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Povos Indígenas | Após denunciar invasões de Terra Indígena na ONU e ser ameaçado por fazendeiros, Tymbek Arara é encontrado morto

Tymbektodem Arara discursou na ONU denunciando a votação do Marco Temporal e a invasão da Terra Indígena Cachoeira Seca, no Pará, onde vive o povo de etnia Arara. Ainda no evento recebeu áudios com ameaças de fazendeiros locais, e 16 dias depois foi encontrado morto em um rio.

quarta-feira 1º de novembro de 2023 | Edição do dia

Tymbek Arara durante viagem à ONU - Foto: Reprodução

Tymbektodem Arara discursou na ONU em 28 de setembro denunciando a votação do Marco Temporal e a invasão da Terra Indígena Cachoeira Seca, onde vive o povo de etnia Arara, a 250km de Altamira, no Pará. Tymbek, como é conhecido, recebeu áudios com ameaças de fazendeiros locais. Em 14 de outubro, 16 dias depois, foi encontrado morto em um rio.

Uma pessoa que acompanhou Tymbek no Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra, na Suíça, relatou ao G1 que ele e o cacique dos Arara receberam áudios de fazendeiros locais na ocasião: “Tanto ele quanto o cacique receberam áudios, nenhum dizendo ’Vou te matar’, mas ’Ah, você está aí? Que bom que está defendendo sua terra’. ’Vocês não têm medo?’, ’O que estão fazendo aí?’ E eles ficavam dando perdido, dizendo que era para apresentar a cultura Arara.".

Ao voltar para o Brasil, Tymbek foi escoltado até a aldeia pela Força Nacional por receio de perseguição que sempre acomete as lideranças indígenas. Dois dias depois dos agentes irem embora, foi encontrado morto. A Polícia Federal do Pará, que faz a investigação, não quis comentar nada. Lamentamos profundamente a perda de Tymbek Arara e exigimos investigação independente de sua morte.

Tymbektodem Arara era professor, presidente da associação Kowit, linguista e representante dos Arara, etnia de contato recente com não-indígenas. Tymbek denunciava as invasões e era veementemente contra a votação do Marco Temporal, que afeta diretamente a terra de seu povo cuja demarcação ocorreu 30 anos depois do contato com os não-indígenas, em 2016.

A terra em que vivem os Arara é alvo de intenso desmatamento ilegal e predatório. Segundo dados do Inpe, foram desmatados 697 km² de floresta na TI Cachoeira Seca entre 2007 e 2022. Tymbek denunciou em seu discurso a convivência do povo Arara com cerca de 2 mil invasores na região, consequência da instalação da hidrelétrica Belo Monte, inaugurada em 2016 por Dilma Roussef (PT). A hidrelétrica, além de vários outros danos ambientais e a diferentes povos indígenas, mantém a permanência de não-indígenas na TI dos Arara.

Os vetos parciais que Lula fez ao Marco Temporal são resultado de anos de luta e resistência do movimento indígena, e mesmo que mantidos, mantém abertas as porteiras da boiada para exploração das Terras Indígenas. No dia 9 de novembro será a votação no Congresso Nacional dos vetos do presidente, mas enquanto isso, lideranças como Tymbek continuam a ser perseguidas pela base reacionária das casas que avançam contra seus direitos e estão diretamente incorporadas no governo.

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