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MÉXICO
O escândalo de Trump e a crise no governo de Peña Nieto
Pablo Oprinari

A crise no gabinete de Enrique Penã Nieto acelerou em questão de dias. O escândalo da tese plagiada foi eclipsado pelo caso de Trump. O “supersecretário” e sucessor do presidente teve que retirar-se.

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A crise no gabinete de Enrique Peña Nieto acelerou em questão de dias. O escândalo da tese plagiada foi eclipsado pelo caso de Trump. O que parecia um triunfo para Luis Videgaray – operador principal da controversa reunião entre o candidato republicano e o presidente mexicano -, que o posicionava como o sucessor indiscutível do EPN, converteu-se em seu contrário, em questão de dias.

As renúncias apresentadas por Claudia Ruiz e Miguel Angel Osorio Chong à suas respectivas secretárias – não aceitas por Peña Nieto – mostrava uma fissura importante no gabinete. Osorio era um dos nomes que circulavam pela cada vez mais improvável sucessão em Los Pinos. E parecia perder irremediavelmente a interna com o agora ex-secretário do Tesouro.

Entretanto, o mar de fundo era a indignação popular depois da visita-relâmpago de Trump. Embora não se expressem em mobilizações importantes, nas ruas sentiu-se. A náusea com o servilismo presidencial, que recebia como chefe de estado o xenófobo e racista candidato republicano.

O pior estava por vir. Longe de acalmar as águas, Trump voltou à carga e acusou o governo mexicano de “violar as regras do jogo”. Hillary tirou do governo nacional a última esperança de recompor a situação: apresentar convites a ambos os candidatos como parte de uma habitual regra diplomática.

Luis Videgaray tinha as horas contadas. Seu capital político acabou de desperdiçar-se ao calor de uma jogada arriscada e torpe, com a qual buscou afirmar seu papel como “homem forte” favorito do presidente. Embora relutante, decidiu sacrificar-se. A crise no governo tornou-se numa de suas principais cartas.

Videgaray, entre a economia e a diplomacia falida

A renúncia de Videgaray concentra de forma exemplar o desgaste crescente da administração de Peña Nieto. Se em seus primeiros anos despertava as honras da imprensa internacional pelas reformas estruturais e os encorajadores indicadores econômicos (o chamado “mexican moment”), a realidade mudou, e muito.

O último relatório de Merrill Lynch evidencia o mau desempenho da economia nacional: uma previsão da maior contração e um aumento da dívida pública, em um contexto internacional desfavorável iluminou os sinais de alarme.

O desprestígio do governo aumentou então por uma combinação de fatores. O baixo crescimento econômico, a desvalorização monetária e a piora das condições de vida dos trabalhadores e setores populares, são os mais importantes. Os escândalos de corrupção que sacudiram o governo federal e as consequências negativas da reunião com Donald Trump se transformaram em uma perigosa combinação que ameaça lançar mais abaixo dos 23% de popularidade da figura presidencial.

A renúncia de quem foi seu secretário de estado mais próximo, artífice das principais “conquistas” (como as reformas estruturais) é uma mostra da debilidade de Peña Nieto e a tentativa de acabar com a crise. Já que o panorama é potencialmente perigoso para a estabilidade política e econômica que reclamam as transnacionais.

Por isso, não é casual que as cúpulas empresariais saúdem como “oportuno” a mudança na Secretaria da Fazenda, sobre o que levantam que “deve-se aprofundar o caminho empreendido”. Inclusive Andrés Manuel Lopez Obrador afirmou que é “importante frear a queda de Peña”. Manter a governabilidade é um imperativo para a patronal e para os partidos políticos do Congresso, incluindo aqueles que se reivindicam opositores como Morena.

O fato é que a saída de Videgaray não implicará em mudança alguma na política econômica. José Antonio Meade tem o encargo de continuar com a “contenção do gasto público”, o qual, prenunciam, manterá a contração da atividade econômica. Trata-se de uma mudança que busca oxigenar o governo, e meio pela o qual Peña Nieto buscará restabelecer sua imagem, que ficou “minimizada” pelas disputas no gabinete e o protagonismo adquirido pelo ex-secretário da Fazenda.

Um sóbrio panorama eleitoral

Luis Videgaray aproveitara a derrota do 5 de junho passado para avançar frente a outros setores do PRI e do governo. Foi o articulador da chegada de Enrique Ochoa Reza à presidência do tricolor, depois da renúncia de Manlio Fabio Beltrones. Consolidara-se como o sucessor de Peña para 2018. Mas tudo isso mudou agora, e torna ainda mais complicado o panorama do PRI.

Aurélio Nuno e Miguel Osorio Chong são os outros integrantes do gabinete com supostas pretensões eleitorais. No caso do secretário da Educação, enfrentou a resistência docente mais importante dos últimos anos, que despertou um inédito apoio popular, o qual aprofunda sua imagem negativa. Osorio Chong, por sua vez, teria – segundo distintos analistas – mais possibilidades de tornar-se um “presidenciável”.

Mas para o PRI não se trata de uma tarefa fácil. O desprestígio governamental atrapalhará as ambições do partido para 2018. No meio disso está 2017 e as eleições no estado do México. Não se pode descartar que o declive de Peña Nieto e “os de Atlacomulco” os leve a perder inclusive seu próprio estado.

Com a saída de Videgaray, o governo tenta fechar a crise aberta. Buscará urgentemente recuperar a iniciativa política e evitar as disputas no partido, que podem se potencializar se a divisão das candidaturas não satisfizer aos principais grupos internos.

Nesse contexto, é urgente que os trabalhadores e os setores populares aproveitem a situação para mobilizarem-se de forma independente por suas demandas, contra o governo e as instituições desta “democracia dos ricos”.

 
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