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VIOLÊNCIA POLICIAL | “Bandido bom é bandido morto”?

quarta-feira 7 de outubro de 2015 | 14:54

Pesquisa da Datafolha, divulgada ontem no site da Folha, diz que para 50% dos brasileiros concordam com a frase: “bandido bom é bandido morto”, frente a 45% que discordam. Com a margem de erro de 3%, o estudo tem um empate técnico entre os que concordam e os que discordam. Em um país marcado pela desigualdade social, pelo racismo, machismo e homofobia, aonde a palavra da ordem é a impunidade, de qual bandido estamos falando?Na pesquisa, feita com cerca de 1.300 pessoas em 84 cidades com mais de 100 mil habitantes, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o caráter conservador da sociedade fica mais evidente. Dentre o público jovem, entre 16 e 24 anos 53% discordam e 42% concordam com a pesquisa, enquanto no público mais velho, acima dos 60 anos, 65% concordam frente apenas 30% que discordam da afirmação.

Um dado que se destaca na pesquisa é o recorte étnico, onde a maioria dos entrevistados brancos diz ter acordo com a afirmação, em contra ponto dos entrevistados negros a maioria se coloca contra essa afirmação e não por coincidência são os jovens negros as principais vitimas de violência policial. Em quanto que os crimes cometidos por não negros tratados com menor gravidade independente do crime cometido.

Porque a sociedade não cobra com o mesmo rigor crimes cometidos por policiais ou abusos de poder, cotidiano na corporação, um exemplo disto é o surgimento de grupos de vigilantes no Rio de Janeiro, que atuam contra os jovens e negros das periferias cariocas que tentam chegar as praias utilizadas pela classe média alta mostra outra face desta premissa, na qual o bandido que deve ser morto está dentro de um estereótipo bastante conhecido: jovem, negro e pobre, na busca implacável pelo “suspeito padrão”. Em afirmação Martim Sampaio diz que "Como a sociedade não vê uma saída concreta para a violência, ela passa a achar que o único jeito de acabar com ela é por meio do extermínio físico do criminoso, tendo como seu agente a polícia", sendo assim conivente com atitudes criminosas ou indo contra a regra que todos, independente do crime, tem chance de se defender antes de ser condenado.
Esta pesquisa destaca esta relação entre o conservadorismo crescente na sociedade e a ausência de politicas públicas que escancarem a questão da criminalidade e da violência, não como questões individuais mas como reflexo da política de estado a que estamos submetidos hoje, na qual a impunidade impera para os políticos e aqueles que possuem “permissão para matar” (sejam eles policiais fardados, integrantes de grupos de extermínio ou vigilantes), mas a mão de ferro do estado pressiona o gatilho contra a parcela pobre da sociedade, em sua maioria negra, que sofre com a retirada de direitos, com o desemprego, com a violência policial e com a falta de perspectiva.

Para o coronel Álvaro Camilo, ex-comandante da PM de SP e deputado estadual pelo PSD, o policial que se desvia dos ensinamentos da corporação está contaminado pelo sentimento de impunidade e que isto acaba permitindo que a policia aja sem ser punida por suas ações. "A sensação de impunidade é tão grande que leva o povo a querer que a Justiça seja feita de imediato. O policial age assim, não pela vontade da população, mas pela impunidade que reina", afirma. Não é levado em consideração quais seriam os crimes que esses tais bandidos teriam cometidos, mas sim o quanto a sociedade teme esta sensação de impotência perante a criminalidade, mas sem questionar os crimes cometidos por políticos, grandes empresários e pela própria policia, como os casos de corrupção e formação de cartel do metrô de São Paulo, comanda pelo PSDB de Geraldo Alckmin ou as chacinas que ocorreram este ano em Osasco ou na sede da torcida organizada Pavilhão 9.
A sociedade precisa ter consciência de que a própria policia, junto com o estado e a burguesia, criam as situações que encurralam muitos jovens para a criminalidade e que devemos pensar em como tratar a causa destes problemas, e não seus efeitos imediatos. Punições exemplares aos corruptos, extinção dos grupos de extermínio e de vigilantes, além de uma nova política de reabilitação social (que em nada se pareça com esta medida atual) podem ser o início dessas mudanças.




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