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59° CONUNE | “É urgente refundar uma Oposição de Esquerda da UNE, independente dos governos e das burocracias”, diz Virgínia Guitzel

O Esquerda Diário entrevistou Virgínia Guitzel, estudante da UFABC, Camila Begiato, da USP, e Samuel Freitas, da UFMG, a respeito das batalhas da juventude Faísca Revolucionária rumo ao CONUNE e de seu chamado para refundar uma Oposição de Esquerda, combativa e independente dos governos e burocracias.

quarta-feira 14 de junho de 2023 | Edição do dia

ED: Por que vocês estão chamando Plenárias para refundar uma Oposição de Esquerda, combativa e independente dos governos e burocracias?

Virgínia Guitzel: Nós da Faísca Revolucionária e do grupo de mulheres e LGBTQIAP+ Pão e Rosas estamos colocando no centro da construção das nossas chapas comunistas, formadas junto a centenas de estudantes independentes, e no debate com os estudantes na base, a necessidade de uma UNE independente do governo Lula-Alckmin. E é a serviço desse conteúdo que estamos fazendo um chamado a Plenárias para refundar uma Oposição de Esquerda na UNE. Isso após anos em que a UNE apostou na conciliação com nossos inimigos como via de enfrentar a extrema direita, sem qualquer política alternativa à majoritária se expressar, o que significou conter a força dos estudantes e deixar passar vários ataques, como as reformas. Achamos que a independência do governo agora não é uma questão qualquer, mas sim decisiva, já que estamos no primeiro ano do governo da frente ampla, composta por burgueses de todo tipo, inclusive por bolsonaristas, e, em pouco mais de 100 dias de governo, Lula já aprovou seu primeiro grande ataque nacional na Câmara. É o arcabouço fiscal, que significa um novo teto de gastos e pode levar ao congelamento de salários no funcionalismo público e de contratações, com mais terceirização. Por essa via, pode significar mais precarização da educação, já que sabemos que o ataque às condições de trabalho nas universidades também se trata de uma forma de precarizar nossas condições de estudo e que a terceirização é uma porta de entrada para o trabalho semiescravo. Além disso, a lógica que guia esse ataque é a de subordinar nossas riquezas nacionais ao imperialismo, que saqueia nossos cofres sistematicamente com a dívida pública, ilegal, ilegítima e fraudulenta.

Camila Begiato: Não vai ser apoiando esse ataque neoliberal, ao qual os partidos da direção majoritária da UNE (PT e PCdoB) votaram favoravelmente, ou de mãos dadas com os conglomerados milionários que lucram com a educação, que vamos arrancar permanência estudantil de acordo com a demanda ou a revogação integral do novo Ensino Médio. Pelo contrário, precisamos enfrentar esses ataques na luta. Somente entidades independentes dos governos podem assegurar não só que o orçamento da educação atacado nos últimos anos seja recomposto não pagando a dívida pública, como também que cada estudante possa entrar e permanecer na universidade. Por isso, esse chamado está a serviço de articular uma Oposição que coloque esse combate pela independência do governo no centro.

Samuel Freitas: Sim, além disso, acaba de ser aprovado na Câmara um ataque bastante duro contra os povos indígenas e também contra o meio ambiente, que foi o Marco Temporal e a MP que flexibiliza o desmatamento da Mata Atlântica. Nós da Faísca estávamos na semana passada com os indígenas que acampavam em Brasília, apoiando essa luta, e se mostrou mais uma vez como o único caminho para enfrentar o Marco Temporal é confiando nas nossas forças, e não em instituições como o STF e o Senado. Imaginem se as entidades estudantis, a começar pela UNE, tivessem organizado centenas de ônibus pelo país para que nos somássemos à luta indígena, e também batalhassem por uma paralisação nacional unindo estudantes, com indígenas à frente, e trabalhadores contra o Marco Temporal e o arcabouço fiscal. Uma entidade atrelada ao governo federal não faz isso, porque teme a força dos povos indígenas em luta junto aos trabalhadores. Afinal, a base aliada do governo deu 100 votos ao Marco Temporal e esse governo está rifando as pautas indígenas e do meio ambiente em acordos com o centrão e o agronegócio. A conciliação de classes somente abre espaço para a extrema direita.

ED: A quem vocês estão direcionando esse chamado?

Camila: Estamos chamando todes es estudantes independentes e também nos dirigimos em particular às juventudes Rebeldia (PSTU) e Vamos à luta (CST) nacionalmente, para que impulsionemos juntos plenárias em cada universidade em que estamos para refundar uma Oposição de Esquerda e nos prepararmos desde agora pro Conune. Uma parte da antiga Oposição de Esquerda da UNE, como os coletivos Afronte e Juntos, são do PSOL, partido que diretamente compõe o governo federal, com Ministério e também com a vice-liderança do governo na Câmara. Não é possível ser oposição à majoritária da UNE e a seu burocratismo, quando os mesmos partidos estão juntos compondo o governo que ataca e negocia contra o nosso futuro. Para não mencionar que esses coletivos, como é o caso do Afronte, estão diretamente compondo chapas com o PT, a UJS e o Levante Popular da Juventude em várias universidades, como vimos na UFRGS.

Virgínia: É importante dizer que setores como a Correnteza (UP) e a UJC (PCB), apesar de terem um discurso de oposição à direção da UNE, na prática não atuam como oposição. Nas universidades em que dirigem DCEs, como na USP, não são uma alternativa à política da majoritária, recusando-se a chamar assembleias dos estudantes e sem exigir que essa entidade nacionalmente organize nossa luta. Pelo contrário, em lugares como na UnB e na UFRGS, inclusive repetem os mesmos métodos da burocracia quanto às eleições de delegados para o CONUNE, com critérios bastante anti-democráticos para a inscrição de chapa, de modo a excluir a maioria dos estudantes e uma parte das organizações que queiram participar. O que mostram é que, para eles, a disputa por cargos está no centro. Claro, também estão com a política do PT e do PCdoB em sindicatos importantes do país, como foi o caso do Sindicato de Metroviários no ano passado, quando a UP apoiou a chapa da burocracia contra a esquerda unificada (e foi derrotada) ou recentemente o caso da Apeoesp (sindicato de professores do estado de São Paulo, um dos maiores da América Latina), quando o PCB, assim como o PSOL, fechou com a chapa 1 da Bebel, dirigente histórica do PT que vota com o bolsonarista Tarcísio pelo PL na presidência da Alesp. Não é um detalhe porque foram eleições muito fraudulentas, e a UP também fechou com a burocracia em várias cidades (subsedes). Nacionalmente, no ANDES, sindicato de professores das universidades federais, também apoiou a burocracia. Se vemos o papel que as burocracias cumprem para frear nossa luta no movimento estudantil, isso não é diferente nos sindicatos, onde precisam conter os trabalhadores para preservar e negociar suas posições com a burguesia. Esse tipo de adaptação também não é algo que é novo para esses partidos, que sempre tiveram uma estratégia e política de adaptação a governos de conciliação de classes, o stalinismo historicamente cumpriu esse papel.

Samuel: Eu concordo que, infelizmente, essa é a situação agora e queria chamar todes es estudantes que se referenciam na Correnteza ou na UJC, mas que querem construir uma Oposição de Esquerda de fato, a construírem junto conosco o chamado a Plenárias para refundar a Oposição em cada universidade e no CONUNE. Seria ótimo se essas organizações rompessem com sua política atual para serem parte de refundar essa Oposição, mas, enquanto e se isso não acontece, é muito importante que tenham estudantes batalhando por uma articulação que verdadeiramente enfrente a burocracia. Nosso futuro não se negocia.

ED: Quais seriam as tarefas para as Plenárias que vocês estão propondo?

Camila: Eu acho que o principal objetivo é mostrar para os estudantes que, mesmo que tenhamos saído em chapas separadas nas universidades, como em relação à Rebeldia e ao Vamos à luta, queremos unir esforços para construir essa articulação anti-burocrática e independente do governo no Congresso dos Estudantes da UNE. Mais do que isso, queremos que isso seja preparado desde já junto ao máximo de estudantes de cada universidade que vêem a importância de uma UNE combativa no próximo período. Achamos que Plenárias assim permitiriam debater quais são nossos desafios para que a UNE seja de fato independente do governo, com um programa para que os capitalistas paguem pela crise e também em defesa da auto-organização, da organização pela base em cada universidade, com assembleias e espaços de deliberação. Desde já, achamos que a exigência para que a UNE chame uma paralisação nacional contra o Marco Temporal e o arcabouço fiscal, se votada em várias plenárias pelo país, por exemplo, teria muito mais força, para defender a unidade de estudantes, indígenas e também trabalhadores, se dirigindo aos sindicatos. Para além disso, em plenárias como essas, nós da Faísca levariamos a importância da une defender os setores mais precários dentro das universidades, é o que estamos levantando com a batalha pela efetivação de todes trabalhadores terceirizades e de bolsas de um salário mínimo para toda a demanda com reajuste de acordo com a inflação. Isso mostraria uma política alternativa à burocracia. Por isso, não somente estamos agitando essa proposta de Plenária com panfletagens, vídeos e passagens em sala, como diretamente estamos procurando as organizações que vemos que poderiam ser parte de refundar uma Oposição conosco - mesmo que tenhamos diferenças entre nós, no que tange ao papel reacionário do Judiciário no regime brasileiro e à Guerra da Ucrânia, por exemplo. Por fim, reforçamos que chamamos cada estudante independente que concorda com esse conteúdo a construir essa proposta conosco.




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