congresso.

Novamente o PSTU vota contra a democracia nos matérias da ANEL

O fato dos estudantes terem tido poucos espaços onde puderam colocar suas opiniões e serem sujeitos políticos, na medida em que nas mesas não tiveram direito a fala e só teve um dia de GD, é porque hoje a executiva da ANEL é dirigida centralmente pelo PSTU, que faz passar apenas suas posições. Com um discurso supostamente democrático, defendem que a direção da ANEL seja composta por todo estudante que quiser, e “votada” por aclamação nas assembleias nacionais.

Essa posição é o contrario de democrática, os estudantes precisam votar a sua direção a partir de critérios políticos, com as posições que têm mais acordo. Defendemos uma executiva votada nos congressos a partir de debates políticos, onde não só as correntes políticas tenham que colocar abertamente o que defendem, mas também que os grupos que ainda são minoritários, como secundaristas e das universidades privadas, possam fazer parte da direção e defender suas opiniões.

Essa concepção de direção da entidade levada pelo PSTU vem fazendo da ANEL cada vez mais um pólo de transmissão unicamente das suas políticas. Não à toa defenderam também contra que todas as posições dos grupos e estudantes que constroem a ANEL possam estar nos materiais.

Esse é um dos motivos do 3º congresso da entidade contar com apenas 1000 pessoas, muito menos que o último, que tinha quase duas mil. Os jovens hoje querem debater, expressar suas posições, e parte de avançarmos como movimento estudantil é fazer com que o debate seja rico e aberto nas suas polêmicas, assim que cada concepção e ideia possa se testar na realidade e fazer a luta avançar.

Infelizmente não é o que vemos na ANEL: a defesa contra a proposta da Juventude às Ruas de expressar todas as posições, inclusive as minoritárias, foi negada pelo PSTU, que em sua defesa disse abertamente que uma política derrotada não precisa se expressar. O que é bastante grave quando se trata de uma entidade onde os que a constroem tem acordos fundamentais em comum – aliança com os trabalhadores e antigovernismo – qualquer opinião dentro disso tem que ser ouvida e expressa, e não calada por ser minoritária.

Ex deputado no PT é chamado para mesa, trabalhadora terceirizada não

A maior polarização no congresso foi relacionada ao convite de Adriano Diogo (PT) para uma mesa sobre os rumos da esquerda. Em um momento onde esse partido está sendo rechaçado pela juventude, e para se pintar de esquerda coloca suas centrais sindicais na rua, CUT, CTB e também a UNE, para “defender a democracia” e o governo contra o suposto golpismo de direita, mas esconde que é o governo Dilma e Lula que triplicaram a terceirização e vem aplicando as medidas neoliberais de ajustes.

O que o PT pode falar sobre a esquerda no Brasil? Sendo que esse governo que reprimiu em Junho e reprime hoje os jovens e trabalhadores, o mesmo que se alia no congresso aos setores mais conservadores, como Eduardo Cunha, que fala contra os homossexuais e contra a vida das mulheres, sendo contrário à legalização do aborto. O fraco argumento do PSTU de chamar o PT na mesa para combater, foi rebatido com muitos aplausos pela defesa da Juventude às Ruas, que propôs um balanço com relação ao convite, e colocou “queremos combater o PT, mas para nós o PT vai ser combatido nas ruas!”.

O PT já tem a mídia para colocar suas ideias, e quer calar ainda mais as organizações de esquerda, votando a cláusula de barreira, que dificulta ainda mais os partidos de esquerda, sindicatos e entidades a terem sua representação política nas eleições e no congresso. Querem deixar ainda mais antidemocrático o já antidemocrático processo eleitoral e calar mais os jovens e trabalhadores.

É tarefa da ANEL não só combater o governo nas lutas, mas também nas ideias, a entidade tem o papel de ser um pólo de "contra política" à política da burguesia e seus governos. Contudo, o convite ao ex-deputado petista vai na contramão desse grande objetivo, que é ser uma entidade que vai fazer parte de formar uma juventude inconciliável com o governo.

Fazer os estudantes emergirem da luta por educação como sujeitos políticos

O congresso mostrou uma juventude com anseio de mudança, indignada não só com as condições precárias da educação, mas com os rumos da sociedade, quando a realidade da crise imposta pelos governos coloca cortes, diminuição da maioridade penal, ataque aos trabalhadores etc. Através da luta por educação, seja por mais moradia, creche, pelo FIES, a juventude pode emergir como um sujeito político, que não só quer defender o próprio estudo, mas que vê em cada batalha a luta pelo conhecimento para a classe trabalhadora.

Também se expressou no congresso com muita força a luta das mulheres e homens trans, mas também da juventude negra, debatendo o problema da redução da maioridade penal e o genocídio policial. Questões polêmicas na sociedade, em que a juventude deve se colocar na linha de frente de defender todos os setores mais oprimidos.

Nesse sentido lutamos para que a ANEL seja parte de reorganizar o movimento estudantil, superando o âmbito sindical, e indo para a luta política para disputar o conhecimento e colocá-lo a serviço da sociedade, uma juventude mais "Maio de 1968", que vê a aliança com os trabalhadores nas ruas, mas também disputando a construção de novas relações, de outra sociedade, contra a atual sociedade de classes e exploração. Esse espírito já está em germe na juventude hoje, esperando para explodir.




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