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ELEIÇÕES 2016
Derrota histórica do PT nas eleições: precisamos falar da conciliação de classes
Leandro Lanfredi
Rio de Janeiro | @leandrolanfrdi

A importante derrota sofrida pelo PT nas eleições de domingo impõe, novamente, um debate entre os que se reivindicam de esquerda no nosso país. A derrota eleitoral do PT abriu caminho a um fortalecimento tucano. Esse caminho passa por votos que foram transferidos do PT para a direita, para o voto nulo, para a abstenção eleitoral e também, em menor medida que as anteriores, para o PSOL.

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Para que a crise do PT não seja capitalizada ainda mais pela direita é urgente debater a lógica do mal menor que empurra muitos ativistas a “de última hora”, sempre correr aos braços de um partido sempre aberto à conciliação com a direita e com os empresários. Não superar essa lógica e a estratégia de conciliação de classes nos leva, dia atrás dia, a essa derrota sentida mais fortemente por aqueles que apostaram suas fichas, e parte de suas esperanças e tempo, no partido de Lula e Dilma.

Um dos melhores resultados da esquerda no país, não veio das mãos do PT, mas do PSOL no Rio. Esse dado em si coloca a questão para debater, que esquerda é necessário construir, que lições tirar dos últimos processos políticos do país. Antes de entrar nesse debate faremos breve exame desta categórica derrota eleitoral.

Uma imensa perda de prefeituras e vereadores, mais intensa nos grandes centros

O PT pós-ajustes de Dilma, que aumentou muito os ataques aos direitos dos trabalhadores já vivenciados em administrações prévias do PT, e pós Lava Jato, com sua arbitrariedade e midiatização colocou nos holofotes que o PT havia assumido todas as práticas corruptas de todos outros partidos políticos do país, saiu muito menor do que era em décadas.

Desde 1992 sempre havia disputado ao menos o segundo turno em São Paulo, nem isso seu candidato a reeleição conseguiu. A derrota na capital paulista foi seguida do mesmo resultado no bastião histórico de São Bernardo e país à fora, isso onde o PT se apresentou. Em muitos lugares seus antigos prefeitos debandaram a partidos golpistas tentando se cacifar. Em lugares com êxito, como em João Pessoa, em outros sem sucesso como Marta Suplicy em SP. O PT entrou nas eleições, já muito menor que em 2012, e saiu menor ainda.

Em 2012, havia se apresentado em 1759 municípios, este ano deu suas caras em 989. Naquele pleito tinha conquistado 650 prefeituras, esse ano foram 256. Do terceiro partido com mais prefeituras caiu para o décimo lugar. Em muitos lugares optou por colocar candidaturas do PCdoB no seu lugar, mas mesmo o crescimento deste partido aliado do PT esteve muito aquém da queda do primeiro. O PCdoB subiu de 51 para 80 prefeituras, um acréscimo de 29, quando a queda do PT é de quase 400 municípios.

Este quadro tem desigualdade regionais, mas é nacional. Até mesmo no nordeste, “bastião” do lulismo, onde cientistas políticos imaginavam que o fenômeno perduraria décadas, se esvaiu no ar. Elegeu 114 prefeitos frente a 183 quatro anos antes. Mesmo em estados que governa como a Bahia e o Ceará viu seu resultado esvaziar-se.

Olhando o restante do país a queda foi mais aguda. 85% menos prefeitos no centro-oeste, seguido por uma queda de 75% no Sudeste, 70% no Norte e 56% no sul do país.

Nas capitais e cidades com mais de 200mil eleitores, só elegeu em Rio Branco, capital do Acre, passando ao segundo turno em outras sete, sendo em algumas delas, como Recife, com escassa chance de vitória. Para quem governava várias, entre elas a gigantesca São Paulo, é quase como se tivesse sido varrido do mapa.

Para vereadores pode-se constatar o mesmo movimento. No país passou de 5067 vereadores para 2795. Nas capitais, quase sem exceção, encolheu suas bancadas.

Em São Paulo, mesmo com a grande votação de Suplicy encolheu um posto, no Rio perdeu dois, ou 50%, em Porto Alegre perdeu um, ficando com quatro.
Estas perdas foram só parcialmente compensadas por crescimento do PSOL que aumentou dois no Rio, um em São Paulo, e mais um em Porto Alegre. Seus aliados do PcdoB também encolheram nestas capitais.

Olhando o conjunto destas capitais e cidades com mais de 200mil eleitores o PT encolheu de 261 vereadores para 163.

Ou seja, o PT não morreu, ainda é o maior partido entre aqueles que os brasileiros enxergam como de esquerda, tem ainda um líder carismático como Lula, mas sobrevive cada vez menor nos grandes centros urbanos.

Tirar lições das derrotas

Milhares tomaram seu tempo, dedicaram corpo e mente em tentar colocar Haddad e outros petistas ou membros do PcdoB nos segundos turnos de suas cidades.

Muitos fizeram isso pensando que esta seria uma maneira de combater o golpe institucional ou porque vem o PT como “mal menor”. Claro que também há aqueles que douram a pílula e “pulam” os pequenos fatos que levaram o PT a seu pior resultado eleitoral em décadas. Pulam os ataques aos direitos dos trabalhadores, as privatizações de aeroportos e leilões de campos de petróleo, pulam que Feliciano e outros reacionários foram galgados a suas posições em acordo com o PT.

Aos que pulam esses “pequenos fatos” não existe lição a tirar, estão fadados a procurar salvadores cada vez mais a direita, como a lógica do mal menor sempre impele, pois sempre há um mal maior, e nesta lógica nunca se impõe como prioridade, como necessidade expressar a independência política da classe trabalhadora. De Lula passarão a Ciro Gomes, deste a não se sabe quem. Dialogamos com a outra parte, digamos de "olhos mais abertos" dos votantes do PT.

Para nós uma parte importante desta derrota consiste na tentativa de conciliar os interesses dos trabalhadores com os empresários e com a direita. Lula sempre advogou isso, “todos devem ganhar”. Esta “educação” formou gerações a acreditar que a direita era aliada, a tomar para si crenças de que “todos podem ganhar”. A tratar inimigos de amigos. Quem não se lembra da foto de Haddad com Maluf e Lula em 2012? Mas isso não é possível, cedo ou tarde os supostos aliados circunstanciais se voltam contra. A batalha contra a direita e os empresários se impõe. Queiramos ou não. O PT abjurou a luta de classes. A FIESP e outros parceiros de golpe institucional, reeducam quem quiser aprender.

A grande mídia interpreta os resultados eleitorais deste domingo chamando Temer a avançar rápido com os ajustes. A elite percebe a confusão nos “de baixo” que ainda tentam tirar lições da derrota do PT e como milhões ainda confiam no PT ou na estratégia advogada por Lula. É preciso avançar já clamam os portadores dos chicotes. Oferecermos a eles nossas costas?

De nosso lado é preciso organizar uma verdadeira luta contra os ajustes. Para isso é preciso tirar lições de como o PT abriu caminho à direita em seus governos, e numa resistência ao golpe “sem incendiar o país” como disse Lula.

No Rio, ergue-se um ponto fora desta curva derrotada do PT. Mais de quinhentas mil pessoas votaram e milhares militaram por uma candidatura de esquerda. Identificam em Freixo uma forma de se enfrentar com a direita e com o PMDB. No entanto, Freixo ao não desenvolver um programa anticapitalista e se propor a “governar para todos”, repete a conciliação de classes do lulismo e petismo e deste modo não contribui para a organização de uma verdadeira “resistência” dos trabalhadores e da juventude aos ataques de Temer e dos empresários. Para realmente se enfrentar com a direita golpista, com os empresários e conseguir que essa militância carioca seja um ponto de apoio para a luta contra os ataques do governo golpista é preciso tirar lições do PT e criar algo que o PT sempre foi contrário, uma força anticapitalista e revolucionária. O Esquerda Diário e Carolina Cacau, colunista do diário e que foi candidata a vereadora do MRT pelo PSOL nesta cidade, caminhamos juntos deste movimento propondo que os ativistas tirem lições do PT e ergamos junto um programa anticapitalista e revolucionário para o Rio de Janeiro que seja uma alavanca para lutar não somente nesta cidade, mas um ponto de apoio para a esquerda em todo país.

Essas são algumas das questões, colocadas aqui inicialmente, que a experiência recente impõe que debatamos.

 
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