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LUTA DE CLASSES NA FRANÇA | Juan Chingo: “França combinou distintas resistências que na Europa haviam se dado isoladamente”

Juan Chingo, do comitê de redação de Révolution Permanente, interviu no bate-papo "A Luta de classes na França", colocando que existe uma situação dramática, porém ao mesmo tempo promissora.

terça-feira 19 de julho de 2016 | Edição do dia

"A especificidade da França é que combinou distintas resistências, que na Europa se tem dado isoladas. Ainda que descompassada, combinou a luta da juventude, dos secundaristas e sobre tudo uma grande intervenção do movimeno operário. Em que um monte de setores estratégicos, como refinadores, portuários e aterros, participaram deste movimento". Com esta definição começou Juan Chingo sua exposição sobre a situação na França e uma análise das perspectivas que podem abrir-se nos próximos meses.

"Todos estes setores e alguns outros como o metalúrgico, ainda que não chegaram a paralizar o conjunto deste ramo, mostram que poderia desenrolar também ali uma dinâmica muito interessante".

A situação do governo é de grande debilidade, assinalou. "Hollande e a burguesia francesa conseguiram passar o essencial da lei, porém para isso o governo teve que fazer enormes concessões de todo tipo, manobras. Dando concessões para evitar o canto de ’tous ensemble, greve geral’, uma perspectiva que esta está na cabeça da vanguarda".

"A especificidade da França destaca no contexto europeu, no marco mais negro do Brexit e a volta do soberanismo reacionário e depois do fracasso brutal da experiência do Syrisa, que em forma recorde passou do reformismo de esquerda ao neoliberalismo. França mostra uma dinâmica distinta e por isso é interessante não somente como discussão francesa e europeia, mas também como mundial. Em um contexto em que começa a haver golpes reacionários, como vimos na América Latina, ou intenção de golpes falidos como vimos sábado na Turquia".

Chingo destacou o feito de que tem sido setores fundamentais da sociedade, os que podem mudar as coisas de fundo, a juventude e o movimento operário, os que se converteram em atores privilegiados do conflito social. Uma nova vanguarda combativa e determinada a mudar.

"E apesar de que a reforma trabalhista terminou sendo votada, emergeu uma vanguarda mais determinada, que é uma minoria a respeito das massas, porém é uma vanguarda de centena de milhares que participaram em um dos movimentos sociais mais amplos da França".

"O movimento sempre desfrutou de ums simpatia operária e popular, apesar das campanhas midiáticas brutais. Nos dá a impressão que a diferença de 2010 no movimento contra as pensões - que terminou em uma derrota e depois foi levata até o ’antisarkozismo’, em que existe uma vanguarda grande que segue tendo determinação. Não é casual que as centrais sindicais tenham chamado uma jornada de manifestação dia 15 de setembro, depois das férias. Veem-se obrigadas a faze-lo".

Sobre a possibilidade de que o PS fosse recuperar parte de sua base social perdida, apelando ao "mal menor" nas eleições, Chingo defendeu que "existe uma experiência com o governo de esquerda, um setor que era base social do PS e agora é muito difícil que possam voltar a convence-lo do "voto útil". Por esse motivo, plantou-se a hipótese de que pode haver "continuidade no movimento social de luta".

"O segundo elemento que nos faz pensar que pode haver continuidade é que Hollande superou a direita em medidas de segurança e ataque as liberdades, uma reação em toda linha. Porém o próximo governo vai ser muito pior, mais neoliberal, mais a direita". Como perspectiva, apontou que como a direita vai garantir "golpes duros", é provável que se desenvolvam novas respostas de luta de classes.

Outro fator que pesa com força na situação política francesa, e mais nestes últimos dias, é a questão dos atentados do Estado Islâmico. O último atentado de Niza, que deixou um saldo trágico de mais de 80 mortos, foi reivindicado por esta organização. Para Chingo, isto acelera as contradições do governo, já que é "um ataque que se passa depois de meses da aplicação do estado de emergência, pelo que a gente começa a pensar que a polícia é muito ’eficaz’ contra os grevistas, porém não contra os terrosristas".

Sobre as perspectivas do movimento social na França, apontou a necessidade de um programa de emergência frente a situação atual: "Ou a classe trabalhadora e a juventude liceísta dão uma resposta, não somente na defensiva, contra o racismo do Estado, a islamofobia e a repressão policial aos imigrantes, uma verdadeira saída para estes setores, ou as forças de extrema direita como Marine Le Pen seguiram capitalizando o mal estar social".

No momento atual se planta disjuntivas urgentes: "Se a classe trabalhadora não começa a apresentar um programa e reivindicações contra a difícil situação das populções da banlieue - uma resposta a desocupação estrutural, as discriminações, etc. - a vitória vai ter Daesh e sua teoria do caos, ou um estado lepenizado, porém bonapartista".

"A situação na França é dramática, a frente que é promissora. Porque está o movimento social, estão também seus limites, e sobretudo está também existente uma repressão crescente brutal".

Chingo também destacou os importantes limites que se manifestaram durante estes meses de luta contra a reforma trabalhista na vanguarda: "houve poucas tendências a auto-organização e a democracia operária dos grevistas e se isso não muda, não existe forma de superar a burocracia".

"O movimento foi muito forte, muito intenso, muito amplo, porém não se generalizou, a greve não se generalizou e não houve greve geral, não foi um maio de 68, nem tão pouco como CPE em 2006, teve limites na massificação".

A complexa situação na França, suas agudas contradições colocam novas tarefas para os militantes anticapitalistas, foi uma das conclusões mais importantes de sua exposição. "Tem que desenrolar um programa de conjunto contra as contradições e a especificidade do capitalismo francês, seu caráter rentista, produtor de armas, de suas relações perversas com os governos mais reacionários da África (ultimamente, as amplia ao Egito e aos Emirados Árabes). É necessária uma resposta de conjunto, não somente contra a lei de trabalho, mas também contra a podridão do capitalismo".

"Se a classe operária não dá uma resposta ao ataque neoliberal, crescerá Daesh e a reação. Os atentados tem servido para aumentar o bonapartismo, medidas reacionárias que não se utilizam contra Daesh e sim, contra os movimentos de massas (como demonstra a imensidão de detidos dos últimos tempos)".

"E para esta nova etapa que se vem, já estamos nos preparando: Révolution Permanente foi uma das vozes da luta. Queremos intervir bem na realidade da luta de classes, ao mesmo tempo um meio de massas que fala com centenas de milhares. Os comitês de Révolution Permanente se encheram de gente. A política dos revolucionários começa a ser escutável e começa a mudar certas atitudes. Tudo indica que poderíamos ter algo que dizer na situação que se abre".

"Neste contexto, a Corrente Comunista Revolucionária dentro do NPA teve que se provar em uma luta intensa. Até agora, havia se vivido uma situação não revolucionária bastante reacionária. Porém com a mudança da situação política na França, acreditamos que as tarefas e a situação tem mudado radicalmente" concluiu.




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