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MIDIA E LAVA JATO
O dia em que a mídia se dividiu: como defender o golpe só pela “convicção”?
Isabel Inês
São Paulo

A Folha, O Estado, O Globo e até mesmo Reinaldo Azevedo da Veja trataram de formas distintas as denúncias feitas pela Lava Jato ontem. Tão unificada para o golpe institucional, as diferentes frações do "partido midiático" mostram diferenças políticas nessa nova ofensiva pós-impeachment.

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Um “estranho” descompasso apareceu nos editoriais e opiniões das principais mídias nacionais hoje, para uns as denúncias a Lula feitas pelo do procurador-chefe da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol abrem um espaço político para o PT, para outros atestam sua derrota, outras visões mais mediadas buscam aconselhar o Judiciário, que sem provas e só com convicção e slides (que viraram piada) não é tão fácil de convencer a população.

A questão é que o recente fato parece ter aberto alguns rachas no “partido midiático”, que até agora tem sido peça ativa da consolidação do golpe institucional, mas assim como o judiciário e os parlamentares, não está isento de alas e lutas políticas, entre aqueles que defendem o “golpe até o fim”, e o outro que busca uma nova forma de pacto nacional isolando Dilma, e resguardando Lula.

O Jornal O Globo, através de seu colunista Merval Pereira pesou na escrita completamente acríticos ao Judiciário, fizeram coro a “convicção” de Dallangnol e dos acusadores onde o mais importante do “que as denúncias pontuais feitas ontem ao ex-presidente Lula pela Operação Lava Jato, é a caracterização dele como "o comandante máximo do esquema de corrupção da Petrobras" ou “o verdadeiro maestro dessa orquestra criminosa". Ou seja, essa caracterização feita pelo judiciário é a forma de colocar o centro do mensalão ao petrolão no Lula e assim a partir de medidas arbitrarias, e muitas vezes sem provas claras, seguir adiante intenções políticas, das quais ainda não estão totalmente claras, mas que buscam impedir que Lula tenha forças para as eleições de 2018, e abrir uma situação nacional mais à direita que imponha os ataques e ajustes contra os trabalhadores, diminuindo a resistência daqueles que ainda confiam no PT apesar de tantos ajustes que seus governos já iniciaram.

Ao mesmo tempo que colocar todos os grandes esquemas de corrupção na história recente do Brasil nas mão do PT, um único partido, cumpre o papel de tentar limpar parte do regime, uma vez que desde 2013 se abriu uma profunda crise de representatividade com os principais partidos sustentáculos do regime, representada na decadência do PT, o impeachment e os processos do judiciário são a tentativa de responder à direita essa crise, e impor a reforma da previdência e trabalhista e toda uma agenda de ataques que estão sendo implementadas pelo governo Temer, uma vez livres do PT no governo que já executava esses ataques mas tinha contradições com suas bases sindicais, agora buscam um terreno “limpo”.

Enquanto a Lava Jato segue colocando-se como combatente da corrupção salvando os principais partidos da direita, Serra, Alckmin e até Dória estão citados em delações, mas que nunca seguem adiante, tal como nunca são investigadas as empresas imperialistas também citadas na operação.

Esses fatos arbitrários e a ligação com o golpe institucional colocaram um início de questionamento ao Judiciário, instituição ainda pouco abalada pela crise do regime, dessa forma o editorialista do Globo desenvolve ainda suas tentativas de dar mais bases de argumento aos acusadores. Reivindicando a ligação do mensalão com o petrólão, reclamam para si a correção de um suposto atraso de 10 anos da justiça, e desenvolvem as “provas” dos crimes, desde palestras super-faturadas, “o lobby a favor de empreiteiras em países amigos, e pelo sítio em Atibaia que também teve outra empreiteira, a Odebrecht, a fazer reformas e melhorias”.

Essas denúncias poderão ser reforçadas pelas delações premiadas de Leo Pinheiro, da OAS, e Marcelo Odebrecht. E ainda há a obstrução de justiça para evitar a delação de Nestor Cerveró.

Um artigo que inicia dizendo como o centro não são as denúncias, mas sim terem “descoberto” o Lula como chefe de toda a corrupção, e depois dedica longos parágrafos para elencar cada uma das denúncias, prova por si mesmo a necessidade de dialogar com o desgaste da “convicção sem provas” e tentar criar uma massa crítica que aceite os mandos e desmandos do judiciário e indicando uma possível condenação do Lula em pouco tempo, além abusar do sensacionalismo chamando o PT de “um grupo político criminoso que tomou de assalto as instituições do país”. Palavras que tendenciosamente não são referidas para figuras como Maluf, Cunha, Aécio e outras principais figuras envolvidas também com a corrupção. Essa linha golpista “até o fim” chama a um golpe “letal” contra o PT.

A Folha, por sua vez, busca um caminho mais mediado, não menos golpista, mas mais conselheiro de um possível abuso da correlação de forças pelo judiciário. Ao mesmo tempo que tatea um terreno ainda pouco claro, o próprio Judiciário parece estar testando a correlação de força com essa medida, mesmo com os intentos prisionais do principal colunista d’O Globo, esse objetivo ainda não está na ponta do nariz, o fato de que pela primeira vez os procuradores da República de Curitiba não atuaram juntos, principalmente sem o juiz Sergio Moro, mostra que esse processo ainda pode levar um tempo, e que tem mais objetivos, do quea prisão de Lula.

No primeiro plano essa ofensiva dos procuradores de Curitiba conseguiu desviar o foco dos grandes ataques orquestrados pelo governo Temer que estavam marcando a conjuntura com desgaste e politização em torno dos ajustes somado a greve de bancários que segue. Assim essa medida foi uma forma de colocar novamente o judiciário na ofensiva, pautando a conjuntura. No segundo plano, abrir um novo flanco de batalha para o petismo que vinha se fortalecendo com a pauta (favorável a um novo acordo que colocasse um ajustador ungido pela urnas) “diretas já”, desde o ato dos 100 mil na paulista no domingo e ainda debilitar eleitoralmente o petismo.

Esses objetivos do momento não colocam a hegemonia de nenhuma ala, apenas isola a que defende o petismo, nesse sentindo o Jornal Folha de São Paulo, assume seu posto de conselheiro mediador, concordando com o enfraquecimento do PT a partir dessa medida, aponta a contradição aparente a todos, além da óbvia falta de provas, o fato de que as quantias apontadas nos atos corruptos de Lula (corrupção passiva de 87,6 milhões do Triplex e armazenamento de bens pela OAS de 3,7 milhões) parecem baixas para o posto de “comandante máximo de corrupção”, “num esquema descrito com tantas hipérboles, a parte do “comandante máximo” se resuma a valores inferiores aos obtidos por figuras sem expressão política”.

O próprio Cunha foi requisitado em julho que devolvesse aos cofres públicos 300 milhões, contudo, em mais um capítulo da arbitrariedade hipócrita do judiciário, após o afastamento e cassação do parlamentar, o caso parece estar sendo silenciado, inclusive foi negada a prisão do mesmo.

Frente as tão aparentes jogadas políticas, de uma justiça nada inparcial, a Folha no seu intento conciliatório coloca o problema e o conselho subentendido: “a ninguém escapa afinal que Lula era chefe político, daí a ser o chefe criminoso há uma distância que precisa ser superada com provas”, é claro que se trata de uma perseguição política, mas provem os fatos para evitar desgastar com o judiciário, diz a Folha nas entrelinhas.

O Estado de São Paulo, por sua vez, apesar do seu perfil golpista, optou também pela sutil contradição, diferente da Folha não foi apontando para o judiciário, mas para o próprio Lula, que mesmo sendo acusado de corrupção e chamando o impeachment de golpe, foi a solene posse da ministra Cármen Lúcia no STF. A contradição do Lula que prestigiou a instituição que persegue, para o Estadão é para provar que o discurso de “golpe” é falso. Para a esquerda e os trabalhadores é mais uma mostra do atrelamento do PT ao regime, e como este nunca esteve disposto a luta ou crítico ao judiciário repressivo e portanto a um dos atores fundamentais do golpe.

Essa distinção dos editoriais é resposta a esta nova medida do judiciário, Reinaldo de Azevedo na revista Veja deu uma guinada para o outro lado, apontando a possibilidade do “tiro ter saído pela culatra” e a medida fortalecer o PT, “Se alguém quer saber a medida do acerto ou do erro da coletiva liderada por Deltan Dallagnol, então fique com esta: a cúpula do PT vibrou com o acontecido” continua “A avaliação quase unânime é que Dallagnol se perdeu, encantado com a própria retórica. O que se avalia é que o MPF terá de se dedicar ao esforço defensivo de demonstrar que nada tem contra Lula”.

Não é possível saber ainda se de fato o PT se fortalece, o certo é que terá que ir para defensiva para defender o Lula e se dividir entre as eleições e os ataques do judiciário. Da mesma forma que o judiciário apostou em uma ofensiva, preservando Moro inclusive, e após o golpe desenvolve o discurso que são juristas e não políticos – tendo também a nova presidente do STF como nova cara estabilizadora – o que é certo é que tanto o PT, como Temer e os tucanos que foram estranhamente “cautelosos” em seus comentários com as denúncias de ontem, como até mesmo o Judiciário, pisam em ovos. Todos procuram atacar os outros, sobreviver, se localizar, mas compactuam em algo, um medo de despertar o sujeito oculto, os trabalhadores e a juventude, em meio às eleições municipais mais politizadas e “nacionalizadas” e com maior recusa do tradicional.

 
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