Nesta quinta (17) ocorre a delação premiada de Walter Delgatti, hacker preso no último dia 2 e que teria sido procurado por Carla Zambelli para tentar provar que as urnas eletrônicas são fraudáveis. Em depoimento à CPMI dos atos bolsonaristas do 8 de janeiro, o hacker afirmou ter se reunido com Bolsonaro no Palácio da Alvorada para tratar de uma tentativa de fraude às urnas eletrônicas e possibilitar o questionamento das eleições. Ele também afirma ter ido cinco vezes ao Ministério da Defesa e ter se reunido com generais, inclusive com o então ministro Paulo Sérgio Nogueira. Além disso, o ex-presidente teria lhe garantido indulto no caso dele ser pego nesta tentativa, dizendo que o hacker estaria "salvando o Brasil".
quinta-feira 17 de agosto de 2023 | Edição do dia
Segundo o hacker, o plano de Bolsonaro, dos militares e do PL é que Delgatti fosse "garoto propaganda" deles, mas esse plano não teria sido executado. A proposta, então, era que o hacker mostrasse em vídeo, com um aplicativo criado por ele, a possibilidade de violar as urnas e fazer com que elas registrassem um voto diferente do que foi digitado. Em seu depoimento ele ainda afirma que os funcionários do Ministério da Defesa, subordinados ao general Paulo Sérgio, decoravam partes do código-fonte das urnas para passar ao hacker, pois não tinham como anotar essa informação, o que mostra o quão envolvidos estavam para executar o esquema a serviço da extrema-direita, apontando inclusive uma possibilidade direta de fraude das eleições, forçando a correlação de forças nacional no sentido de favorecer suas aspirações golpistas. Delgatti também afirma ter provas de tudo que diz e desde já seu depoimento cai como uma bomba para a extrema-direita e para todos os generais que eram parte da cúpula do ex-governo.
A delação ocorre após ele ter afirmado na última quarta (16), segundo seu advogado, que recebeu R$40 mil de Carla Zambelli para invadir sistemas do Judiciário. No depoimento, o hacker também relatou uma conversa entre ele e Bolsonaro, mediada por Zambelli, em que Bolsonaro teria afirmado ter obtido um grampo de Alexandre de Moraes feito por uma pessoa que estava no exterior, e pedia que o hacker assumisse a autoria do crime. Carla Zambelli também teria solicitado ao hacker a invasão do email de Moraes.
Não é a primeira vez que o hacker ganha enorme projeção na política nacional. Ele foi responsável pelo vazamento de informações da Vaza Jato, que escancararam os evidentes objetivos políticos da operação liderada por Sergio Moro. Seu depoimento agora surge em meio aos escândalos das vendas de joias e relógios que demonstram os conchavos de Bolsonaro e militares enquanto atacavam os direitos da classe trabalhadora e do povo. A veracidade das informações trazidas pelo hacker e seus objetivos ainda estão por se provar, mas é fato que reforçam uma movimentação do regime político em busca de sua estabilização às custas de debilitar ainda mais o setor da extrema-direita mais diretamente ligado a Bolsonaro, colocando a possibilidade de prisão do ex-presidente no horizonte. Essa ofensiva se dá 3 dias depois da extrema-direita ter bons resultados nas eleições prévias da Argentina com Milei, um aliado de Bolsonaro. Nesse sentido, o judiciário também busca prevenir maiores efeitos que isso possa ter no Brasil, bloqueando uma possível recomposição do ex-presidente apoiada no cenário do país vizinho.
O objetivo de estabilização do regime político que está por trás do debilitamento da extrema-direita levado à frente pelo judiciário conflui com a própria política do governo Lula-Alckmin. Ao mesmo tempo que expurgam Bolsonaro, mantêm intacta sua herança de reformas e privatizações, que só poderá ser derrotada com a luta organizada da classe trabalhadora e dos setores oprimidos, se enfrentando também com os ataques colocados pelo atual governo em conciliação com a direita, como o Arcabouço Fiscal.
