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Tribuna aberta | A onda de manifestações na Rússia contra a guerra

Por Yuri Colombo, correspondente em Moscou, para a rede internacional La Izquierda Diario.
Compartilhamos esta crônica que ajuda a compreender alguns dos acontecimentos em desenvolvimento na Rússia, para conhecimento de nossos leitores. O Esquerda Diário compartilha publicações na seção de tribuna aberta, mesmo que não expressem, necessariamente, nossa opinião editorial, que parte de rechaçar tanto a invasão russa como a ingerência imperialista da OTAN.

quinta-feira 3 de março de 2022 | Edição do dia

As mobilizações que percorreram a Rússia nos últimos dias, diante da invasão na Ucrânia ordenada por Vladimir Putin, podem fazer tremer um regime corrupto, impopular e militarista em seus alicerces.

Desde 24 de fevereiro, quando o presidente russo deu a ordem para iniciar a guerra, os protestos começaram. O primeiro sinal de redenção chegou de Irkutsk - após meses de retração da oposição, depois da repressão às manifestações contra a detenção de Navalny no último mês de janeiro. A cidade siberiana, enquanto ainda era dia em Moscou, se mobilizou massivamente para dizer um firme “não” à guerra. Logo chegou a vez de Novosibirsk, Ekaterinenburg, Perm e, finalmente, as cidades da Rússia europeia.

Em São Petersburgo, mais de 10 mil pessoas se concentraram na Nevsky Prospekt [principal avenida da cidade], próximo às grandes lojas de Gostiny Dvor, sob os gritos de “Rússia livre sem Putin” e “Não à guerra!”. A polícia lamentavelmente bloqueou a marcha dos manifestantes.

Em Moscou, por sua vez, alguns milhares de manifestantes se reuniram na tradicional praça Puskin e conseguiram inclusive formar um bloco que marchou pela rua central Tverkaya. Mais de 2.800 pessoas foram detidas durante estas manifestações, como documentou com a precisão de costume o site anti repressivo Ovd-Info. Lamentavelmente, várias dezenas de detidos terão de cumprir uma pena de prisão administrativa ou até mesmo passar por julgamento penal. Nos dias seguintes, se repetiram por todo o país atos e protestos mais ou menos espontâneos.

O fim de Putin começou. Agora temos que evitar uma grande agonia do país”, afirma Boris Kagarlitsky, cientista político e sociólogo socialista, antes perseguido pelo regime de Brezhnev e agora à frente das mobilizações.

Estas manifestações têm inevitavelmente um caráter misto, no qual, junto aos apoiadores “liberais” de Navalny (que ainda cultivam ilusões sobre as qualidades milagrosas do mercado ou das democracias ocidentais), saem às ruas setores pacifistas tradicionais, assim como muitos jovens cansados de um regime no qual reinam o autoritarismo e o conformismo.

No entanto, as forças da esquerda alternativa e de inspiração marxista revolucionária também estão em movimento. Como o Movimento Socialista Russo, que pede “a unidade de todas as forças que se opõem à guerra, e a substituição do regime oligárquico autoritário de Putin por um governo democrático que expresse os interesses do povo trabalhador”. Outro grupo de orientação revolucionária, o Revolutionary Workers’ Party [em inglês], também está levando adiante uma ampla campanha de agitação nos últimos dias. “Não apenas pedimos ‘não à guerra’”, diz um dos panfletos distribuídos durante os atos, “pedimos, em primeiro lugar, solução aos problemas imediatos de nossas empresas (aumento e reajuste dos salários etc); em segundo lugar, a nacionalização das fábricas (e de todas as grandes propriedades da burguesia) e o estabelecimento do controle operário; exigimos impostos progressivos, a supressão da reforma da previdência, o fim da ‘optimização’ dos medicamentos, a eliminação de todas as restrições a assembleias públicas, e uma ampla democratização do sistema político. Ao mesmo tempo, necessitamos de uma organização capaz de unir as forças de milhões de trabalhadores. O Partido Comunista da Federação Russa poderia ter se tornado esta força, mas sua direção se voltou contra seu próprio povo, contra o povo da Ucrânia, contra seus próprios membros, que a cada vez publicam mais declarações contra a guerra”.

No partido comunista do ultranacionalista Zjuganov, a esta altura de fato se multiplicam as provocações e rupturas, após a demissão de Viktor Kamenshchikov, deputado comunista de Vladivostok, que alegou que “ser contrário à guerra é uma questão de princípios”.

Outros deputados comunistas de distintos níveis, assim como muitos militantes, se pronunciaram contra a linha pró-imperialista da direção, a exemplo de Oleg Smolin e Mikhail Matveev, também deputados da Duma. Na noite do último domingo, durante uma assembleia de organizações sindicais e da esquerda, organizada pelo deputado da Duma de Moscou, Oleg Stupin, foi aprovada uma resolução antibélica e a construção de um abaixo-assinado. Quanto mais a crise econômica golpear o país em meio à aventura de Putin, mais crescerá inevitavelmente a demanda por uma solução anticapitalista e de esquerda.

Veja também - Declaração da Fração Trotskista pela Quarta Internacional (FT-QI): Não à guerra! Fora as tropas russas da Ucrânia! Fora OTAN da Europa Oriental! Não ao rearmamento imperialista! Pela unidade da classe trabalhadora internacional! Por uma política independente na Ucrânia para enfrentar a ocupação russa e a dominação imperialista!




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