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MTG
O reacionário Movimento Tradicionalista Gaúcho e suas raízes militares
Fabricio Pena

O Movimento Tradicionalista gaúcho, o MTG, tem sua data de fundação incerta na história. São pelo menos 5 datas apontadas pelos próprio movimento, porém, o processo de gestação desta entidade passa desde a fundação do Grêmio Gaúcho em 1889 até a constituição do Conselho Coordenador, em 1959, sempre ligado aos militares tendo um acenso superior durante a Ditadura.

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O fundador do Grêmio Gaúcho foi João Cezimbra Jacques, militar brasileiro, participou da guerra do Paraguai, também fundador do Partido Republicano Riograndense (PRR), junto a Assis Brasil e Julio de Castilhos, entre outros. Reconhecido positivista, inspirou-se no estudo de seus comparsas, Julio de Castilhos e Assis Brasil, que em São Paulo fundaram um “Clube 20 de Setembro”, para promover estudos e publicações sobre o movimento farroupilha da primeira parte do século 19. Em Porto Alegre funda o Grêmio Gaúcho no intuito de atrair as classes médias urbanas e o campesinato em torno de seu partido. Porém, o mesmo não tem grande repercusão, tanto dos positivistas quanto dos liberais da época.

As ideias defendidas nesses estudos giravam em torno do comportamento do estancieiro do sul durante a revolta farroupilha entre 1835 e 1845, buscando promover os costumes desses donos de terras, de modo a difundir na sociedade gaúcha o modo de agir e pensar da época passada.

Porém tais ideias só foram ganhar peso de fato depois de Segunda Guerra, com o chamado Grupo dos Oito, formado na escola Julio de Castilho em Porto Alegre. Onde jovens liderados por João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes, conhecido por Paixão Cortes, ressuscitaram as ideias levantas por Julio de Castilhos e Assis Brasil. Contando com nomes como o poeta Barbosa Lessa, o Coronel da Brigada Helio Moro Mariante e um dos diretores do Diário Popular (Pelotas) Guilherme Schultz Filho. Com vários nomes ligados diretamente as instituições de repressão do estado, o MTG nasce com ideologia semelhante.

Paixão Cortes passa a ser o grande nome do "tradicionalismo gaúcho". Após a noite em que o Grupo dos Oito montou guarda para receber os restos mortais de David Canabarro, trotearam em direção à Praça da Alfândega para saudar a chegada do que chamavam de herói. Cantaram o hino riograndense para homenagiar o traição de Canabarro com os Lanceiros Negro no massacre de Porongos, como bem foi falado aqui.

O MTG lança em julho de 1961 sua “carta de princípios”, fixando os objetivos do movimento. Recheda de mensões aos farrapos, a supervalização da cultura dos donos de terras, escrevem no artigo “II - Cultuar e difundir nossa História, nossa formação social, nosso folclore, enfim, nossa Tradição, como substância basilar da nacionalidade”, de modo a passar uma versão da história que nada fala sobre o povo negro escravizado e assassinado em Porongos, ou mesmo, da eliminação dos povos originários dessa terra pelos colonizadores espanhois e portugueses.

Para contextualizar o surgimento do MTG como movimento cultural, podemos nos atentar a outro artigo da carta, o artigo “XXIV - Lutar para que seja instituído, oficialmente, o Dia do Gaúcho, em paridade de condições com o Dia do Colono e outros "Dias" respeitados publicamente”. Até então não existente como data comemorativa, foi instituido em dezembro de 1964, no mesmo ano do golpe militar que derrubou o governo João Goulart. Ganham apoio direto dos militares e o MTG é fundado definitivamente em 1967. É reconhecido por ser uma das únicas “representações” com origem sociedade civil a participar de desfiles ao lado dos militares durante a ditadura.

Organizando os CTG’s (centro de tradições gaúchas), com cerca de 1500 centros concentrados principalmente no RS, hoje atingem não apenas o “homem do campo”, mas também o proletariado fabril da cidade. É comum ver em bairros periféricos um CTG onde muitas crianças passam grande parte de suas vidas, onde ocorrem bailes e rodeios que movimentam toda a região. Porém, a relação com o militarismo estampa diretamente as regras tabuladas pela entidade, onde a vestimenta tem inúmeras páginas de regras a serem seguidas, desde o tamanho do lenço em torno do pescoço ao tipo de bota que se pode usar. Ademais, nas danças oficiais, as mulheres cumprem um papel secundário, onde os homens aparecem como os “guerreiros” do sapateado, fortes e ágeis, como parte dessa cultura machista e patriarcal.

O MTG como herança cultural da ditadura militar se relaciona a outra parte da ditadura que herdamos, a do chão de fábrica. Os padrões exigidos do gaúcho “bombachudo”, com uniforme perfeitamente alinhado, onde qualquer delize é motivo para sansão, na indústria, a peonada sofre de mal semelhante, porém, envolvendo seu ganha pão. A perseguissão a qualquer atividade sindical é promovida pela mesma ideologia dominante do MTG, que tem caráter policialesco e ataca setores oprimidos históricamente.

Este movimento reacionário sempre foi dirigido pelas elites, porém, encontraram lugar na carência de espaços culturais nas cidades e no campo. Tendo o apoio da mídia golpista RBS, filiada da Rede Golpe, promovem como se fosse a única versão da história, conseguindo um alcance ainda maior, com respaldo em vários lugares fora do RS. Porém, ao recorrermos a história dessa instituição e os períodos que a fundaram, podemos ver que a humanidade é muito mais poderosa do que os seguidores de Canabarro contam. Histórias como a dos Lanceiros Negros devem sempre ser lembradas nesse dia, pois ali reside o fragmento humano que querem tanto arrancar de nós trabalhadores.

 
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