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VIOLÊNCIA POLICIAL | Crianças entre tiros: Relato de uma moradora da Maré

Compartilhamos aqui o relato sobre o acontecido hoje de manhã na Maré no Rio de Janeiro de Josiane Pinto Bezerra, moradora do Complexo da Maré e estudante de Serviço Social.

Hoje pela manhã como de costume levantei, me arrumei e fui para o estagio, cansada depois de um feriado, mas vamos lá voltar a rotina, tudo normal aparentemente, aula normal.. por volta de 9:30 ouve-se tiros, as crianças gritam mas tentamos acalma-las, afinal vai passar, e conversando com elas para acalmar depois de uma breve trégua, pedimos que voltasse, besteira, ilusão, foi aí que começou...

Tiros por todos os lados, perto, muito perto, pedimos que sentassem no chão, mas os tiros não cessavam, quando olhei a sala ao lado vi a professora com sua filha cadeirante no chão, triste... medo... As paredes da escola são de compensado, receio do pior, então colocamos elas no corredor, sentadas ao chão, algumas em prantos, chorando muito, uma aluna que tem dawn me perguntou, tia vou morrer? O que falar? Como acalmar uma criança se vc também está desesperada?.

Infelizmente isso não é novidade para nossas crianças, moramos num lugar onde isso é "natural", temos nossos direitos violados todos os dias, direito a ir e vir, a educação, ao lazer, e tantos outros que nos são negados. Uma senhora trabalhadora foi baleada, no mesmo dia em que um menino de 12 anos é morto na comunidade do Manguinhos, o pobre não tem direito nem a brincar na porta de casa, de tomar sua cerveja no bar da esquina, somos apenas números, mais uma para dar um voto, mais um nas estatísticas, mais um morto... Apenas números...

A culpa é de quem? Hoje em um grupo de amigos acompanhava as discussões, onde diziam que a culpa é do morador que não tem que estar na rua... Meu Deus... Como acreditar que o próprio oprimido reproduza esse discurso? O estado mata, o estado segrega, somos apenas marionetes nas mãos dessa sociedade capitalista que só visa o lucro e o extermínio da população pobre e negra. Só um desabafo de uma moradora do complexo da Maré.

O estado falha, a pacificação não pacifica e só nos resta esperar por um milagre.




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