www.esquerdadiario.com.br / Veja online / Newsletter
Esquerda Diário
Esquerda Diário
http://issuu.com/vanessa.vlmre/docs/edimpresso_4a500e2d212a56
Twitter Faceboock
MÚSICA
Morre Selma do Coco, aos 85 anos
Fernando Pardal

Nascida em 1929 em Vitória do Santo Antão, na zona da mata pernambucana, Selma do Coco só atingiu a fama e o reconhecimento por sua obra depois de 1996, após aparecer para o grande público com sua participação no festival Abril Pro Rock. Aos 85 anos, Selma morreu no último dia 9.

Ver online

Selma do Coco é dessas grandes artistas que passam a vida ocultas do grande público por não atender aos padrões da indústria musical. Levando uma vida de pobreza, Selma se mudou com dez anos de idade para o Recife com sua família. Trabalhou como vendedora de tapioca, levando a sua arte como uma paixão, organizando as rodas de coco em seu quintal nas horas vagas, e cantando para seus fregueses enquanto fazia suas tapiocas. Foi depois viver em Olinda, onde passou as últimas décadas de vida.

O coco, principal gênero cantado por Selma, é parte do riquíssimo repertório musical do Recife, um verdadeiro caldeirão cultural do país, onde a cultura popular prolifera em paralelo ao desenvolvimento da mesmice da indústria cultural focada no sudeste e na reprodução exaustiva das mesmas fórmulas consagradas de vendas dos grandes sucessos.

Selma e sua excelente produção musical poderiam ter passado incógnitos, como certamente ocorre com tantos grandes artistas sufocados pela impossibilidade de viver de sua arte, de divulga-la, de furar o cerco das restrições que a propriedade privada dos meios de produção impõe à produção artística. Quem ajudou a que Selma, nos anos 1990, furasse esse cerco e aparecesse ao grande público, foram os jovens do movimento Manguebeat, que, resgatando o patrimônio cultural do Recife e articulando ele com as guitarras e o som eletrônico, fizeram saltar à vista do mundo o tesouro musical escondido ali.

Foi assim que Selma chegou ao Abril Pro Rock e, daí, para o resto do mundo. Em 1997, o sucesso de Selma inspirou o documentarista Roberto Berliner a fazer uma das edições de seus documentários em curta-metragem, “O Som da Rua”, no qual Selma fala sobre a origem do Coco e mostra sua música em apenas dois minutos. Em 1998, finalmente Selma gravou seu primeiro disco: “Minha História”, composto em parceria com Zezinho e com o qual ganhou o Prêmio Sharp; e em 2004 saiu o segundo, “Jangadeiro”. O sucesso de Selma ultrapassou a fronteiras do Brasil, e Selma participou, em 2001, do famoso Festival de Jazz de Nova Orleans, além do Festival Lincoln Center, em Nova Iorque, e em diversos países, como Alemanha, França, Suíça, Portugal e Bélgica. Em 2008, Selma do Coco foi considerada Patrimônio Cultural Vivo de Pernambuco.

A internação de Selma no hospital se deu após uma queda dentro de sua casa, em que quebrou o fêmur. Complicações se desenvolveram após a internação, com uma infecção urinária. Por fim, Selma teve uma parada cardíaca, à qual não resistiu. Assim, encerrou-se a carreira paradoxalmente tão curta e tão longa de Selma. A marcante risada de Selma, “Há há!”, que atravessava seus cocos, é parte da história de uma música forte, viva e nossa, que continua lutando para se fazer ouvir. Ela se fez ouvir pelas ruas de Olinda durante seu cortejo fúnebre.

Veja aqui, breve reportagem sobre Selma no Diário de Pernambuco: https://www.youtube.com/watch?t=31&v=uPSSxn_fczY

 
Izquierda Diario
Redes sociais
/ esquerdadiario
@EsquerdaDiario
[email protected]
www.esquerdadiario.com.br / Avisos e notícias em seu e-mail clique aqui