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Natal | Moradores que perderam casa em desabamento protestam contra Álvaro Dias com "mêsversário"

Na última quinta-feira (21/09), os moradores da Rua Marcassita, em Neópolis, que sofreram com o desabamento de 10 casas, protestaram com um "mêsversário" com direito à bolo, contra o prefeito Álvaro Dias, por sua total inação e responsabilidade na tragédia. O desabamento ocorreu pois há uma lagoa de contenção por trás das casas que vem se deteriorando há tempos, e mesmo com os moradores avisando há anos dos perigos de desabamento, nada foi feito. A governadora Fátima também é responsável, pois se alia com a oligarquia dos Alves, que são estruturalmente responsáveis por essa situação.

João Paulo de LimaEstudante de Ciências Sociais - UFRN

terça-feira 26 de setembro de 2023 | Edição do dia

Foto: Vinícius Marinho/Inter TV Cabugi

Descarregando mais uma vez a crise e a precarização nas costas da classe trabalhadora natalense, o prefeito Álvaro Dias (Republicanos) deixou que 10 casas sofressem desabamentos em Neópolis, Zona Sul de Natal (RN). Oito dessas casas já haviam sofrido desabamentos no dia 21 de agosto, há exatamente um mês atrás, afetando 26 pessoas de sete famílias diferentes. E agora no dia 19/09 mais 2 casas sofreram com o desabamento parcial. As casas se localizam na Rua Marcassita, com 26 pessoas ficando desalojadas. Não há informações de pessoas feridas.

No último dia 21/09, os moradores fizeram um protesto contra o descaso e atraso na reconstrução das casas pela prefeitura. O protesto no local do desabamento ocorreu com os moradores inclusive levando um bolo de "mêsversário" de exatamente um mês da tragédia, uma forma legítima e criativa dos moradores de chamar a atenção para essa situação e que escancara ainda mais a bizarra e odiosa gestão de Álvaro Dias, um inimigo declarado da população trabalhadora e pobre.

Os moradores tinham faixas com cobranças. "Prefeito, cadê a reconstrução das nossas casas e da lagoa? Você prometeu e até agora nada", diz uma das faixas. "Vieram só no dia do ocorrido e mais nada", declarou uma das moradoras.

“Nós estamos sem saber de nada. O que vai acontecer ou quando vai começar as obras. Queremos um posicionamento da Secretaria de Infraestrutura.”, desabafou Luzimá Medeiros, uma das moradoras afetadas pela tragédia, em entrevista para o jornal Saiba Mais.

Em reportagem ao vivo na RNTV da Inter TV Cabugi (Rede Globo), uma das moradoras ofereceu o primeiro pedaço do bolo para Álvaro Dias, que após um mês não tomou nenhuma medida. Veja o vídeo da reportagem:

A tragédia, que não tem nada de natural, ocorreu após a queda do muro de contenção da lagoa de captação Ouro Preto, localizado no conjunto Pirangi, o que fez com que parte dos quintais das casas também fossem ao desabamento. A lagoa de captação está se deteriorando e se alargando há muitos anos, o que causa rachaduras nas paredes, como relata alguns dos moradores que sofreram com o desabamento. Até agora nada foi feito no local, além da colocação de lonas pretas.

Diversos relatos de moradores vítimas do desabamento vem expressando sua profunda indignação pela inação e descaso do governo, já que esses mesmos moradores já vinham alertando a prefeitura e órgãos do Estado sobre os perigos de haver um desabamento.

Em outra reportagem mais antiga, ao vivo também na RNTV no local do ocorrido, o prefeito Álvaro Dias tentava colocar em panos quentes a situação lastimável e acobertar a sua responsabilidade por mais esse "tragédia" de sua gestão, dizendo, entre outras coisas, que todas as medidas estavam sendo tomadas para restaurar os imóveis, mas a mesma moradora que ofereceu o bolo,estava ao lado do prefeito, respondeu de forma bastante afiada e indignada que a situação poderia ter sido evitada, deixando o prefeito desorientado e sem saber o que responder, justamente porque ele não tinha como refutar a verdade dita pela moradora:

Outro morador, Luíz Gomes, também deu seu relato à TV Cabugi: "Eu me levantei, estava escovando os dentes e ouvi um estalo - teco, teco - fiz carreira, pensei que a casa ia embora toda".

"A gente estava dormindo, quando pensou que não escutou um barulho muito forte e caiu os muros das casas do povo. Na minha casa eu ainda botei muito ferro, mas vai cair o meu muro e a área de serviço. Ficou tudo rachado", disse outra moradora da rua, Maria José.

A dona de casa Luzimar Medeiros, 53, que mora na rua há mais de 20 anos, disse que os moradores já tinham tomado diversas iniciativas, cobrando a prefeitura a tomar medidas para evitar o desabamento e uma tragédia maior.

"A gente já tinha ido a várias audiências junto com o secretário, já chamei a Defesa Civil outras vezes, já vieram aqui, sempre a gente entrando em contato com eles e contando a situação da lagoa, as paredes cedendo. A minha casa já foi quatro vezes reformada lá atrás, a gente já gastou o que tinha, o que não tinha, porque a gente via rachadura no chão, aí mandava ajeitar, mas de noite eu olhava e estava de um jeito, quando era de manhã já estava de outro jeito", disse a dona de casa.

"A gente pedia a manutenção da lagoa, porque desde que essa lagoa foi feita, só teve uma única vez que foi feita a manutenção e nunca mais. Nunca mais. A Urbana veio na semana passada, depois de tanto a gente lutar, de tanto ofício, eles vieram limpar, mas o encarregado disse que não ia botar os homens dele para trabalhar porque era arriscado a qualquer momento cair", concluiu.

Ao jornal Tribuna do Norte, a dona de casa disse que “isso estava previsto para acontecer porque faz mais de dois anos que a gente luta, com ofício, com a Prefeitura, para manutenção da lagoa. Com todos os órgãos envolvidos sobre a lagoa. A gente tem ido em audiência junto com o secretário, esperando fazer a manutenção e nunca foi feito essa manutenção, faz mais de dois anos”.

Segundo Luzimar, no dia 18/08, a Urbana foi ao local para fazer a limpeza da lagoa, mas os trabalhadores não fizeram o serviço na parte de cima pois o risco de desabamento já era iminente. “O rapaz, o encarregado do pessoal que estava trabalhando, disse a mim que não ia colocar os homens para trabalhar na parte de cima porque estava previsto a acontecer isso que aconteceu”, diz a moradora ao jornal potiguar.

Está prevista para acontecer uma audiência na Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Natal com o secretário de Infraestrutura do Município, Carlson Gomes no dia 27 de setembro.

De forma arrogante e cínica, o secretário, buscando isentar a gestão Álvaro Dias da responsabilidade pelo desabamento, disse que as obras de reconstrução da área que desabou “não se faz de um dia para o outro”, como se essas obras já não pudessem ter começado muitos anos atrás, evitando que as famílias perdessem suas casas e ficassem desabrigadas.

“Logo após o desabamento foi feito um estudo da obra por uma empresa contratada pela prefeitura, um projeto daquela magnitude não se faz de um dia para o outro, estamos aguardando que seja apresentado este projeto”, disse o secretário.

Enquanto famílias perdem as suas casas e toda a população sofre com os alagamentos e crateras anualmente na cidade, fruto da falta de investimentos do prefeito Álvaro Dias, o mesmo investe mais de 76 milhões na “modernização” da orla de Ponta Negra, e ainda busca obter mais 32,563 milhões do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) do governo Lula-Alckmin para esse investimento que não tem nada de “modernizador” e na verdade segue uma política que, além de destruir as praias, é uma política higienista, de gentrificação e privatização da orla urbana, buscando expulsar pescadores que vivem da pesca a várias gerações e comunidades tradicionais, além de destruir a biodiversidade, tudo a serviço dos lucros dos empresários das redes de hotel, da construção civil e do mercado imobiliário.

Além disso, é preciso ressaltar que a governadora Fátima Bezerra (PT) também é responsável por essa situação de descaso que deixa famílias em condições de moradia vulneráveis e pela situação precária da infraestrutura urbana das cidades potiguares. Fátima, além de colocar a sua PM para reprimir ocupações, também controla a CAERN, de saneamento de água e esgoto pelas lagoas de captação que transbordam, inundam as casas e a força das águas abrem crateras. São dezenas de crateras abertas em toda a região.A governadora, com o seu vice Walter Alves (MDB), se alia com a oligarquia dos Alves,que junto com outras oligarquias do agronegócio no RN, são estruturalmente responsáveis por essa situação.

É necessário um plano de emergência com brigadas populares, impulsionadas pelos sindicatos e movimentos sociais, de trabalhadores e estudantes, para realizar uma operação de acolhimento às famílias, bem como a mobilização de técnicos e especialistas da UFRN e outras universidades para organizar um plano de reconstrução das casas e da encosta, junto com a drenagem das lagoas que toda vez em que há chuvas geram alagamentos, junto aos trabalhadores e estudantes.

Sabemos que esses casos absurdos sempre ocorrem em Natal e no RN, e infelizmente não vão deixar de acontecer se seguirmos sendo governados por governos a serviço dos ricos e capitalistas. Ano passado houveram alagamentos e abertura de crateras na cidade de Natal, como se viu no bairro de Felipe Camarão, fruto do desastre da construção civil que está a serviço dos capitalistas. No ano passado, nós da Juventude Revolucionária e membros da antiga gestão do Centro Acadêmico de Ciências Sociais da UFRN cobrimos e denunciamos essas crateras em Felipe Camarão, inclusive organizando a solidariedade e doações dos estudantes da UFRN, buscando sempre ao lado dos moradores e da classe trabalhadora:

E não é só algo que sempre acontece no RN, mas também em todo o Brasil, como diversos desabamentos nas favelas do Rio de Janeiro e outras tragédias em outros estados, como por exemplo agora no Rio Grande do Sul, onde a irresponsabilidade do governador Eduardo Leite (PSDB) não fez absolutamente nada para evitar a catástrofe anunciada que seria a chegada de um ciclone que atingiu centenas de milhares de pessoas e matou dezenas de pessoas. Isso também é fruto da brutal e desenfreada destruição do meio ambiente no Brasil e no mundo todo pela sede de lucro dos capitalistas.

Isso só evidencia a necessidade da luta por uma reforma urbana radical, começando pela desapropriação imediata de todos edifícios abandonados, seguindo por sua reforma para destinar às famílias mais necessitadas. Também com um plano de obras públicas voltado não aos lucros da especulação imobiliária e sim às necessidades dos trabalhadores e dos pobres. Um plano controlado por trabalhadores que gerem emprego para construção de moradias populares com condições dignas próximas às regiões urbanas e das regiões onde se empregam os trabalhadores e obras que regularizem o abastecimento de água e o saneamento básico.




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